6 | Macaque

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Macaque

Wukong some no terceiro mês de descontrole do seu aprendiz e quando decidi procurá-lo em sua ilha, fui barrado por um campo de força. Na época, achei bem infantil da parte dele, ao meu ver ele estava impedindo quem pode ajudar mas depois entendi que ele estava protegendo quem lá estivesse e, principalmente, uma discípula, sua última arma. E, bem, é do feitio do rei macaco fazer isso, tentar se virar sozinho não importa o que aconteça. Depois que MK enlouqueceu, todos diminuíram drasticamente o contato com o cara que sempre tem algo a esconder, sempre acaba exagerando na dose, apronta, erra bastante, brinca, o macaco que destruiu o céu. Ser intenso de um jeito que só Wukong pode ser, sempre faz estragos principalmente em quem está por perto. Como no caso do MK. Ele não estava pronto para receber tanto poder mas Wukong, de tão empolgado que estava, insistiu e agora a vida dos que possuem uma ligação com MK se resume em contê-lo o máximo possível todos os dias torcendo para profecias serem verdadeiras, darem certo.

Tarefa mais cansativa essa, conter um amigo sem sanidade.

Tivemos que nos revezar para cuidar dele.

Fiquei responsável por ele em um final de semana. As coisas saíram do controle, uma hora estava o prendendo bem com os meus Shadow Monkeys e, na hora seguinte, ele arrebenta a minha contenção mágica, me deixado estraçalhado, sem energia, chocado por completo... foi um dia cheio.

☆ ☆ ☆

MK, com muita frequência, se transforma em um inseto gigante, ao assumir essa forma, dessa vez, foi voando direto para a Montanha das Flores e Frutas, tenho a impressão de que ele quer destruir Wukong a todo momento, mas seus amigos vivem afirmando que, desde o início de seu descontrole, quer destruir tudo pela frente, sendo Wukong ou não.

Dez minutos depois de ser lançado contra três paredes, consegui me manter de pé e ir para a ilha antes do monstro. Por sorte, encontrei Wukong em frente a Caverna da Cortina de Água.

- Wukong! MK está vindo para cá!

Vejo a cor esvair de sua face. Oh sim! É muito revigorante o ver tão desesperado por causa de um erro que ele, o Grande Sábio Igual ao Paraíso, fez questão de cometer.

- Como deixou ele chegar aqui?!

- Ele fica mais forte a cada dia.

- Droga. Me espere no cais Pessegueiro, vou lá em um instante.

- Não demore muito ou ele vai varrer a ilha.

- Sei disso.

Ao sair, ainda consigo ver a escolhida de relance, pelo semblante radiante dela, Wukong não deve ter falado nada da loucura que fez. Tenho certeza que se ela soubesse ao menos metade da história, estaria com cara de enterro. Tenho a impressão de que ela não me viu. Isso é muito bom. Vou salvá-la da inocência em que se encontra em breve. Alguém como ela não pode lutar se nem sabe onde fica o ringue ou se nem conhece seu oponente. É loucura, pura insensatez típica daquele macaco.

O espero no cais Pessegueiro, de onde posso ver enormes patas semelhantes a de baratas, emergindo do mar. Ele chegou. Seu rugido causa um terremoto, o cais acaba sendo destruído assim que ele lança uma de suas pinças em minha direção. Ainda bem que consigo me esquivar a tempo. Wukong aparece já me ditando ordens... grrr.

- Chame a Mei, tenho um plano para reforçar a segurança da ilha.

- Tem certeza que diminuindo nosso batalhão vai vencer essa coisa?

Ao lutarmos contra o monstro, discutimos.

- O quê? - exprime, com certeza, doído por ter sido contrariado - não vou estar diminuindo nada.

- Mas vai estar nos dividindo, isso vai nos enfraquecer.

- Ainda estaremos jogando no mesmo time!

- Já parou para pensar que seus planos não são infalíveis? E que história é essa de se importar só com o lugar onde se enfiou?

- Sabe qual é o problema aqui? Você ignorar tudo que falo, veio para o nosso lado ou não?

- Já vi que não dá para conversar com você hoje. Ademais faça esse tufão retornar a Megapolis, vou chamar a Mei para você, mas não garanto que ela vem.

Assim que me viro para ir embora, o ouço me chamando em um fio de voz.

- Macaque... - olho para ele, suas sobrancelhas estão arqueadas, depois de séculos lutando contra ele, finalmente consigo ver a sua verdadeira face de... desespero? Medo? Vontade de chorar? Talvez isso tudo e mais um pouco. - Escolheu o lado certo, nunca se esqueça disso!

- Aguente firme.

Ao retornar para Megapolis, o único lugar onde temos uma jaula adaptada para o discípulo daquele macaco exibido, vou direto para a casa de Mei, como a porta está encostada, subentendo que ela está aqui. Ao entrar e vagar, a encontro cabisbaixa sentada no chão do corredor. Ela falando rouca, com seus coques caídos, em um corredor escuro só me passa a impressão de que a sua esperança de que tudo melhore está bem no fim.

- Não me diga que já é a minha vez. De novo - ela se encolhe, abraçando os joelhos. Pobre menina.

Me agacho ao seu lado.

- Força, garota cavalo dragão, Wukong precisa de você! Pelo que entendi, não é para cuidar do MK, pelo menos não diretamente.

- Não sei até quando posso suportar isso.

- Vai dar tudo certo - disse isso mais para tentar animar, achei certo dizer algo assim em uma situação como essa. Tal atitude só pode ter vindo de mim graças aos poucos dias que passei com essa turma. Se tudo fosse como antes, como talvez durante o reinado da Lady Bone Demon, tenho certeza que eu estaria muito feliz com esses acontecimentos.

- Avise Red Son por mim, por favor. Diga a ele para onde fui. - Mei me pede assim que sobe em sua moto, já do lado de fora de sua casa. Ela apertou os coques e percebi que mudou as roupas também.

- Tudo bem, aviso.

Ela suspira e assente, coloca seu capacete e some do meu campo de visão em sua moto. Coçando a nuca, tentando esquecer a imagem de uma Mei nada feliz, rumo ao Pigsy's Noodles, o principal lugar onde a MK's Team costumava se reunir.

- Mr. Tang - o cumprimento com um aceno de cabeça assim que adentro o restaurante, ele dá meio sorriso que logo se desfaz, fala quase sussurrando, olheiras bastante visíveis, lembrei que ontem foi a sua vez de segurar MK.

- Olá, Macaque... vejo que precisa de mais curativos.

Ele abre um kit de primeiros socorros e a garotinha ex possuída pela Lady Bone Demon nos ajuda a colocar faixas de gaze em meus machucados. Vejo que ela deixa escorrer uma lágrima, a limpo com meu indicador, lhe dou um sorriso.

- Sem choro, heim. Não se preocupe, vou fazer questão de deixar marcas iguais no Wukong, quando tudo isso acabar.

- Se é que isso vai acabar um dia! - Pigsy soca o balcão, nem reparei quando ele chegou da sua distribuição de sopa para os desabrigados sobreviventes das casas destruídas por MK. - Mais fácil todos nós morrermos antes.

- Ânimo pessoal, estamos fazendo um bom trabalho até agora - Sandy também entra no recinto, trazendo chá em uma bandeja. Não fazia ideia de que ele estava por aqui mas não me surpreendo.

- Meow! - seu gatinho azul com moicano laranja aparece também.

- Isso mesmo, Mo - Sandy diz e a garotinha abraça o gato.

Todos ainda lutando juntos, apesar de todas as dificuldades. É uma visão tão reconfortante, de deixar o coração bem quentinho, de uma forma que eu nunca tinha sentido antes. Torço para que isso não tenha fim.

A Discípula de Sun WukongOnde as histórias ganham vida. Descobre agora