A caçadora já escolheu sua vítima?

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S/N sabia o que tinha que fazer. Tinha escolhido a vítima,evitado que fosse pega por outro e agora prepararia a armadilha. Mas começaria a tarefa com o coração apertado - e não por pena de sua presa,mas por raiva de si mesma...e,embora relutante em admitir,de Mellana.
Sabia que nunca deveria ter concordado com aquela missão ridícula. Se Robert ouvisse falar disso,e era possível que isso acontecesse,faria mesmo um buraco na parte de trás de suas calças de couro,como sempre ameaçava...ou,pelo menos,iria atrás dela com esse intuito. S/N não era uma ordenhadeira qualquer,alguém que podia agir com tal capricho sem ser censurada pela família. Embora não tivesse título ou terras,a família Crais operava o moinho do Conde de Stephensgate havia muitas gerações e era uma das famílias mais respeitadas da comunidade. Uma filha de Phillip e Helene Crais fazer parte de algo tão...vulgar era impensável. Ora,o que as pessoas achariam?
A insistência de Mellana para o fato de que todas as 'donzelas de Stephensgate' estavam sequestrando homens para comprar ingredientes para fazer cerveja quase não er A um conforto. S/N não tinha a menor afeição pelas moças de Stephensgate,que pareciam ter pouco na cabeça além de uma coleção de laçarotes de cabelo(laços de cabelo)  e maridos. E,é claro,havia a pequena questão da Igreja,que expressamente desaprovava a prática,um fato que S/N tinha ressaltado para Mel naquele dia na cozinha. 
- Mellana,você perdeu o juízo- declara S/N,com rancor. - O fato de Stephensgate inteira praticar algo tão pagão  não significa nada pra mim.
Não é uma prática pagã - Mellana proferiu,arrogante. - Isabella La Roche fez isso dezenas de vezes e ela...
- Isabella La Roche é uma desmiolada,uma idiota. - A paciência de S/N estava se esgotando. - Não ouse negar isso,Mellana. Ela levantaria a saia para qualquer um de calças. Meu Deus,ela me confundiu com um garoto diversas vezes e me convidou para ir até o solar beber um copo de cerveja. É claro que uma mulher como ela não pensaria em outra coisa a não ser sequestrar um homem e pedir um resgate. Mas vice sabe tanto quanto eu que,durante o último sermão,o padre Edward criticou a prática com muita veemência.
- E você sabe tão bem quanto u que o padre Edward busca prazer na aldeia com a Fat Maude - Mel sibilou.
S/N concordou com o fato,dando de ombros, inconformada. Não sabia que Mellana estava ciente de assuntos como esse,e desejou saber quem havia contado tal coisa à garota. A maldita Isabella,sem dúvida. Que o padre era um hipócrita,S/N seria a primeira a concordar. Mas,no geral,era um bom homem,que tinha ficado abandonado por mais de um ano. Vendo que nenhum de seus argumentos tinha peso para a repentinamente obstinada irmã,S/N aceitou seu destino de mau grado.
- Tudo bem - disse ela,descontente. - Vou capturar um homem para trazê-lo aqui,então você pode prendê-lo por um resgate e usar o maldito ouro que conseguir por ele,para comprar levedo,um dote ou qualquer outra coisa. Só não deixe Robert saber,Mellana,eu imploro. - S/N sacudiu a cabeça. - Ele vai matar nós duas.
Mellana,cujos olhos brilhavam de alegria pela vitória,decidiu tratar a irmã mais nova de forma generosa:
- Ah,você está exagerando. Robbie ama você mais do que todas as irmãs,querida S/N. Ele deixa que você o faça de capacho.
- Você não o viu depois a visita do xerife. - Suspirando,S/N olhou para s mãos,as quais,apesar dos dedos calejados,eram um tanto delgadas e belas. - Estou bastante acostumada a encurralar animais estúpidos,Mellana,mas como vou armar uma cilada para pegar um homem?
Depois de conseguir o que queria,Mellana perdeu o interesse pelos detalhes da questão.
- Ai,Deus,não sei - declarou ela,ajeitando os cabelos para que pudesse se juntar ao resto da  família na comemoração que estava havendo o cômodo ao lado. - Só tenha certeza de que ele não é de Stephensgate.
O quê? - S/N olhou para a irmã,os olhos grandes e cinzentos cheios de aflição. - Não pode ser de Stephensgate? Você quer que eu sequestra um estranho?
-  Bem,é claro. Isabella já pediu resgate por todos os homens daqui pelo menos uma vez. E de Shrewbury e Dorchester também. A família deles não pagará uma segunda vez. A prática perde o charme se usada em excesso...
S/N praguejou soltando alguns de seus mais finos adjetivos,e Mellana,genuinamente chocada,ficou ofendida,deixando a irmã caçula olhando furiosa para as lajotas do chão.
Sequestrar um estranho,S/N queixou-se  para si mesma. Teria de viajar uma distância de dois dias para a aldeia mais próxima. Visitava Leesbury com frequência,é claro,visto que suas incursões em propriedade alheia às vezes a levavam naquela direção,e o cunhado de Patrícia,Simon,tinha uma estalagem por lá e não era mesquinho com sua cerveja. Mas ela não tinha muita esperança de que os residentes daquele lugar um pouco mais cosmopolita achassem a prática de sequestro de homens divertida. O padre daquela paróquia não era nem um pouco liberal como o da sua,e provavelmente ficaria furioso com o que em Stephensgate e em Dorchester era considerado um costume divertido.
Mas quando S/N  viu a moeda de ouro que o viajante tinha deixado para Simon no Raposa e Lebre,percebeu que tinha encontrado a vítima ideal. Obviamente,não era de Leesbury.  O homem alto,além de dinheiro,tinha um súdito é,como descobriu logo depois de uma pequena investigação,um elegante corcel como montaria. Aqui estava um homem bem-sucedido na vida.
Que ela suscitara no homem um interesse igual ao que ele tinha suscitado nela,S/N imediatamente percebeu,embora soubesse que por razões completamente diferentes das suas. S/N não se considerava nem um pouco bonita. Não,Mellana,com o corpo voluptuoso e os cachos dourados,era a mais bonita da família.
Mas S/N não podia deixar de notar que nos últimos tempos atraía com cada vez mais frequência olhares masculinos,e isso lhe causava bastante desconforto. Na verdade,a mudança que a passagem de uma jovem magricela para uma adulta graciosa tinha trazido em sua aparência era sua principal fonte de irritação. Afinal de contas,era ela que tinha causado o desastre que foi se breve casamento e tinha provado ser um obstáculo durante a caça:era constantemente surpreendida por homens casados e bem-intencionados. Diziam que ela não deveria andar por aí de calças e que deveria estar manejando uma agulha,não um arco.
Mas,por outro lado,a atração que exercia sobre o sexo oposto provara-se por vezes útil. Bastou jogar charme para o xerife e ele fez vista grossa às várias violações da lei de propriedade privada. E não havia um comerciante da aldeia que não pagasse com mais generosidade do que nunca pela caça obtida legalmente,e depois ainda se gabava para os clientes que a caça tinha sido abatida por ninguém menos que a Bela S/N. Como Diana e Ártemis, as caçadoras pagãs da mitologia,a reputação de S/N de uma adorável arqueira ajudava mais do que prejudicava seu empenho para alimentar os famintos de Stephensgate. 
E,é claro,agora que estava metida nesse negócio de caçar homens,usar sua cativante beleza como isca.
Que o estranho alto e bonito pudesse talvez não se sentir atraído por ela jamais lhe passou pela cabeça. Ela virando jeito como os olhos dele a penetraram quando ela entrou na estalagem. Havia fome em seu olhar,embora também tenha visto precaução. Em relação a esta última,não muita,visto que tinha entrado naquela enrascada com aqueles dois ladrões. No entanto,talvez tenha aprendido com o erro: Quando seguira o passo acelerado de Jungkook,ela percebeu com satisfação que ele evitava as vias públicas principais.
Sua precaução,entretanto,foi sua ruína,porque,ao seguir pela trilha de ovelhas em vez de pela estrada,foi levado exatamente para o território onde ela mais caçava,os montes montes que circundava Stephensgate e,em particular,os domínios do conde.
Quando o homem alto e seu garoto partiram de Leesbury com tanta pressa,sem saber acrescentaram mais um membro ao bando. S/N seguiu-os a uma distância segura,mantendo-se sob o abrigo das árvores e cavalgando a trote lento. A montaria de S/N era uma égua comum que possuía desde criança,mas tão bem treinada quando o corcel de qualquer cavaleiro. A égua,a qual S/N noneara Violeta em um momento inocente de imaginação de 10 anos,aprendera a caminhar silenciosamente sobre as plantas rasteiras da floresta e a ficar imóvel como uma pedra enquanto a dona estava em busca de uma presa. Ela também sabia marchar de volta à casa do moinho quando S/N a posicionava na direção certa e dava-lhe uma chicotada na anca. Em geral,as duas formavam uma equipe formidável,trabalhando juntas como parceiras no crime.
S/N olhou para a dupla de viajantes com muito interesse,aprendendo o maior número possível de detalhes sobre eles. O homem,o que ela buscava,se vestira com cuidado para revelar o mínimo possível sobre si mesmo. Como,por exemplo,a barba por fazer,o manto sem ornamentos,a túnica comum e as calças simples que não revelavam o tamanho da bolsa que carregava sob o cinto. Não havia,porém,como disfarçar a altura,já que era maior que ela,com seus 1,78,que pra ela era impressionante. Ele era mais baixo que Robert,que tinha quase dois metros.
O garoto,no entanto,estava longe de ser um desafio. De estatura mediana,mais ou menos 1,74,macaqueava seu superior vestindo-se com exagero. Usava uma túnica de veludo e meias de cor chamativa. Definitivamente se beneficiaria de uma armadilha no topo de uma árvore,ela pensou. Mas o homem...O home  exigiria mais sutileza.
Diferentemente de muitos caçadores que conhecia,era a perseguição,não o ato de matar,de que S/N mais gostava. Só matava a caça na qual atirava porque sabia de famílias que não tinham comida sobre a mesa. O bom Senhor considerou apropriado dar-lhe uma mira precisa e um braço firme,então se sentia na obrigação de ver aqueles desafortunados bem-alimentados.
Mas não gostava de matar,e só fazia isso quando estritamente necessário. Aproximar-se silenciosamente das empresas fazia muito mais o seu estilo,e encurralá-las em armadilhas não letais era ainda mais prazeroso. Que ela sempre soltava os animais que capturava,poucas pessoas sabiam,e estavam ainda menos cientes da quantidade de animais que S/N soltava quando os encontrava na armadilha de outros caçadores. Desgostava particularmente das cruéis armadilhas de metal que o lenhador do conde ameaça para caçar lobos e,sempre que encontrava uma,rapidamente a enterrava onde sabia que o velho Tom nunca mais a encontraria.
Mas havia muitas vantagens em caçar,em ficar à espreita,e,embora nunca tivesse admitido para Mellana,S/N achava que talvez houvesse uma chance de gostar de perseguir essa presa em particular. Era muito mais interessante caçar um oponente com alguma inteligência,não um animal estúpido. É claro,ele era um homem,um belo homem,que automaticamente o fazia intelectualmente inferior a ela. S/N nunca encontrara um homem cujas faculdades mentais rivalizassem com s suas - e isso incluía seu falecido marido. Mas,ainda assim,seria um desafio válido para a Bela S/N,e foi com coração feliz e acelerado que ela seguiu os passos de Jeon Jungkook.
No entanto,quando ficou evidente que o estranho parecia conhecer o interior e que estava indo na direção de Stephensgate,ela percebeu,com desânimo,o que teria que fazer. Estava relutante,visto que da última vez as consequências tinham sido terríveis. Mas,se não  agisse logo,perderia a presa,e quem saberia dizer quando acharia outra tão promissora? Não podia desapontar Mel,não depois de já ter prometido. S/N agora era um ano mais velha e mais esperta. E dessa vez estaria no controle. Estaria esperando por ele,preparada.
Encurtando as rédeas de Violeta,a fez seguir na direção do viajante e seu súdito e,apressadamente,mas com o cuidado e quem é experiente,fez os preparativos.

Free My Heart (Jeon Jungkook)Where stories live. Discover now