Jeon Jungkook

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Jeon Jungkook podia ter passado os últimos dez anos na Terra Santa lutando pela pose de Jerusalém,mas isso não significava que ele próprio era um santo. Longe disso. Como pôde ser claramente demonstrado pelo fato de ele ter dormido com a esposa de um estalajadeiro e depois ter se recusado a pagar a indenização,como duravam as regras,por ter se metido "sem querer" entre os dois.
Jungkook seguiu para as Crusadas,a única escolha para o segundo filho do Conde. A outra opção era o monastério,onde prontamente recusou-se a entrar,embora o maior desejo da mãe fosse que ele buscasse ligação com o Senhor. Mas Jungkook preferiu buscar ligação com as mulheres,e encontrou inúmeras no Reino de Jerusalém. As mulheres do Acre,da Jordana a Damasco,onde Jungkook tinha passado  maior parte da década em que ficou longe da Inglaterra,tinham o curioso hábito de raspar as partes mais íntimas do corpo,o que por si só foi incentivo suficiente para que Jungkook continuasse por lá.
É claro,ser capturado no Acre pela arma da muçulmana não tinha sido parte do plano,e,quando o resgate foi pago pela Coroa,Jungkook estava particularmente desgostoso como a assim chamada Terra Santa e com as Cruzadas de forma geral. Naquela época,soube da morte do irmão mais velho,seguida pela estranhíssima morte do pai,o que deveria voltar para casa e desfrutar o novo título. 
Mas até agora não tinha tido muita sorte. Ainda não tinha vislumbrado as pastagens verdes de Shropshire e já estava metido em encrenca novamente. Dessa vez,nao eram os sarracenos que o perseguiam,mas o marido de uma loira de seios particularmente fartos com quem havia ficado em Londres. No entanto,"flertado" não era a palavra que o marido empregava para o que tinha acontecido,e exigia uma pequena fortuna em troca dessa "humilhação". Jungkook suspeitava que esse marido e essa mulher formavam uma equipe,ela seduzindo cavaleiros afortunados e ele "pegando" os dois juntos para não exigir uma recompensa por ter tido seus sentimentos feridos. Bem,Jungkook não daria ao homem tal satisfação.
Agora,Jungkook e seu escudeiro estavam sendo forçados a pagar estradas secundárias e trilhas de ovelhas até Stephensgate,evitando as estradas principais por medo de serem violentamente atacados pelo estalajadeiro e seus comparsas. Não que Jungkook tivesse medo de lutar; mas nos últimos dez anos tinha lutado o suficiente para toda a vida,e queria apenas se aposentar no solar e usufruir o que considerava,aos 25 anos,sua velhice. 
Evitando hospedagens e vilarejos,onde os maridos traídos podiam pegá-los desprevenidos,Jungkook e seu escudeiro dormiam ao relento. Felizmente,a primavera estava amena,exceto por uns temporais ocasionais,e,de qualuqer forma,Jungkook preferia dormir ao ar livre a dormir nas hospedarias que a maior parte das aldeias  oferecia. Os quartos escuros e apertados que uma pessoa tinha que dividir com sua montaria,a cama infestada de piolhos,o pão velho e a cerveja de má qualidade servida no café da manhã - não,dê-lhe um fardo feito de feno com cheiro agradável e sua capa,que será conforto o bastante.
É claro que Peter,seu escudeiro,acostumado aos confortos de Londres - onde Jungkook o adquirira quando soube do falecimento do companheiro de guerra que criava o garoto - reclamava severamente dos maus-tratos,e cada noite ao relento parecia-lhe uma afronta pessoal. Acostumado às ruas movimentadas e nebulosas de Londres,o garoto estava aterrorizado com a escuridão do interior da Inglaterra,com  medo de que pudessem ser atacados a qualquer momento por lobos,ou,pior,por ladrões de estrada. Reconhecendo de onde realmente viam suas reclamações - medo disfarçado de forma um tanto inadequada pela insolência - ,Jungkook as aguentava,mas sentia que logo chegaria o momento em que o garoto levaria a surra de que urgentemente precisava.
Pelas suas estimativas,estavam a dois dias de Stephensgate quando decidiu que poderia arriscar passar pela pequena aldeia de Leesbury para comprar mantimentos. Estava mais preocupado com a montaria do que com ele mesmo. Skinner,um cavalo de guerra bem treinado,tinha passado com ele bons e maus  bocados e merecia mas do que pasto dia após dia. Porém,Jungkook tinha que admitir certo desejo por pão e queijo ingleses,tudo isso acompanhado da gloriosa bebida que era tão escassa em Jerusalém:cerveja. E não havia outra maneira a não ser se aventurando em uma aldeia.
Peter estava fora de si de tanta alegria com a perspectiva de retornar à "civilização",como ele chamava o lugar do qual fora criado,mas,quando de fato colocou os olhos em Leesbury,Jungkook duvidou sinceramente que Peter tivesse ficado impressionado. Depois de instruir com firmeza que o escudeiro não deveria de referir a ele em público como "meu lorde",Jungkook guiou seu exepcionalmente seu pequeno séquito pelos portões da aldeia rumo ao primeiro estabelecimento que parecia um pouco respeitável.
Instruindo o garoto da estrebaria para que as montarias recebessem o melhor feno disponível e colocando uma moeda de ouro em sua mão para que o pedido fosse atendido,Jungkook acenou para Peter,e os dois entraram no Raposa e Lebre. Com quase 1,80m de altura,Jungkook era um homem que teve que abaixar a cabeça ao passar pela porta do Raposa e Lebre para entrar no pequeno local. Sua presença,embora formidável,não causou reação na clientela embriagada que havia dentro do lugar,muitos dos quais também pareciam ter passado algumas noites no relento.
Com o dono do estabelecimento,no entanto,a história foi bem diferente. A pele curtida e a barba por fazer de Jungkook revelavam que ele tinha estado na Terra Santa,e,como o proprietário do Raposa e Lebre sabia muito bem,nenhum homem volta da Terra Santa de bolsos vazios. Não voltavam com relíquias de Santos ou supostos fragmentos da Cruz...não,ícones religiosos não chamavam a atenção de qualquer homem sensato. Eram os diamantes,os rubis,as esmeraldas,as safiras,as pérolas,o ouro e a prata,o lápis-lazúli e a turquesa,o espólio dos bizantinos,de que se podia quase sentir o cheiro em um homem recém-chegado das Cruzadas,que atraíram imediatamente o dono do estabelecimento para o lado de Jungkook.
- Bora tarde senhor - proclamou o proprietário corpulento. - Não quer se sentar aqui nesta mesa e se refrescar com uma caneca da maravilhosa cerveja da minha cunhada?
- Com prazer - respondeu Jungkook,e indicou que Peter deveria sentar-se de frente para ele.
Peter acomodou-se com satisfação numa cadeira de madeira e sentiu que estava finalmente sendo tratado como um escudeiro de um conde rico e poderoso. A bajulação conferida pelo proprietário pareceu-lhe apenas apropriada,e ele começou a comer com entusiasmo a refeição colocada a sua frente:a fatia grossa de pão recém-saído do forno,os queijos deliciosamente cremosos e levemente picantes,as frutas frescas,as vasilhas fumegantes de ensopado. Enquanto comia,olhou o seu redor do estabelecimento lotado,como seu mestre havia feito assim que entraram,mas não viu nada que pudesse alarmá-los. No geral,a clientela parecia rude,mas não intratável. Sugando  colarinho de cerveja da caneca que foi colocada à sua frente,Peter recostou-se na cadeira e se preparou para ser adulado.
Jungkook,no entanto,não relaxou. Acostumado às batalhas,sabia que uma das artimanhas do inimigo era tranquilizar o adversário com uma sensação de segurança e depois atacar. Bebendo a cerveja que o estalajadeiro tinha insistido que tomasse,ele admitiu para si mesmo com relutância que era realmente a melhor cerveja que bebia havia muito tempo,mas seus olhos não deixavam de mirar os rostos das pessoas sentadas a sua volta nem perdiam a porta de vista.
Foi assim que viu a criatura que apareceu à porta depois da chegada dos dois. A princípio,ele tomou a pequena figura por um garoto. Certamente,mulher nenhuma seria tão insolente a ponto de vestir calças de couro justas. Mas ele logo concluiu que era exatamente isso. Uma mulher,e jovem,aliás,com o rosto angelical e um amontoado de cabelos castanhos amarrados para trás em um coque bagunçado,que passava com uma cintura impressionantemente fina e com um também surpreendente traseiro em forma de coração,perfeitamente visível graças a suas calças justas. A garota não usava nem touca nem túnica. Vestia uma camisa branca de linho delicado um tanto opaca,e preso às costas havia,espantosamente,um arco curto dentro de uma aljava.
Se havia mais alguém perplexo com essa aparição,não deu sinal. Na verdade,o estalajadeiro cumprimentou-a tão naturalmente quanto cumprimentaria uma irmã.  Foi casual,ofereceu-lhe um assento e entregou-lhe uma caneca de cerveja. E,de fato,a visão dessa charmosa mulher - podemos dizer facilmente linda - em roupas de garoto não causou qualquer comentário além de alguns breves cumprimentos. Olhando para Peter,Jungkook percebeu que pelo menos seu escudeiro estava apreciando de forma adequada essa presença magnífica da moça.
- Mate-me - murmurou o garoto,olhando admirado sobre a borda da caneca - se isso não for uma donzela.
- E,além de donzela,extraordinariamente bela. - Jungkook balançou a cabeça,aliviado por Peter estar tão surpreso quanto ele. Dez anos atrás, quando deixaram a Inglaterra,mulheres não perambulavam por aí em roupas de homem e,com certeza,não frequentavam estalagens desacompanhadas. Mas as coisas por aqui não mudaram tão drasticamente quanto Jungkook a princípio pensou.
Então,a garota devia ser uma pessoa excêntrica,como os  modos estranhos aceito por seus familiares. Talvez tivesse algum parentesco com o estalajadeiro. Os dois estavam ocupados numa conversa sociável que parecia centrada na sorte de alguém chamado Robert. Depois de um minuto ou dois,o proprietário apontou para Jungkook e disse algo bem baixinho,o que fez com que a garota virasse o rosto em sua direção.
Ele de repente viu-se examinado por um olhar tão penetrante que incrivelmente o fez sentir um calor no rosto. As mulheres de Acre,embora raspassem as partes íntimas,Eram modernas demais para olhar um estranho nos olhos,e ele não estava acostumado a um escrutínio tão direto. Para sua sorte,sua barba por fazer,estava escondendo um pouco o tom avermelhado de suas bochechas coradas.
Tão rapidamente quanto foi apontado,foi deixado de lado,e o olhar agitado da garota afastou-se dele e foi na direção de Peter,que engasgou com a cerveja quando se percebeu sendo observado. Em seguida,o maldito proprietário se aproximou,desejando saber se eles precisavam de mais alguma coisa.
- Não existe nada à altura dos homens que lutam na guerra justa - foi como ele colocou,deixando perfeitamente claro que sabia que Jungkook estava vindo da  Terra Santa. - Se houver alguma coisa que eu possa fazer para vocês,qualquer coisa,é só me  chamar.
Agarrando o braço do homem antes que ele pudesse se afastar,Jungkook puxou-o para que o ouvido do proprietário ficasse na altura de seus lábios.
- Quem é a donzela em roupas de garoto? - Perguntou ele no tom mais grave possível,um tom que não tolera a desobediência.
O estalajadeiro ficou surpreso
- S/N? -  ele olhou de relance a garota,que felizmente estava olhando para o outro lado. - Você está falando de S/N? Meu irmão,estalajadeiro em Stephensgate,é casado com a irmã dela. Todos conhecem a Bela S/N.
Como se para provar o que falava,uma mulher idosa - que estava encolhida ao lado do fogo apenas do bom tempo que fazia do lado de fora - levantou-se e puxou a manga da camisa branca de linho da garota. Com habilidade graciosa,a donzela chamada S/N morou na velha,que gargalhou de alegria segurando a flecha e depois voltou para perto do fogo.
- Viu aquilo? - Disse o proprietário,alegre. - Como eu disse,todos conhecem S/N Crais,a filha do no leito. A melhor pontaria de Shropshire.
Não foi uma resposta nem um pouco satisfatória,mas Jungkook entregou uma moeda por ela;não fazia diferença. Afastando-se  aos tropeços e massageando a parte do braço onde Jungkook o tinha agarrado com seu punho de ferro,o estalajadeiro sentiu o peso da moeda na mão e hesitou. Era uma moeda de ouro maciço,o tipo de moeda que não havia...bem,que nunca havia visto. Como um homem embriagado,ele passou pela mesa de uns retardatários que estavam ali perto e quase tropeçou em suas pernas esticadas. Quando um deles,rudemente vestido,gritou reclamando,o estalajadeiro endireitou o corpo e se desculpou,mostrando-lhes a moeda. Os dois beberrões assobiaram,mas foi  garota,percebendo a barganha,quem direcionou mais uma vez o olhar intenso e direto para Jungkook.
Peter chutou-o sob a mesa.
- Olhe aquilo - cochichou o escudeiro. - É a segunda vez que ela me olha assim. Acho que gostou de mim!
- Levante-se - Jungkook disse com severidade. - Estamos indo.
- O quê? Mas acabamos de chegar!
- Estamos indo - Disse Jungkook novamente - Já atraímos muita atenção.
Resmungando,Peter enfiou pedaços de pão e de queijo em seus bolsos,depois bebeu um só gole o que restava da cerveja. Jungkook jogou algumas moedas sobre a mesa sem se preocupar em olhar o valor delas,depois pegou seu manto e caminhou para fora do lugar,decidido a não olhar para a garota novamente.
Porém,o mais longe que chegou foi à porta,quando uma voz grossa o chamou.
- Ei,senhor? Acho que esqueceu alguma coisa.
Jungkook não precisou se virar. Tinha escutado o breve tumulto e,supondo que fosse apenas o estalajadeiro correndo para pegar as moedas que ele tinha deixado sobre a mesa,o ignorou. No entanto,depois ficou claro que o responsável por todo aquele tumulto não tinha sido o proprietário do Raposa e Lebre.
Arrumando o corpo,os olhos estreitando-se perigosamente,Jungkook posicionou uma das mãos sobre o cabo da espada e disse,ainda sem se virar.
- Solte o rapaz.
Atrás dele,os dois bêbados degoladores riram por entre os dentes.
- Soltá-lo senhor? Sim,vamos solta-lo. Por um preço.
Suspirando,Jungkook virou-se. Estava cansado de violência,cansado do seu escudeiro. No passado,teria rasgado suas gargantas e depois dado risada. Mas agora não. Tinha visto tantas mortes desnecessárias durante as Cruzadas que não conseguia matar sequer uma mísera traça sem se arrepender. 
Mas disso não significava que deixaria de degolar alguém se fosse forçado a isso.
Os dois homens,que antes estavam sentados na mesa ao lado da de Jungkook,agora estava em pé,embora sem equilíbrio,e o maior tinha uma arma pesada contra o pescoço do jovem Peter. Peter,de sua parte,estava lutando contra a chave de braço;o rosto jovial tinha adquirido um tom  vermelho pouco comum. Fora pego completamente desprevenido e,por causa disso,sofreria tanto nas mãos destes arruaceiros quanto mais tarde nas mãos de Jeon.
- Não se preocupe comigo,senhor - Disse Peter,sufocado,as mãos  finas em volta do braço que o estrangulava. Vá embora,salve -se. Não valho...
- Diabos! - resmungou Jungkook,revirando os olhos.
- Dick! - gritou o proprietário furioso - ,deixe o homem. Não quero briga no meu estabelecimento. 
- Se o camarada aqui liberar a bolsa - escarneceu o homem menor,que parecia ser conhecido como Dick - , não haverá briga,Simon. Chamaremos isso de um negócio justo,não é,Timmy?
O gigante vociferou,sacudindo Peter. 
- É.
Nesse momento,três ações acontecem simultaneamente. A primeira foi com Peter,que,de repente,descobriu que tinha fibra,ou,pelo menos,dentes,os quais afundou no braço de Timmy. Timmy berrou e largou o garoto no exato momento em que Dick,tentando mostrar para Jungkook a seriedade da situação, deu uma estocada no escudeiro com a ponta de seu canivete afiado. Jungkook,testemunhando  o brilho da lâmina,desembainhou a espada e lançou-se sobre o maldito Dick,mas acabou tropeçando em Simon,o estalajadeiro,que tinha decidido correr para pegar o ouro que Jungkook tinha deixado sobre a mesa,num esforço para não perdê-lo no meio da disputa.
O estalajadeiro devia ter ficado quieto. Jungkook,numa tentativa desesperada de não matar alguma alma inocente com sua lâmina,bateu com o ombro pesado na mesa,despedaçando-a e lançando as moedas pelo estabelecimento. Estirado no chão,Jungkook Viu -se apertando os olhos para as vigas do teto,sem fôlego. A próxima coisa que viu foi o cara de fuinha do Dick  atacando e pressionando os dois joelhos sarnentos sobre a espada de Jungkook antes de levantar a própria arma. Os olhos pequenos de roedor de Dick brilharam de ambição quando a lâmina encostou no pescoço de Jungkook,percebendo a inesperada desvantagem do homem maior.
- Que ótimo salto - Dick parabenizou-o com um sorriso que revelou uma boca cheia de dentes podres. - Agora me passe essas moedas.
De canto de olho,Jungkook viu que Timmy tinha pegado Peter novamente e que estava arrancando tufos de cabelo da cabeça do garoto como indenização por tê-lo mordido. Peter esperneava enquanto os clientes dispersavam em quatro direções,com exceção do estalajadeiro,que ainda estava pelo chão procurando o dinheiro.
Jungkook suspirou. Ainda havia a adaga na hora da perna esquerda,enfiada ali para ocasiões como essas. Ele passaria a lâmina pela garganta de Dick antes que o ladrão pudesse murmurar adeus,embora Jungkook não gostasse muito da ideia de sujar o manto de sangue. Deus,ele estava cansado de morte.
- Muito bem - Jungkook suspirou novamente,fingindo estar se entregando. - Pegue.
Mas no momento que a mão de Dick foi pegar a bolsa no cinto e Jungkook,algo passou zunindo por um lado do rosto do degolador e enterrrou-se na manga da jaqueta de Dick,prendendo o braço ao chão,exatamente entre as pernas de Jungkook. Jungkook atirou a mão para trás no tempo exato de evitar ser atingido.
Olhando em descrença para o longo torso,Jungkook viu que a flecha de ponta violeta tinha se enterrado no piso de madeira,deixando de acertar não apenas a mão,como também seu tesouro mais precioso,por meros cinco centímetros. O braço de Dick estava preso na perna de Jungkook,e o susto com a proximidade que o projétil ficou de perto e sua mão ao meio fez o degolador lastimar-se.
Jungkook olhou para cima no exato momento em que a garota que o proprietário do lugar chamou se S/N preparava-se para lançar sua flecha nas costas largas de Timmy. Dessa vez,ela advertiu calmamente a vítima:
- Largue o garoto ou vou acabar com você.
O gigante congelou. Depois,girando lentamente,enquanto Peter retorcia-se em seus braços,Timmy olhou para S/N e depois para seu comparsa,encurralado sobre Jungkook e o chão. 
- Deus. - O homem engoliu em seco. - Não atire,moça. Dick e eu não pretendíamos...
Ele soltou Peter,que saiu cambaleante,segurando a cabeça e gemendo,um pouco mais alto que o necessário na opinião de Jungkook.
A garota de cabelos castanhos abaixou o arco e se aproximou de Jungkook,o rosto adorável com um ar despreocupado,como se tivesse acabado e sair do banho. Ela ignorou Dick,apesar do choramingo e dos gemidos,olhou de relance para Jungkook,curvou-se,envolveu os dedos delgados na flecha e calmamente arrancou-a da Madeira onde tinha sido cravada.
Como estava bem perto,Jungkook não pôde deixar de observará-la,e assim o fez,impassível,absorvendo a pele branca e lisa,o tom rosado dos lábios e do rosto,os cílios longos e peculiarmente escuros,a fragrância floral. Ele não era de ficar estupefato na presença de uma mulher - na verdade,longe disso - ,mas lhe era humanamente impossível dizer alguma coisa para essa donzela,mesmo quando a mão dela estava a um centímetro da sua...
- Ah - disse a garota,finalmente arrancando a flecha intacta do chão. Ela examinou a ponta criticamente,passando o polegar para ver se estava afiada. Pelo sorriso que despontou no rosto,revelando dentes brancos reluzentes,ela estava aparentemente satisfeita com o resultado. - Olhe,veja só - disse  si mesma. - Tinha certeza de que ficaria imprestável. 
Assim que ficou livre,o desafortunado Dick levantou-se com dificuldade,falando um palavrão atrás do outro e sacudindo o braço que tinha ficado preso o chão. 
- Maldita cadela - berrou ele. - Porque você  fez isso? Só estávamos nos divertindo um pouco. Não é,Timmy? Só uma diversãozinha com o nobre cavaleiro.
Mas S/N não estava ouvindo. Enfiou a flecha de volta na aljava é,calmamente e com um último é compreensivo olhar para Jungkook,saiu porta afora.
Jeon levantou-se imediatamente,esquivando-se doestalajadeiro que ainda estava de quatro apoios no chão procurando as moedas,do furioso Dick e dos destroços da mesa que tinha quebrado. Mas,embora tenha chegado à porta talvez um ou dois segundos depois da garota,ela já tinha desaparecido,tão de repente quanto aparecera. Olhou de um lado para o outro das ruas de pedra em busca de algum sinal da garota,mas não viu qualquer rastro.
Estava blasfemando para si mesmo quando Peter se aproximou ofegante.
O senhor viu aquilo? - perguntou o garoto agitadamente. - Eu nunca na minha vida vi alguém manejar um arco daquele jeito. Ela levantou aquela coisa como se fizesse parte do braço dela. O senhor viu?
Jungkook,que ainda procurava a garota no meio da rua movimentada,resmungou ameaçadoramente em resposta. O garoto ou não o escutou,ou imprudentemente decidiu continuar com o assunto apesar da advertência de seu senhor.
- Acho que salvou nossas vidas,meu senhor. Porque acha que ela se preocuparia com isso? Uma dama pequena como aquela,acho que éramos nós que deveríamos salvá-la,não é verdade,meu senhor? Mas foi justamente ela quem nos tirou das mãos daquele bandido... - Depois,em um tom diferente: - Meu lorde,porque está assim? Algum problema?
Jungkook agitou-se. Qual era o problema? Quem era essa tal de S/N Crais que o tinha deixado tão nervoso com um único olhar? Centenas de mulheres olharam pra ele na vida(se não olhassem ia ser dureza né? Um macho lindo desse jkkk desculpa,parei),e ele nunca tinha reagido assim antes. Não,levava-as para a cama com naturalidade e prazer,e tudo o que tinha em um momento de distração. O que havia com aquela mulher de cabelos castanhos astuta e ridiculamente vestida que o fizeram ir atrás dela como um gato atrás de uma gata no cio?
- Venha,meu lorde - gritou Peter,agitado. - Ela não pode ter ido longe. Deixe-me correr atrás dela...
Jungkook agarrou o garoto pelo braço,quase levantando-o do chão.
- Você não vai fazer nada disso. Vá buscar os cavalos. Vamos sair deste lugar agora.
Peter bateu as botas no chão. Já tinha esquecido o susto que o gigante tinha lhe dado e estava ansioso para trocar galanteios com a pequena e atrevida donzela de calças de couro. Um tipo de donzela que mesmo ele,acostumado com todo tipo de mulher que havia em Londres,de dançarinas quase nuas a princesas de sangue azul,nunca tinha visto antes. Mas a garota tinha fugido,e seu senhor,em um ataque de grosseria,não o deixou procurá-la.
- Não seria difícil encontrá-la - resmungou Peter. - Uma moça com roupas de garoto com certeza chama a atenção por onde passa. Aposto que conseguiríamos encontrá-la em menos de uma hora. E devemos nossas vidas a ela,meu senhor. Ou pelo menos uma bolsa de...
A única resposta de Jeon foi um novo resmungo.
- O que o aflige,meu lorde? - perguntou Peter,imprudentemente. Ele não conseguia,de jeito nenhum,imaginar porque Sua Senhoria não queria procurar sua salvadora. - O senhor acha que a donzela é uma feiticeira,e é por isso que está fugindo dela com tanto desassossego?
Jeon olhou furioso para o impertinente jovem,o olhar tão penetrante quanto o da donzela,e,embora os olhos de Jeon fossem castanhos,neste exato momento brilhavam como ouro de tanta fúria. 
- Não - retrucou ele,dando longos passos em direção aos estábulos públicos. - Mas ela demonstrou interesse demais em nós,um cavaleiro andante retornando das Cruzadas e seu escudeiro inexperiente. 
- É - concordou Peter prontamente. - E eu estava apreciando demasiadamente esse interesse.
- Pude perceber. - O tom de Jeon era zombeteiro,embora o humor na voz não se refletisse nas feições sérias. - Mas que interesse qualquer um de nós poderia exercer sobre uma donzela tão graciosa,uma donzela que certamente já é a pretendida de algum ferreiro da cidade ou de algum cavaleiro local?
Peter gostaria de ter respondido que ele,quase que obviamente,despertaria o interesse romântico de qualquer donzela,por mais adorável que fosse,mas não gostava de parecer pretensioso. Tinha quase certeza que fora ele,não o seu lorde,que despertara o interesse da donzela de cabelos castanhos. Porque uma garota se interessaria por alguém de 24 anos(nossa caçadora tem 18 anos,se alguém estiver na dúvida) com roupas um tanto desleixadas,apesar da fortuna e da posição? Peter,por sua vez,usava um colar de ouro reluzente no pescoço e uma valiosa túnica de veludo,que,mesmo não sendo exatamente adequada para dormir ao relento,indicava claramente seu elevado nível na cavalaria real. O que importava se esses dois itens lhes foram comprados por seu novo senhor? A garota não precisava saber.
Mas agora seu senhor estava falando novamente,com uma voz rouca que Peter ao mesmo tempo invejava e temia.
- Não quero que chamemos atenção indevida - explicou Jeon,em um tom que esperava não parecer condescendente. Maldito súdito que se deixara derrubar por aquele sabre e o deixará responsável por esse fedelho! - Embora qualquer esperança em relação a isso tenha sido destruída por aqueles homens. Mas é melhor deixarmos a garota em paz,pois não existe atenção pior que a de um pai ou a de um irmão de uma donzela virgem.
- Ah! - disse Peter astutamente. - Como a dançarina com quem o senhor saiu em Londres duas semanas atrás? Aquela que chamou o cafetão quando o senhor...
Jeon olhou furioso para o garoto,os olhos cintilando de impaciência. 
- Não. Não como ela,garoto - ele resmungou,mas não explicou por quê. Em vez disso,novamente mandou Peter buscar os cavalos.
Enquanto ele esperava na rua de pedra,os olhos castanhos em alerta para tentar avistar a moça,todos os pensamentos de Jeon ficaram concentrados nas nádegas da encantadora S/N. Como a garota aprendera a usar um arco daquele jeito? E por que se dera ao trabalho de salvá-lo? As mulheres certamente mudaram desde a última vez em que estivera na Inglaterra. Agora não apenas andavam por aí em roupas de garoto,como penduravam uma aljava nas costas e atiravam em salteadores quando bem queriam. No entanto,Jeon pensou,Deus sabia que qualquer mulher vestida daquele jeito precisava se defender...mais precisamente de homens como Jungkook.
Esforçando-se ao máximo para levar a mente a um plano mais elevado,Jeon tentou não pensar nas nádegas de S/N Crais,mas no solar de Stephensgate e em todo o trabalho que lhe seria necessário para consertar o que o pai,sem dúvida alguma,tinha irremediavelmente deixado aos pedaços,como era seu insensato costume. Ainda assim,aqueles olhos acizentados o atormentavam,mesmo depois de ter montado o corcel e o guiado adiante. Se ele tivesse olhado para trás mais uma vez,teria visto exatamente aqueles mesmos olhos abrindo um verdadeiro buraco em suas costas quando S/N fazia um rápido cálculo mental.

Notas do autor
Me digam o que acharam

Free My Heart (Jeon Jungkook)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora