— Tente da próxima vez sem tanta bajulação. — Diz a nossa mãe e logo acrescenta. — Vou preparar o escritório.

Assim que ela sai do quarto, eu me viro para o meu irmão.

— Mamãe pode estar mais velhinha, mas mesmo assim é perigosa. — E o danado ri.

— Eu sei, maninha.

— Vou ao shopping mais tarde e vou pegar seu carro.

— Você estava com saudade de dirigir em São Paulo, sério? — Theo me pergunta.

— Londres também tem trânsito. — Ele apenas me encara, seus olhos estão me dizendo " Fala sério, isso nem se compara"

Sorrio.

— Vai comprar presentes de natal? — Respondo balançando a cabeça afirmativamente. — Vou te mandar o que eu preciso comprar.

— Quer dizer que vou comprar seus presentes também?

— Acho que o shopping não toparia fechar para mim com apenas dois dias até o Natal.

— Você ama essa desculpa, não é?

— Não mais que você já que vai poder usar meu cartão.

— Tá bom, rico, dá ele aqui. — Fico com a mão estendida esperando ele me entregar e assim que o faz, parto para o shopping.

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Meu pai só chegou em cima da hora, bem na véspera de natal e agradeço por ter tido um tempinho bom com minha mãe e Theo juntos.

Vicente Ferraz é um homem trabalhador, isso não há dúvidas, e ele também é nosso pai.
E após muitos anos de investimento na carreira de Theo, nosso pai acredita que precisa de uma recompensa constante.

As coisas pioraram quando meu irmão assumiu que era bissexual publicamente. Minha mãe já sabia, mas Vicente continuou fechando o coração para Theo. Todo o ar do ambiente muda quando os dois estão presentes.

O cheiro magnífico de comida me fascina e levanto do sofá para ir na cozinha.

— Precisa de alguma ajuda, mãe? — Pergunto.

— Não, filha. — Ela dá um suspiro e para na frente do ventilador. — Já está tudo pronto para a ceia, só vou me trocar agora.

— Tudo bem.

— Na verdade, você pode arrumar a mesa para mim? — Me pergunta ainda se refrescando.

— Posso sim. — E saio para realizar a tarefa.

Faltava menos de uma hora para dar meia noite, todos vestidos e sentados na mesa. Só faltava o Theo.

Escutamos o som de passos no corredor e meu irmão apareceu na sala de jantar.

— Que bom que o piloto decidiu nos agraciar com sua bela presença. — Se essa frase tivesse sido dita por mim ou até por nossa mãe, Theo poderia ter dado uma risadinha.

Mas as palavras de Vicente eram proferidas com ódio. Ele decidiu como utilizá-las para feri-lo, piloto e não filho. Este, por sua vez, só o encarou e não respondeu nada.

Como disse, tenso era a palavra que definia o clima do lugar.

— O senhor estava viajando a trabalho? — Pergunto para trocar o assunto, minhas palavras foram escolhidas também.

Se ele não se considera mais o pai de Theo, não o considero mais o meu.

— Estava sim, filha, mas fiquei feliz por ter chegado a tempo para o Natal.

— Fiz o mousse de maracujá que vocês gostam. — Acrescentou Nádia, nossa mãe, tentando amenizar o clima.

— Obrigada! — Agradeço e percebo que Theo dá um sorrisinho como agradecimento.

— Assisti à última corrida da temporada. — Diz Vicente.

Assunto errado, como sempre.

Percebo que as costas de meu irmão se enrijeceram, seu rosto tentando passar uma indiferença que todos sabemos que é apenas uma máscara.

— Querido, acho que não é um bom assunto para essa noite. — Minha mãe tenta adiar o inevitável.

— Bem, eu acho que é. Se eu não falar agora, não terei a chance de falar. — Encara meu irmão. — Se eu não falar, tudo pelo o que trabalhei vai para o ralo.

— Tudo pelo o que você trabalhou? — Zomba Theo.

— Sim, investi muito em você, moleque. — O tom de voz dele está aumentando aos poucos. Olho de relance para o relógio na parede e vejo que faltam quinze minutos para meia noite. — Toda merda de treinamento para te tornar um piloto é cara. Tá na hora de uma mudança de atitude.

— Você nem me conhece de verdade, só sabe o que está nos tabloides.

Vicente dá um riso irônico.

— Bem pior, né? — Continua destilando o veneno. — Você não se importa de verdade com as corridas, com o seu comportamento como poderia?

— Vamos parar com isso, por favor. — Imploro.

— E você ainda fica arrastando sua irmã para suas confusões, ela tem um diploma, poderia estar sendo alguém ao invés de ficar limpando suas merdas. — Beleza, agora eu não sou ninguém.

— Naquele dia, no dia da corrida, eu fiquei feliz. — Ele diz — Torci muito para você perder, para ver se começa a criar inteligência nessa sua cabeça. Aquele Liam é tudo o que eu queria que você fosse.

Theo estava segurando a borda da mesa tão forte que seus dedos estavam já sem cor.

— Enquanto você só sabe brincar, ele sabe o que é responsabilidade de verdade. A cada vez que você sai em alguma manchete, eu morro de desgosto. Todas aquelas suas atitudes imorais.

— Você acha que viver é imoral? — Retruca Theo.

— Você acha que viver é encher a cara, acordar sem saber onde estar, com diversas pessoas saindo de sua cama, ficar tão drogado que não consegue falar direito. Me desculpe se eu não acho que viver seja isso.

Ele foi longe demais.

— Chega! — Grito.

Theo levanta e olha no fundo dos olhos de Vicente.

— Está precisando falar, não é? — Fala alto, mas com um tom de zombaria que poderia irritar qualquer um. — Tentando atingir os outros para tentar ignorar o fato que você é um ser humano desprezível. Você. Não. Me. Conhece. Ou melhor, ninguém te conhece de verdade, porque se conhecessem os poucos amigos que tem desapareceriam. Você pode falar o que quiser de mim. Ainda sim, sou mais famoso, mais conhecido, mais amado do que você jamais será.

Meu irmão vai até minha mãe e dá um beijo na testa dela.

— Você sabe, mãe, quando quiser separar desse imprestável terá todo meu apoio e meus melhores advogados, não deixe que ele apague sua luz. Eu te amo.

Ele saiu pela porta da casa quando o relógio avisou que era meia-noite.

— Belo Natal! — Declaro indo em direção ao meu quarto para arrumar minhas malas. 

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Beijinhos.

Príncipe dos CircuitosOnde histórias criam vida. Descubra agora