Capítulo 13 - Um Belo Funeral

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Estou deitada em minha cama. Nunca me senti tão indisposta. Meu corpo todo dói. Agora me arrependo que querer estar doente de verdade. Papai ligou para o médico e ele deve estar a caminho.

Médico - provavelmente uma gripe forte. Vou receitar alguns remédios e a luz do sol poderá ajudar também - ele sorri gentilmente para mim.

Karen - obrigada doutor - ela diz já chorando.

David - eu o acompanho - meu pai sai com o médico do quarto, me deixando apenas com a minha mãe.

Karen - ah, minha Hayle - ela se senta ao meu lado e segura minha mão - minha linda Hayle - ela continua chorando.

Hayle - é só uma gripe, mãe - eu tusso e sinto como se alguém me batesse com toda a foça no peito. Ela chora ainda mais.

David - vamos mulher, deixe-a descansar - ele diz da porta.

Hayle - alguma novidade de Eliot? - minha mãe sai aos prantos.

David - não - ele responde mesmo não tendo gostado da pergunta - esqueça-o e descanse. Depois tente pegar um sol - ele sorri de fraco e fecha a porta do quarto.

Queria escrever para Eliot, mas ao menos sei seu endereço. Pego no sono e acordo algumas horas depois. Thomas estava em pé ao meu lado.

Hayle - estava me vendo dormir?

Thomas - estava - ele se senta na cama.

Hayle - espero não ter feito muito barulho - eu me sento.

Thomas - não. Apenas babou um pouco - ele brinca - como está se sentindo?

Hayle - como se um elefante tivesse pisado em mim

Thomas - vai melhorar

Hayle - deite aqui - eu abro espaço e ele se senta atrás de mim, e eu encosto a cabeça em seu peito enquanto ele brinca com uma mecha do meu cabelo.

Thomas - alguma novidade de Eliot?

Hayle - ainda nada

Thomas - sabe, eu estive pensando no que ele disse e... talvez ele esteja certo. Talvez devêssemos fugir, só nós dois

Hayle - não podemos, Thomas

Thomas - por que não? Não foi você que me sugeriu isso a alguns dias?

Hayle - isso foi antes de se casar com Emma. Antes de engravida-la

Thomas - que estupidez a minha! - ele reclama frustrado.

Hayle - hey - eu levanto minha cabeça e seguro seu rosto - eu vou estar aqui com você, para sempre

Thomas - para sempre - ele testa a palavra - promete?

Hayle - eu prometo - eu trago seus lábios até os meus, mas a voz de Emma no andar de baixo nos faz se afastar. Thomas se levanta as pressas.

Emma - Hayle, como está se sentindo? - ela vai ao lado de Thomas e segura minha mão.

Hayle - estou péssima, mas vou melhorar

Emma - sei que vai. Se precisar de qualquer coisa, moramos bem aqui ao lado

Thomas - eu ajudo ela - era como se ele a retrucasse.

Emma - e não podemos ser nós dois? - ela pergunta um pouco indignada com a rispidez de Thomas - sinto muito, Hayle. Meu marido não está em uma boa semana

Hayle - não se preocupem com isso. Se não se importarem, eu gostaria de descansar um pouco - tento tira-la do meu quarto antes que ela comece a falar do bebê.

Emma - nem pensar. Sua mãe disse que tem que tomar sol - ela me puxa pelo braço fazendo meu corpo todo latejar de dor.

Emma caminha ao meu lado pelo jardim. Eu geralmente aprecio o tempo que passo aqui, mas sinto que meu corpo vai virar uma gelatina. Estou quente como fogo, mas me sinto como se estivesse congelada. Sinto meu corpo quente mas não meu aguento de frio.

Hayle - obrigada Emma, mas eu realmente não estou me sentindo muito bem - me solto dela e entro em casa.

Estou disposta a seguir rumo ao meu quarto mas passo em frente ao escritório do meu pai que observa intrigante uns papeis.

Hayle - pai? Esta tudo bem? - entro cautelosa com um pé na porta caso ele me expulse por ser assunto de homem.

David - está sim, filha. Só estou cuidando do testamento. Escute, veja se está bom - ele pega os óculos e começa a ler - Eu, David Henrique Bucker, de sã consciência, deixo para meu filho mais velho, Eliot Tyler Bucker, todos os meus bens adquiridos em vida... - não escuto mais nada.

Eliot saiu de casa sem sua permissão. Teve um caso com uma escrava, que me pai acha inadmissível, e gritou para ele o chamando de assassino. E mesmo assim, vai ficar com tudo o que é dele.

David - e então, o que achou?

Hayle - você é... inacreditável. Eliot te humilhou e saiu desta casa!

David - é meu único filho, para quem mais eu deixaria?!

Karen - não! - ela grita chorando da sala. Paramos a discussão e fomos correndo até ela.

David - Karen, o que houve? - ela está chorando em desespero sentada em seu próprio joelho segurando uma carta.

Karen - Eliot se alistou na guerra - ela mal consegue dizer.

David - o que? - ele toma a carta de sua mão e começa a ler - ele vai lutar para abolir a escravidão - ele diz lendo.

Meu coração bate forte e de repente não vejo mais nada. Acordo novamente em minha cama, mais debilitada que antes e várias pessoas a minha volta. Não vejo minha mãe. Todos estão chorando. Emily, Emma, Thomas e meu pai.

Hayle - o que...

David - não fale, querida - ele me interrompe chorando.

Hayle - o que está acontecendo? Por que estão todos chorando? - entro em desespero.

Emily - o médico voltou. Parece que é tuberculose - isso ecoa em minha mente.

Hayle - eu vou morrer? - ninguém responde mas escuto choramingarem - onde está a mamãe?

Emily - não consegue vir. Hayle, eu só queria dizer que eu aprendi muito com você - sua voz embarga - você é a melhor irmã que eu poderia ter e eu nunca vou te esquecer - ela limpa suas lágrimas mas não consigo conter as minhas.

Emma - eu também queria agradecer, por um dia único, maluco e inesquecível, que só Hayle Bucker poderia proporcionar - ela se vira para trás para que eu não a veja chorando e Thomas se aproxima de mim.

Thomas - você prometeu - ele segura minha mão.

Hayle - eu vou cumprir - tento falar mas minha voz falha. Me sinto cada vez mais fraca. Ainda me sinto quente.

Thomas - obrigado. Por ser simplesmente você. Eu te amo

Hayle - eu te amo

Todos passam a tarde ao meu lado. Não consegui me despedir da minha mãe, nem de Eliot. Quando fecho os olhos a noite, não os abro mais.








Fim.

Era uma vez em 1860Where stories live. Discover now