Capítulo 8 - Sem Mais Segredos

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Estou em estado de choque. Estou paralisada e traumatizada pelo resto da minha vida. Neste momento eu gostaria de ser cega. Se tivesse qualquer objeto pontudo agora eu arrancaria meus olhos. 

Hayle - Eliot! 

Eliot - Hayle! Que diabos está fazendo aqui? - ele fica vermelho. Mas não sei dizer se é de vergonha ou raiva. 

Hayle - o que eu faço aqui?! O que você faz aqui! Com... Uma estranha! - no momento em que abri a porta vi ele claramente com a mão por baixo do vestido dela. Ela é negra. Provavelmente uma escrava foragida. 

Eliot - cale a boca! - ele me puxa para dentro e fecha a porta. 

Hayle - Eliot, o que vocês dois estavam fazendo? Quem é essa? - eu sussurro mas ainda mantendo o pânico na voz. 

Eliot - o nome dela é Simone. Ela é filha de escravos - olho para ela e ela está assustada. Seu cabelo é cacheado e preto. Sua pele brilha com a luz que sai das frestas da madeira e seus olhos são castanho escuro. Ela usa um vestido branco e simples, mas está muito sujo. Eu me acalmo e todos parecem se acalmar também.

Hayle - por que não me disse?

Eliot - estava com medo, não podia arriscar que os Collin saibam dela 

Hayle - os Collin? Os parceiros do papai?

Simone - eu fugi de uma de suas fazendas. Não posso voltar, você não pode contar... - ela fica agitada e nervosa.

Hayle - está tudo bem, eu não direi nada a ninguém sobre você - ela se acalma.

Simone - obrigada

Hayle - onde está ficando? O que está comendo?

Simone - Eliot me achou na estrada. Estava com muita fome e fraca, mal conseguia parar em pé. Ele me trouxe aqui e me deu comida

Eliot - depois a levei até Frederico Poncho, soube que ele estava ajudando os escravos que fugiam

Simone - Fred me deu uma cama, comida e me deixa escondida lá. Eliot me visita todos os dias - ela segura sua mão e sorri.

Hayle - sempre soube que meu irmão era uma boa pessoa. E é revoltante os Collin ainda terem escravos 

Eliot - nem todos entenderam quando a escravidão foi abolida 

Hayle - sinto muito que tenha que passar por isso. Se precisar de ajuda, pode contar comigo 

Simone - sou muito grata, Hayle. À você e ao seu irmão - Eliot e eu sorrimos um para o outro. 

Hayle - vou para casa. Se mamãe não me ver em casa para o almoço ela me cozinha. Vim para buscar isto - aponto para a pilha de roupas no canto - são suas, Eliot 

Eliot - eu sei - ele me entrega as roupas. 

Eu me despeço de Simone e vou caminhando para casa. Um pouco mais aliviada por saber que Eliot não está envolvido com uma mulher casada. Mas ainda apreensiva por Simone. Espero que mais ninguém a encontre. Chego em casa e mamãe vem de encontro comigo.

Karen - Hayle! Este é Markus Sinclair - ela me aponta um rapaz que até então não havia notado ao seu lado.

Depois de espantar Markus dizendo que tinha acabado de menstruar eu pego os papeis que estavam guardados em uma caixa no fundo do meu armário e começo a lê-los. A caixa vem enchendo todos dias. Por mais que Thomas não anda vindo aqui, Emma sempre traz as anotações da faculdade por ele.

Dois meses depois... 

Amanhã Thomas e Emma vão se casar. A cada hora que se passa meu estomago parece diminuir consideravelmente. As vezes sinto que não consigo respirar. Todos estão a um milhão. Correndo com roupas, preparativos. Eu sinto que parei no tempo. Vou até a casa de Thomas e subo até seu quarto. Eu bato na porta hesitante. Não sei se estou pronta pra vê-lo. Mas essa será a ultima vez que poderei chama-lo de meu. 

Thomas - já disse que não quero ver ninguém! - ele reclama do outro lado da porta.

Hayle - Thomas, sou eu - ele abre a porta quase que imediatamente.

Thomas - Hayle - ele suspira me nome aliviado e meu estomago diminui mais um pouco - entre - ele abre espaço para que eu entrassem em seu quarto e fecha a porta. Ele está usando um terno preto e a gravata estava jogada em seu pescoço.

Hayle - você está lindo - eu mal termino a frase e ele gruda sua testa na minha e segura minha mão. Seus olhos estão espremidos - Thomas...

Thomas - não diga nada, Hayle. Não me faça mudar de ideia

Hayle - por favor, mude de ideia - ele abre seus olhos e nos encaramos.

Thomas - queria que fosse simples. Se eu disser que não, meu pai me expulsa da família e a única coisa que me restará será meu sobrenome, e nem é lá grande coisa. Se disser a sua família eles farão o mesmo e nós dois morreríamos literalmente de fome

Hayle - eu sei - eu seguro seu rosto com as mãos e o afasto do meu.

Eu o sento na cama e dou um nó na sua gravata e ele segura minha perna, acariciando com os dedos.

Hayle - bem melhor - eu saio da frente do espelho para que ele consiga se ver. 

Thomas - não sabe cozinhar mas sabe dar um nó de gravata - ele sorri.

Hayle - quando você sai por ai escondida vestida de homem, você aprende a fazer algumas coisas - eu sorrio para ele também - vai estar lindo amanhã - seu sorriso se desfaz e ele escora sua cabeça e minha barriga e eu o abraço.

Thomas - queria que fosse você vestida de branco - ele passa sua mão pelo meu quadril e me abraça.

Hayle - estarei de azul. Como o céu no inicio da noite


Era uma vez em 1860Onde histórias criam vida. Descubra agora