Capítulo 2 - Banquete

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Emma - e que tal esse aqui? - ela segura um vestido de noiva e se encara no espelho.

Emily - é maravilhoso Emma, eu adorei! - minha irmã saltita de empolgação - quando eu me casar quero usar um igual

Emma - e você Hayle?

Hayle - é bonito - eu digo breve, não estou nem um pouco empolgada com isso e quero que ela saiba, mas eu com certeza não vou falar isso para ela.

Emma - não o vestido, você não pensa em se casar? Já está ficando velha, com o tempo nenhum rapaz vai te querer - ela me olha pelo reflexo do espelho.

Hayle - eu não quero me casar, não quero viver para um homem. Eu quero estudar, fazer faculdade e dar aulas - eu sinto meu corpo se preencher apenas de imaginar essa possibilidade.

Emily - mas... você é uma garota

Hayle - uma garota pode fazer tudo o que os garotos fazem - eu protesto.

As duas se encaram e começam a rir.

David - qual a graça? - eu pai entra na sala sorridente.

Emily - nada não, só a Hayle e as suas ideias malucas

Hayle - não são malucas!

David - Emily, não zombe a sua irmã - ele se aproxima e deposita um beijo em nossas cabeças - onde está Eliot? - ele procura meu irmão pelo cômodo.

Emily - está com uns amigos da faculdade, disse que logo volta

David - assim que o encontrarem, digam que estou esperando ele em minha sala

Emily - está tudo bem? Está com uma cara preocupada

David - está sim querida, não se preocupe, é só um assunto de trabalho.

Hayle - então nos conte, quem sabe podemos ajudá-lo - eu me aproximo dele e sento no braço do sofá. Papai nunca disse nada sobre os negócios antes, parece interessante e complexo.

David - ora, não seja ridícula Hayle. Isso não é assunto para damas. Que absurdo - ele vai para a sua sala pigarreando.

Emily - se eu fosse você guardaria essas ideias para si mesma - ela diz com um ar empático mas fico incomodada da mesma forma.

Emma - esse ficou bom? - ela coloca outro vestido branco na frente do corpo enquanto minha irmã bate palmas repetidamente. Eu reviro meus olhos e me jogo para trás caindo no sofá.

Depois de longas e torturantes horas vendo Emma em vestidos praticamente iguais eu subo para meu quarto para me aprontar para o banquete. Eu só não entendo o porque de ser aqui em casa sendo que nenhum dos dois moram aqui e meus pais não se dão bem com George, o pai do Thomas. Eu encaro a janela e me pergunto se seria tão ruim assim se eu me atirasse por ela. Escuto leves batidas na minha porta.

Hayle - entre - minha irmã entra e senta na minha cama.

Emily - olha... eu queria me desculpar, sei que ficou chateada hoje mais cedo

Hayle - está tudo bem, eu já estou acostumada - eu sento na cadeira em frente a minha penteadeira.

Emily - eu queria que o mundo fosse do jeito que você imagina. Eu nunca contei para ninguém mas... eu queria usar calças - ela diz baixo como se fosse presa se alguém a ouvisse.

Hayle - calças?

Emily - é, elas parecem confortáveis - paro para pensar nisso pela primeira vez e acho que ela tem razão. Por que os homens não usam espartilhos? Por que as mulheres tem que usar? - bom, fique bem - ela se levanta, beija a minha testa e se retira.

Eu respiro fundo. Vamos lá, Hayle. A noite está só começando. Desço até a sala e minha mãe e minha irmã já estão recebendo alguns convidados. Sorrio quando vejo Thomas adentrar a porta e seus olhos verde claro brilham assim que pousam nos meus castanho claro sem graça. Ele acena para mim e vem ao meu encontro.

Thomas - oi. Trouxe para você - agora reparo que ele carrega uma pasta nas mão - mas não abre aqui - ele diz me impedindo de continuar abrindo ela.

Hayle - o que é? - pergunto baixo.

Thomas - é uma surpresa, talvez um presente

Hayle - eu vou subir para o meu quarto, espere um pouco e venha me encontrar

Ele acena com a cabeça e eu torno a subir as escadas tentando manter a pasta longe da vista das pessoas. O que não foi muito difícil já que logo em seguida Emma chega e todos ficam ocupados parabenizando os noivos.

Hayle - você demorou! - digo ao Thomas irritada depois de esperar por longos minutos  assim que ele entra no quarto.

Thomas - me desculpe, a sua mãe convidou muita gente e todos vieram apertar a minha mão - ele observa a pasta na cama - você ainda não abriu - ele diz surpreso.

Hayle - quero abrir com você - ele sorri e senta na minha frente.

Abro a pasta e nela estão várias folhas com anotações e desenhos.

Hayle - o que é isso?

Thomas - são todas as anotações que eu tomei da aula - Eu volto a encarar os papéis.

Hayle - isso é sério? - eu fico empolgada e começo a ler.

Thomas - vamos fazer isso juntos. Eu vou te trazer as anotações todos os dias

Hayle - obrigada! Obrigada! Obrigada! Obrigada! - eu pulo em seus braços e ele me abraça.

Thomas - você gostou?

Hayle - eu adorei! - ele sorri satisfeito.

Começo a ler com calma as anotações. Estou deitada com a cabeça no peito do Thomas enquanto ele acaricia as mechas do meu cabelo e me explica exatamente o que cada linha queria dizer. Já me sinto uma arquiteta.

Hayle - o que é isso? - aponto para um endereço marcado na ultima página.

Thomas - é uma palestra que vai ter no museu. Clark Oscar vai ministrar, dizem que ele é o melhor arquiteto da Inglaterra

Hayle - parece incrível - olho animada para o endereço como se ele fosse me ministrar uma palestra sobre arquitetura. Mas logo meu sorriso se dissolve ao lembrar que eu nunca verei nada parecido.

Thomas - o que foi?

Hayle - nada, é só que... queria poder ver

Thomas - eu te conto

Hayle - eu sei, mas não é a mesma coisa. Queria ser homem! - bato na cama revoltada mas é como se eu acabasse de ter uma epifania - talvez eu possa ser

Thomas - como é? - ele para de alisar meu cabelo e eu me levanto.

Hayle - é! Você poderia me emprestar uma roupa sua e ai eu poderia ir, ninguém iria saber

Thomas - essa ideia é horrível - ele se levanta também.

Hayle - por que?

Thomas - se pegarem a gente...

Hayle - não vão nos pegar. Por favor Thomas, sabe como isso é importante para mim - ele bufa e abaixa a cabeça.

Thomas - tudo bem - ele diz baixo.

Hayle - isso! Obrigada! - eu o abraço e logo escuto um barulho, fazendo nós dois nos afastar rapidamente - se esconde!

Thomas rola para debaixo da cama e eu corro para a minha penteadeira. Em seguida alguém abre a minha porta sem nem mesmo pater primeiro.

Hayle - Eliot! - eu o repreendo assim que avisto seu rosto - não pode entrar assim, e se eu estivesse sem roupa?!

Eliot - desculpa - ele diz com dificuldade. Está bêbado de novo - estão procurando o Thomas e achei que tinha ouvido a voz dele

Hayle - ouviu errado. Agora saia do meu quarto - ele levanta as duas mãos e sai cambaleando pelo corredor. Eu fecho a porta e respiro aliviada - eu vou lá para baixo e você desse depois

Thomas - tá

Era uma vez em 1860Where stories live. Discover now