Passado ≈ 20

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Ethan Whyne, dezessete anos.

Ettore me olhou com os olhos arregalados, quando viu minhas mãos sujas de sangue.

— você...

— não, Tore. Agora não — falei o empurrando levemente para o lado, querendo passar.

— mas você...

— Ettore, NÃO! — gritei, me virando bruscamente para ele.

O sangue seco em minhas mãos estavam me incomodando, o suor estava me incomodando, a dor de cabeça, raiva de Robert, receio por minha mãe e todo o resto estava me incomodando.

Os olhos do menino encheram de lágrimas, os meus olhos também encheram de lágrimas e a raiva compulsiva por estar me submetendo a aquilo também.

— ele...

— Ettore, CALE A PORRA DA BOCA! — gritei sentindo meu coração vulnerável, sentindo meu corpo esquentar e meu cabelo coçar.

Uma mosca pousou em meu braço, o mexi com força, passando pelo menino que me olhava com os olhos cheios de lágrimas.

Vi minha mãe passar de forma rápida para o outro lado, sem nos olhar. Seu olhar estava sob o chão e seu vestido — a bainha — estava rasgado.

Tentei não pensar sobre seu andar, se estava mancando ou normal porque no fim aquilo não importava.

Minutos depois — dois para ser exato —, mãos pequenas voltaram contra minha perna, me fazendo quase torcer a cabeça com cabelos castanhos no impulso.

O corpo de Ettore estava colado as minhas pernas, o mesmo tremia enquanto chorava de forma silenciosa e, ao invés de ajudá-lo como fazia de costume, me vi o empurrando contra o chão.

Ettore precisava ser forte para quando eu não estivesse ali.

— ME DÊ UM TEMPO, PORRA! — gritei quando o empurrei novamente, e suas lágrimas agora entravam na boca aberta, que continha um grito silencioso — E PARE DE CHORAR, PORRA! VOCÊ PARECE UMA MENININHA!

Ettore se levantou novamente, seu corpo encolheu quando dei um passo para frente e seus olhos castanhos demostraram uma coisa que nunca imaginei ser direcionado para mim por meio do meu irmão.

Medo.

Senti o arrependimento bater em mim com força, quando me aproximei novamente do garoto e ele recuou, tropeçando nos próprios pés.

Ele só tem dez anos.

Ele é só uma criança, como eu fui.

— Tore? — o chamei, me aproximando, sentindo a água pingar da minha mão — Tore, me desculpa, eu...

O menino me olhou, seus lábios agora tremiam e o medo estava ali, mesmo que ele estivesse tentando esconde-lo.

Medo.

Ettore tinha medo de mim.

Ettore tinha medo de mim.

Eu estava com medo de mim.

Passado vol.2 - El fin Where stories live. Discover now