VIDAS EM TRANSIÇÃO

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Alice acordou atordoada, logo reconheceu que estava no quarto do Danilo, era a terceira noite que dormia naquela cama, e todas as manhãs ao abrir os olhos, as palavras do Miguel de imediato via-lhe a mente, as poucas horas de sono em mais uma noite, não foram suficiente para esquecer toda carga de emoção para ao⁸ relembrar o que passou com a Clarice.

Olhou para o filho adormecido com os braços estendidos na lateral de sua cabeça, ouviu um barulho de porta sendo fechada. Sentou na esperança de Miguel está saindo para trabalhar, pois teria que entrar no quarto dele, havia pego apenas o necessário de suas coisas.

Ao pensar que não dividiria mais a mesma cama com ele, sentiu vontade de gritar, irritada, jogou o lençol com violência e saiu da cama.

Ficou em pé na porta e ouviu o silêncio, foi para o banheiro se sentindo segura por não vê-lo e após um banho foi pegar uma roupa no armário, iria acompanhar Solange ao hospital para ela fazer uma biópsia na mama.

- Você vai tomar café antes de sair?
Alice se assustou com a voz de Miguel entrando de repente no quarto, cobrindo sua nudez com as mãos, mas não deu tempo, ele a envolveu em seus braços.

- Quieta, eu preciso disso, não sabe o inferno que estou passando todas as noite depois que saiu do nosso quarto, respeitei esses dois dias que não quis falar comigo, mas não suporto passar mais um dia longe de voce.

- Estou só de calcinha...

- Do jeito que eu gosto, conheço cada pedacinho desse corpo de olhos fechados. Estou tendo noites de cão sem você em meus braços, te fiz chorar e nem pude te abraçar.

Sem ter como sair dos braços fortes de Miguel e também querendo apagar sua noite mal dormida, descansou a testa em seu ombro e recebeu um beijo no topo da cabeça. Ele falou pausadamente.

- Desde a nossa primeira noite, me pergunto como essas cicatrizes foram feitas, quando soube que foi sua mãe... - Ele se corrigiu. - Que foi a Clarice, queria ouvir de você o quanto ela te machucou.

- Não gosto de falar sobre isso.

- Eu sei, meu amor! - Ele a apertou mais em seus braços. - Me sinto mais íntimo de você sabendo sua história. Não planejei saber em meio a uma discussão. Me perdoa, fui um canalha, imbecil por falar daquele jeito, se eu pudesse apagaria, mas não posso.

Ele segurou seu rosto entre suas mãos e beijou sua testa.

- Você é uma mulher incrível e uma mãe maravilhosa, não sabe o quanto te admiro, porém você está errada, eu não amo a Yara, sinto esse dever de ajudá-la e estou te magoando com isso.

- Não pense que sou insensível ao sofrimento dela...

- Também sei disso. Quando me separei, ela me acusou de egoísta, e estou sendo com você também, casei para ser para sempre, sim, era meu desejo, por isso com o tempo cedi as vontades dela e quando quis mudar, já era tarde demais, éramos pessoas diferentes e infelizes.

Ele beija seus olhos inchados.

- Quero que a gente der certo. Eu errei quando não te levei comigo ao velório da dona Maria, quando não falei dos sentimentos da Yara, queria preservar o que temos, eu vi como você ficou quando ela esteve aqui, mas acredite em mim, em nenhum momento eu a correspondi, sempre deixei claro que sou apaixonado e feliz com você.

Alice sentiu seu coração acelerar, uma agitação interior, tudo que planejou durante as horas acordadas sumiu de sua mente. Subitamente se afastou dele, as mãos úmidas, sentindo-se insegura, sua voz fraquejou ao confessar:

- Eu sou apaixonada por você e ver você ao lado dela...

Sua boca é tomada por um beijo e seu corpo prensado no armário, ela enlaça o pescoço do Miguel que sorri sem afastar seus lábios.

UMA NOITEWhere stories live. Discover now