FIM DE UM MUNDO

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Em pé no corredor, Alice ouviu a porta do elevador fechar, por dois anos ela era uma espécie de porta imaginária para o mundo da Clarice, onde ela vestia uma máscara de filha que cedia aos seus desejos. Vestida de medo não se atrevia a desobedecê-la, mas Alice não era mais a garota sonhadora, esperando que seu pai bateria na porta para socorrê-la.

O sonho era uma prova disso, nem nele o seu pai mostrou o rosto, ela tinha apenas a si mesma. Determinada e cheia de coragem, abriu a porta do apartamento, esperava ver algo fora do lugar, mas tudo na mais perfeita ordem, até o silêncio não havia mudado. Suspirou, apertou a alça da bolsa, andou em direção ao seu quarto.

Outra surpresa, tudo no lugar. Girou seu corpo para confirmar, abriu as portas do armário e ficou intrigada. "Onde ela poderia estar?" Era uma quarta feira já deveria ter ido trabalhar, mas não se atreveria a bater na porta do seu quarto para confirmar.

Há dias escondia a barriga, agora não havia mais motivos para isso, tomou um banho, vestiu um roupão e saiu do banheiro, mas antes de conseguir cobrir seu corpo com ele, paralisou ao ver a Clarice sentada na cadeira da sua pequena escrivaninha, batendo os dedos em seu joelho, ficaram se olhando, analisando-se mutuamente.

Alice não era mais um cordeiro assustado e sustentou o olhar da Clarice. Como um animal que defende seu filhote quando ameaçado, pôs as mãos sobre a barriga, mas não foi o bastante para impedir uma Clarice selvagem levantar tão rápido e avançar sobre ela e arrancar seu roupão deixando sua barriga exposta.

- Até quando acha que esconderia isso de mim? - falou com escárnio, apontando para a barriga. - Eu esperei qualquer coisa de você, menos que se tornaria uma vagabunda, se era para abrir as pernas e arrumar um bastardo porque não fez isso com o Juarez, pelo menos sua família é rica.

Alice continuou em pé, assegurou proteger a barriga, mas não baixou a cabeça como fez tantas vezes, quando a mulher que conhecia como mãe lhe agredia e ameaçava.

- Sua sorte ontem, foi a Lúcia estar presente, hoje já me ligou para saber de você. É uma iludida da vida, acha que você é a filha perfeita, mas não sabe os sacrifícios que fiz para te criar.

Agradeceu internamente por mais uma vez Lúcia está presente, enquanto acompanha seus movimentos.

- Aposto que tem dedo daquela sua amiga - Sorri enquanto falava, mas não é de alegria. -, agora me diga se ela vai te ajudar a criar...

- A Solange não tem culpa...

- Ainda se atreve a me responder, sua... - ela aproxima-se com a mão erguida, mas recua quando ver Alice erguer a cabeça em desafio em sua direção. - Você é uma imprestável como o seu pai, graças a ele você nasceu eu deveria ter abortado, mas não, aquele idiota chorou, é o fruto do nosso amor, não sabe como me arrependo!

Alice piscou várias vezes, apoiou a mão na escrivaninha para não cair o pior foi ver o sorriso nos lábios da Clarice e o mais surpreendente foi o brilho em seus olhos ao falar e ver a reação que causava da Alice. O prazer que sentia ao lhe causar dor, histérica, continuo falando.

- E no final não me serviu para nada, nem para segurar aquele idiota você serviu, como fui burra - batia no peito andando em círculos. - Devia ter deixado ele te levar como ele pedia, mas não...

- Ele queria me levar - repito sem acreditar. - O papai queria me levar e você não deixou? Por quê?

Ela gargalhou muito alto. Crispou os olhos quase dava para ver sua boca salivar ao falar o motivo e ver a expressão da Alice.

- Para me vingar, ele não havia ido embora antes por sua causa, porque não tinha para onde te levar.

- Mãe... onde ele está, a senhora sabe? - Tentou tocar nela, mas ela repeliu seu toque com um tapa na mão de Alice.

UMA NOITEWhere stories live. Discover now