MUNDO DO MIGUEL

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- Não, Danilo, você pode se machucar!

Alice desviou os olhos da estante, para chamar a atenção do filho, já havia contado todos os livros, às vezes alternava a contagem entre os que estavam em pé e os deitados, para ter mais opção contava por cores.

Como Danilo não obedeceu, teve que pegá-lo pelos braços e colocá-lo de volta no chão.

-Não pode ficar pulando no sofá! -Ele reclamou, mas aceitou quando lhe foi entregue folhas e lápis para riscar. -Muito bem, olha que coisa boa, já parou de chover.

O dia continuava nublado, mas não estava frio, olhou para o céu, era estranho a visão por causa da tela de proteção, foi uma das primeiras providências tomadas pelo Miguel após a noite de confusão com seus amigos.

Naquela noite foi acertado depois que todos se acalmaram e conseguiram conversar, ou melhor, eles fizeram um acordo escrito onde as partes interessadas declaram o que queriam, no caso ela foi representada por Max e Solange.

Rebeca que se declarou fã e amiga do Max, com ajuda pegou suas panelas e acabaram todos jantando no apartamento do Miguel para formalizar o acordo. Flor não falou, mas parecia encantada por ele.

Isso aconteceu há uma semana, porém Alice ainda sentia o constrangimento de todas as cláusulas que Miguel teria que cumprir, algumas já foram feitas; o exame de DNA e o reconhecimento de paternidade ela achou natural e aceitável, no entanto não pode se contrapor a todos: ficou acertado que ela não pagaria aluguel a ele, nem ajudaria nas despesas do apartamento nem tão pouco nos gastos com filho.

Era o preço por Miguel não conhecê-lo antes, Solange sabia que ela aceitaria, pois Alice não iria privar o filho de viver com o pai, porém o preço mais alto seria dela, novamente estava vivendo em um mundo que não era o seu e de novo teria que vigiar seus atos, controlar seus sentimentos e limitar suas palavras.

O mundo do Miguel era colorido, cheio de palavras, sabores, risos e onde o dono era o maior perigo: com sua presença marcante, cheiro másculo, com seu corpo em apenas um short quando tinha que pegar o Danilo quando chorava para tomar banho com ele ou quando retornava da suas corridas na praia, suado, ofegante e sorrindo, até quando estava arrumado para trabalhar, era impossível não observar.

Ligou a tv e Rebeca Aguiar apresentava o jornal do meio dia, sua voz imponente invadiu a sala. Alice sorriu ao lembrar do jeito que ela falava "Ana do Miguel". Ainda confundia ao falar seu nome, mas concordava que ela e o Antônio formavam um casal perfeito.

"Mais uma quarta feira e mais um dia para a nossa especialista em assuntos de família responder as perguntas que os nossos espectadores enviaram para a nossa produção..."

Tentou prestar atenção na reportagem, mas desistiu, voltando a preencher o formulário que junto com as xerox dos seus documentos entregaria na policlínica São Mateus. Há uma semana o Antônio anunciou que teria uma vaga para ela trabalhar na recepção, ainda pensou em não aceitar, mas na posição em que se encontrava não daria o luxo de recusar uma oferta de emprego.

Engoliu o orgulho e agradeceu, mesmo sabendo que foi o Miguel que havia intercedido por ela, achou melhor calar-se. Era mais um favor que devia a ele, já que não teria despesas no período em que estiver morando com ele.

- Papai!

Ouviu o filho falar, tornou-se um hábito ele querer o pai, parece que sabia a hora que o pai chegava...

Alice virou o corpo no sofá e viu Miguel com um sorriso imenso para o filho, escondido, apenas se via sua cabeça, ela também sorriu com a corrida que o Danilo fez e jogou-se nos braços do pai.

UMA NOITEUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum