❦ 𝕮𝖆𝖕𝖎́𝖙𝖚𝖑𝖔 𝟖

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     Portanto, lá estava ela, observando o caixão ser coberto de terra por dois coveiros. Aquele ato fez tudo se tornar real para Emilly, que só então pôde acreditar de fato na morte da vovó Flora.

— A senhorita... gostaria de um momento sozinha?

     Heidi se mantinha ao seu lado desde que ambas se viram, e aquelas eram umas das poucas palavras que dissera. Sua voz era doce e melodiosa, quase sedutora, mas Emilly não sentia nada. Ela não era afetada, talvez pela enorme tristeza que sentia.

     A jovem acenou positivamente, sem realmente se virar para encará-la. O toque gélido em seu ombro foi a última coisa que sentiu antes que a mulher se afastasse.

     Emilly esperou alguns instantes depois que ela e os coveiros se afastaram antes de erguer a cabeça e respirar profundamente. Um soluço escapou fracamente, mas seus olhos não lacrimejaram. Depois de passar horas chorando, dormindo e acordando apenas para voltar a chorar e repetir todo o ciclo, ela pensava, talvez tivessem secado seus olhos.

     Infelizmente não podia dizer o mesmo do vazio em seu peito. Pelo contrário, ele aumentara consideravelmente. Sentindo-se desamparada, ela abraçou o próprio corpo, abaixando a cabeça e se encolhendo fortemente.

     Emilly queria chorar. Queria arrancar o coração de seu peito e substituí-lo por outro, queria se dopar do remédio mais forte que encontrasse e dormir, esquecer de tudo que acontecera nas últimas vinte e quatro horas e apenas... dormir. Sim, dormir seria uma boa ideia.

— Senhorita?

     O toque frio de Heidi em seu ombro retornou, e fez tais pensamentos se dissiparem rapidamente. A Richards ergueu a cabeça, sequer fazendo esforço para sorrir ou falar.

— Vamos? — a mais velha murmurou com um sorriso compreensivo — Ela já descansou.

     Emilly assentiu, dando alguns passos a frente e tocando na lápide de bronze. As inscrições eram claras. Florence Leroy Durand. 1907-2016. A última e mais bela flor do Jardim Leroy.

— Fique em paz, vovó... — sussurrou, em um tom de voz quase inaudível.

     Ela pôs as mãos dentro dos bolsos do casaco que usava e seguiu em frente pelo caminho que imaginava levar à saída do cemitério, ciente da presença de Heidi pouco atrás de si.

     Os pensamentos sobre dormir retornaram, e continuavam lhe parecendo uma boa ideia momentânea. Poderia dormir por várias horas, e quando acordasse comeria algo e voltaria a dormir. Estaria apenas sobrevivendo, mas seria melhor do que continuar lidando com o luto e tudo o que ele envolvia.

     Sem estar atenta, a mulher continuou o seu caminho, não percebendo que estava na rua até que sentisse o abraço gélido de Heidi que, de repente, se encontrava na sua frente.

— A senhorita quase se machucou. — murmurou, olhando para trás por um momento — Eu deveria ter estacionado mais perto da entrada.

     Ela se afastou, fazendo Emilly ver a rua movimentada, mas não fora aquilo que a fizera franzir a testa. Como Heidi conseguiu...?

Senhorita? — a mulher chamou de forma cuidadosa — Vamos? Gostaria de voltar ao hotel?

— Como você fez aquilo? — Emilly murmurou.

— Ando rápido. — Heidi deu de ombros, guiando-a para o carro preto estacionado pouco mais a frente.

     Já dentro do veículo, ela se certificou de que a mais nova estivesse com o cinto de segurança antes de ligar o motor e dar a partida.

EMILLY | 𝓒𝓪𝓲𝓾𝓼 𝓥𝓸𝓵𝓽𝓾𝓻𝓲                 ⁽ᶜᵒᶰᶜˡᵘᶤ́ᵈᵃ⁾Onde histórias criam vida. Descubra agora