— Bom dia! — Heloísa sentou-se na cadeira vaga ao seu lado, assustando-a.

— Pelo amor de Deus, Helô! Quer me matar do coração? — Isadora perguntou, assim que se refez do susto.

— Não imaginei que estivesse no mundo da lua! — Heloísa se desculpou — Pensando no motorista bonitão? Bem, porque aquela explicação que deu ontem no seu apartamento foi bem mais ou menos.

— Queria que fizesse o que? Não sou tão íntima do André e ficou evidente que ele não estava confortável com o assunto.

— Acabou de me passar duas informações: primeira, se estivéssemos só eu e você, talvez tivesse dito que ficou atraída pelo cara que te deixou molhadinha — Heloísa foi maliciosa e sorriu diante do olhar que Isadora lhe dedicou — Onde está seu humor, mulher? Não podia deixar passar o trocadilho — seu sorriso fez-se maior ao perceber que Isadora odiara a brincadeira — Voltando: a segunda informação é que não deseja magoar o André...

— Às vezes Helô, acho que você está no segmento errado, deveria assumir a minha coluna, porque vê relacionamento em tudo! — Isadora rebateu, fazendo Heloísa rir.

— Não tenho culpa se percebo as coisas com facilidade — deu de ombros, depois ficou séria — O André vai ligar hoje à noite, e chegamos à conclusão que é melhor nos reunirmos em seu apartamento novamente.

— Não queria envolvê-los nisso... — Isadora suspirou, afinal, nem ela queria estar envolvida em uma trama daquelas.

— Tarde demais — Heloísa fez um gesto com as mãos.

— Eu sei, mas... — Isadora pensou em Lorena — Não acho justo prosseguirmos sem informar a principal interessada. E, no entanto, não estou nada feliz em ter que fazer isso.

— Eu a entendo perfeitamente Isa, mas se ela a procurou, acredito que deseje saber — fez uma pausa — Diria mais até: ela precisa muito dessa resposta, por mais que suas feridas sejam reabertas — Heloísa refletiu num tom pesaroso.

— Sinceramente, acho que essas feridas nunca chegaram a cicatrizar — revelou a impressão que tivera e, logo em seguida, decidiu-se por entrar em contato com Lorena e colocá-la a par de tudo o que haviam descoberto, ainda que fosse pouca coisa — Como esse não é um assunto para ser tratado de qualquer maneira, enviarei um e-mail para ela e pedirei que me ligue durante o horário de almoço. Foram tantas as informações que simplesmente me esqueci de pegar o número de telefone dela — Isadora desviou o olhar para a tela do computador.

— Sim, faça isso. Hoje não almoço com você para que tenha mais liberdade para falar com ela, pois acredito que será uma conversa bem complicada — Heloísa avisou, levantando-se — E à noite nós três saímos daqui direto para sua casa — ela comunicou e Isadora não pôde dizer nada, porque como a própria amiga dissera, os dois já haviam se envolvido naquela história.

Assim que ficou sozinha, Isadora abriu a caixa de e-mail e tentou começar a mensagem. Foram várias tentativas, escritas e apagadas. Por fim, decidiu-se por algo mais curto e direto: "Preciso falar com você, tenho novidades em relação ao cartão. Por favor, me ligue no horário do almoço". Colocou ainda o número do seu celular na mensagem e apertou o botão enviar. Talvez Lorena não estivesse diante do computador, pois ela não recebeu nenhuma mensagem em resposta.

Para não pensar muito nisso, resolveu trabalhar na matéria para a próxima edição e ler algumas mensagens recebidas em resposta à sua chamada. Manter a mente ocupada diminuiu a sua ansiedade e fez com que a dor de cabeça passasse.

Na hora do almoço, escolheu um restaurante que ficava a uma quadra da redação. Só havia conhecido o lugar graças a André que a convidara certa vez. Hoje mesmo, se ele não fosse passar boa parte do dia fora da redação, era capaz de estar lá. Porém, agradeceu não encontrar ninguém da revista e preferiu uma mesa mais discreta no fundo do restaurante. Embora não tivesse nenhum apetite, pediu algo leve e conseguiu almoçar. Faltando exatamente dez minutos para o término de seu horário de almoço seu celular tocou.

Projeto Don Juan (Degustação)Where stories live. Discover now