Capítulo 3

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Em que se resgata a conversa entre Thalles e Leo:


A condição para que Thalles explicasse o que quisera dizer foi a de que Leo colocasse uma roupa, afinal já não era mais tão cedo assim para continuar como se tivesse acabado de acordar.

Pela curiosidade, Leo foi até o quarto e se vestiu rapidamente, encontrando uma bermuda preta e uma camiseta branca regata. Aproveitou para molhar o rosto, pois a dor de cabeça ainda não o tinha abandonado. Secou-o rapidamente, interessado em escutar tudo o que o primo tinha a dizer.

Voltou à sala o quanto antes e, quando apareceu, Thalles já o esperava e lhe fez um sinal para que se sentasse, ao qual Leo aceitou o convite prontamente.

— Pronto, agora não tem mais nada que o impeça de me contar de que raios você está falando. O que Dom Juan tem a ver com o que vocês fazem e o que quis dizer com "ganham dinheiro, seduzindo mulheres"?

Thalles sorriu, sentando-se diante do primo.

— Quis dizer exatamente isto. No entanto, explicarei tudo e quantas vezes forem necessárias, até que não tenham sobrado dúvidas. O que me resta, no dia de hoje, é tempo — Thalles comentou com naturalidade e viu Leo se ajeitar para escutar o que ele tinha a dizer.

— Também não tenho nenhum compromisso — Leo disse irônico — Que tal começar? —demonstrou sua impaciência e Thalles concordou.

Falar sobre aquilo era fazê-lo reviver um período distante, no qual sua vida tinha mudado radicalmente. Sem ele, jamais teria chegado até ali, mais exatamente àquela cobertura, àquele padrão de vida.

— Eu era bem novo, Leo, muito mais do que você e trabalhava em um clube tradicional em São Paulo. Aquele tipo de clube no qual os sócios são escolhidos a dedo, não bastando ter grana para serem aceitos. Apesar de eu ser apenas um garçom, tinha contato com todos aqueles sócios, e invejava o modo como os homens se vestiam — sorriu com a lembrança — Tem noção do que é ser filho de um alfaiate cujos clientes eram homens elegantes; admirar os ternos que ele fazia e não poder nem ao menos chegar perto? Sim, porque se os clientes do meu pai imaginassem que sua peça exclusiva tivesse sido usada, eram capazes de desistir do negócio, não levar o terno, muito menos pagar por ele. Enfim... Não estou me justificando. Apenas, tentando dar pigmentos ao jovem que era naquela época.

Leo estava prestando tanta atenção que piscava pouquíssimas vezes.

— Ganhava boas gorjetas, porém, esta não era a melhor parte do meu trabalho — era como se pudesse visualizar tudo aquilo — Não tinha a confiança que tenho hoje, mas o melhor mesmo eram as frequentadoras. A maioria era bem cuidada, bonita, gostosa. Principalmente as mais novas, embora houvesse algumas coroas que colocavam no chinelo muitas jovens. Além de não ter a confiança que tenho hoje, não podia perder meu emprego; logo, por mais atraentes que fossem, não devia cobiçá-las. Aliás, não constranger as sócias era uma das recomendações que todos os garçons, principalmente os mais novos, recebiam. Seguia as regras, porque achava que mulheres como aquelas nunca dariam oportunidade para rapazes como eu, apesar da minha boa aparência.

— Porém, algo aconteceu — Leo o interrompeu.

— Alguém aconteceu — Thalles o corrigiu, recordando-se da mulher. Por instantes, sua memória olfativa trouxe-lhe o aroma do perfume que ela usava — Constança Amarante de Souza Ramos — proferiu o nome, do modo como a socialite gostava de dizer, sempre que questionada — Uma mulher linda. Tinha quarenta e dois anos, mas aparentava dez anos a menos. Por mais que fôssemos instruídos a não olhar para as clientes, com ela era impossível. A mulher além de naturalmente sensual e elegante, tinha uma bunda que... Nossa, ainda que fosse naturalmente esculpida em uma clínica, era irresistível. Nunca consegui desviar meu olhar de suas caminhadas e, confesso, que não era o único que se trancou no banheiro por tempo maior do que o necessário, após vê-la se afastar. Quando se é jovem, você sabe, somos apenas testosterona. Eu a desejava, mas sabia que era mais fácil ficar rico do que tê-la um dia.

Projeto Don Juan (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora