Capítulo 7

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Isadora até tentou prosseguir o caminho até sua casa em silêncio, porém, isso foi impossível, porque o motorista puxava conversa todo momento.

— Deveria ser taxista — comentou, quando finalmente sua paciência chegou ao fim e o viu abrir um sorriso que era, ao mesmo tempo, tímido e provocante.

—Suponho que vá me explicar o porquê — soou seguro e seu tom era de quem se divertia, esperando pela resposta que, conforme já percebera, estava na ponta da língua.

— Taxistas geralmente puxam conversas, ainda que os passageiros não estejam predispostos a mantê-las — explicou, olhando para a janela.

Talvez tivesse sido má ideia aceitar a carona, no fim das contas. Não que ele lhe tivesse faltado com o respeito, no entanto não conseguia tratá-lo da mesma maneira que o trataria caso tivesse o conhecido em outro lugar, numa ocasião diferente.

Ainda estava sob efeito do que ouvira de Lorena e o incidente fizera com que ela projetasse nele toda a indignação que estava sentindo, como se o homem tivesse alguma culpa.

— Pelo menos você é direta — Fael comentou em tom de aprovação — O que é uma qualidade. Acabou de me dizer que minha conversa é maçante e que estou forçando a barra. Muitas mulheres ririam, continuariam ouvindo e não diriam nada.

— Não é que seja maçante, que dizer, talvez seja, porém, ainda que não seja, no momento sou tentada a achar que é — confusa, tentou se explicar, fazendo-o sorrir mais uma vez — É que não começamos com o pé direito e isso está interferindo no meu julgamento e você sorrir a todo o momento me irrita — apesar do conteúdo, a declaração foi feita de forma ponderada.

— Tudo bem. Peço desculpas novamente — segurou-se para não sorrir, pois era a vontade que tinha, pois, além de bonita e brava, considerou-a engraçada. Algo que atiçava sua curiosidade para saber mais a respeito dela. Queria fazer-lhe um milhão de perguntas, mas sabia que ela não responderia, porque, como ela mesma enfatizara, o incidente acabara criando uma barreira entre eles.

Se ela fosse uma de seus "trabalhos" saberia exatamente como agir, entretanto conhecê-la daquela forma subtraíra uma de suas principais armas nos encontros: a empatia. O modo como ela estava sentada demonstrava isso. Muito reta, encostada no banco, com os braços cruzados sobre o busto, mesmo que eles não estivessem mais expostos, por ter emprestado sua jaqueta para ela.

Com Gustavo, que era um estudioso sobre o assunto, comprando todos os livros que saíam a respeito, Fael aprendera a prestar atenção nos sinais que o corpo emitia e era impressionante o nível de acerto. Naquele momento, por exemplo, a postura dela evidenciava a resistência que lhe devotava. Pensando nisso e não querendo irritá-la novamente, seguiu o restante do caminho em silêncio.

Quando havia perguntado o endereço, imaginara que ela lhe dissesse uma rua próxima de onde morava, portanto, foi com surpresa que estacionou diante de um prédio que não era novo, mas também não era um dos mais antigos, sem muito luxo, mas longe de ser um lugar ruim para se viver.

— Parece que cumpriu sua palavra — Isadora não escondeu o alívio por terem chegado.

— Sempre cumpro — Fael encarou-a, enquanto soltava o cinto de segurança — Era o mínimo que poderia fazer depois do incidente.

— Incidente seria se você estivesse em uma velocidade decente — deixou escapar e Fael não conseguiu deixar de sorrir. Porém, agora o sorriso saiu encantador, fazendo com que ela se sentisse tola, pois ele estava sendo gentil, admitindo o erro e ela continuava implicando — Olha só, desculpe-me e muito obrigada pela carona — assim que se livrou do cinto, estendeu a jaqueta de couro para ele.

Projeto Don Juan (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora