Capítulo 5

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A casa era maravilhosa, toda decorada em tom pastel e planejada para dar acessibilidade a uma cadeirante. Mesmo sem querer, Isadora se pegou prestando atenção a todos os detalhes, tudo de muito bom gosto. Foi seguindo Lorena sem conter seu olhar curioso que ia passeando em quadros, porta-retratos, vasos e tudo o mais que contavam um pouco a história daquela jovem mulher à sua frente.

Quando finalmente chegaram a uma espécie de escritório, Lorena parou a cadeira de rodas e esperou que Isadora entrasse, fechando a porta após isso.

— Por favor, acomode-se — fez um gesto à jornalista. Ainda que não quisesse, as palavras da moça sempre saiam duras, deixando Isadora cada vez mais intrigada.

Isadora sentou-se muito ereta, contendo a vontade de esfregar uma mão na outra. Não queria mostrar o quão impaciente estava, embora duvidasse que Lorena não tivesse percebido. Do mesmo modo que a analisava, sabia que era alvo de análise. Não sabia o que Lorena pensava dela, mas já tinha feito sua primeira observação a respeito da sua entrevistada: uma bela mulher, com o olhar mais triste que já vira.

Lorena conduziu a cadeira de rodas e parou a poucos metros de onde Isadora estava sentada. De modo direto, sem desviar seus olhos dos dela, iniciou a conversa com uma pergunta.

— Vai anotar ou gravar?

— Sei que vai parecer excentricidade, no entanto, ainda que eu tenha trazido um, não gosto de gravadores. Acho que tira a espontaneidade da conversa. Prefiro anotar os pontos que achar mais importantes — Isadora respondeu calmamente, porém, não conteve sua vontade de questioná-la — Posso saber por que eu e por que agora?

Lorena sorriu, pois não esperava por aquela pergunta. No entanto, não deixaria de responder.

— Como pode ver, na minha atual condição não tenho muitas opções de lazer. Ler é algo que posso fazer sem problemas. Logo, acabei conhecendo a revista para a qual escreve. Posso dizer que aprecio a sua escrita limpa, sem muitos rodeios. Clara e objetiva. A sua chamada da próxima matéria parece que foi direcionada a mim. Por isso, senti-me tentada a respondê-la e aqui estamos.

A resposta de Isadora foi um sorriso, afinal não era sempre que recebia um elogio tão sincero e descomprometido.

— Podemos começar? — Lorena quis saber.

— Claro — Isadora apanhou o bloco de anotações — Quando quiser.

— Poderia começar com "Era uma vez" e não soaria falso, porque há um ano eu vivi um conto de fadas — Lorena iniciou e Isadora teve certeza de que seus olhos brilharam com a simples lembrança — Tinha acabado um namoro complicado, quando conheci o Otávio. Lindo, moreno, alto, olhos azuis... Aquele tipo de homem que só anda com as melhores garotas... — fez uma pausa — Nós nos encontramos por acaso, quer dizer, na ocasião pensei que o acaso havia sorrido para mim ao colocar aquele deus no mesmo elevador que eu. Sabe... Eu me lembro como se fosse hoje, evitei olhá-lo diretamente, porque ele era tão bonito que tinha medo que percebesse o quanto estava impressionada. E além do mais, homens como ele, não olham para garotas como eu. Quer dizer, podem até olhar, mas namoram as beldades.

— Como se você fosse feia — Isadora deixou escapar e Lorena sorriu com a interrupção.

— Obrigada, mas se o visse, me entenderia — retomou as lembranças — O ponto é que, depois daquele encontro, nada mais foi como antes. Otávio não era apenas o homem mais bonito que conheci, mas também o mais atencioso, o mais interessado... Perfeito. Era como se soubesse todos os meus desejos e sonhos... — engoliu em seco e Isadora percebeu que, mesmo após tanto tempo, era difícil falar a respeito — Ele foi me enredando, fui me deixando enredar e, quando me vi, já estava perdidamente apaixonada. Ansiava por estar em sua presença, por sentir seu toque, por ter aqueles olhos em mim — parou novamente, um tanto constrangida — Só havia uma coisa que me intrigava...

Projeto Don Juan (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora