As petecas castanhas se arregalam e sua boca se abre numa reação fofa de choque momentâneo. Por um momento, eu quase cogitei a ideia de que ela havia esquecido o que acabou de acontecer assim que olhou pra mim. Balanço a cabeça e afasto esse pensamento.
Não estamos num livro do Watppad, João Pedro!
Fátima se abaixa para pegar as coisas, desesperada, e, mesmo sem uma resposta concreta, repito seus movimentos e começo a ajudá-la. O mínimo que poderia fazer depois do susto meio intencional.
— A nossa aula ainda está de pé? – Pergunto segurando uma caixa de leite condensado e colocando-a na sacola novamente. Fátima para subitamente e olha para mim. — A aula de Português...
Ela franze as sobrancelhas até que seus olhos se arregalam, de novo, e bate a mão na testa, aparentemente incrédula consigo mesma.
— Burra... Tenta ao menos disfarçar. – Fala muito baixinho, quase como um sopro inaudível e consequentemente ouço nada. Só algumas sílabas tônicas.
— O que disse? – Pergunto confuso e ela bufa.
— Não é nada demais, relaxa. É só que... Que... Eu precisei ir ao mercado a pedido da minha tia e perdi a noção do horário da sua monitoria. Foi mal mesmo pelo atraso. Você deve ter ficado impaciente com esse tempão me esperando, né?! – Prende os lábios um no outro e suas íris brilham devido ao sol tímido que bate nelas. Por uma fração de zeptosegundo, perco-me nelas e um reboliço estranho passa por minha barriga.
— Não, não! Você demorou quase nada. Nem havia sentido o tempo passar. – Isso parece aliviá-la e, estranhamente, a mim também.
Por que raios eu disse isso?
Pego algumas sacolas e ela também. Rapidamente, Fátima tira um molho de chaves do bolso do macaquinho azul claro, abrindo a porta da casa e entramos.
Meu queixo quase cai quando vejo a mobília da casa. Era tudo muito lindo! Todos os detalhes eram bem articulados e harmoniosos com os singelos detalhes azul-bebê em alguns objetos e o resto decorado com branco e cores pastéis que não deixavam o lugar brega.
— Poderia trazer as coisas pra cozinha, por favor? – Pergunta educadamente e até um pouco apreensiva. Aceno e me dirijo até lá.
Admito que é engraçado falar com alguém como Fátima. Ela era muito fofa! Parecia uma bonequinha e suas bochechas a deixavam ainda mais... Adorável. Tudo nela me lembrava um marshmallow numa noite fria com chocolate quente enquanto estamos de frente para uma fogueira, enrolados num lençol azul e quentinho.
— Se quiser, pode deixar as coisas em cima do balcão e ir pegando seus materiais. Começamos em alguns minutos. Só vou guardar algumas coisas na geladeira. – Explica colocando algumas mechas dos dreads atrás da orelha e pondo as mãos na cintura, concentrada.
Não ouso contrariá-la.
— Tá bom. – Faço exatamente o que ela disse e vou para a sala, sentando-me no sofá branco e espaçoso.
Tiro os meus materiais e espero a garota que não demora muito para aparecer, já com alguns livros em mãos e somente de meias. Sorrio discretamente. Era estranho não vê-la com aquela armadura no pé.
— Bom, por onde começamos? – Olha para mim e eu fico sem entender. Ela ri da minha cara e coloca os livros em cima da mesinha central da sala. — Em que você tem dificuldade em Língua Portuguesa?
Paro para pensar um pouco e me lembro da minha maior dificuldade:
— Tudo.
Fátima ri, achando que é brincadeira, mas eu sorrio amarelo e ela percebe que é verdade. Eu sei, vergonhoso.
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A Garota do All Star Azul || ✔
Короткі історії"Ela era definitivamente a garota mais estranha que conheci! Mas foi a mais incrível." 2022 Ares do Campo, Goiás João Pedro -- um garoto de dezesseis anos apaixonado por MPB, que mora numa cidade pacata e minúscula do interior de Goiás -- irá viver...
CAPÍTULO 03: Atrasos e skates caros
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