CAPÍTULO 01: Bruxas verruguentas e diretoria

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DEDICATÓRIA
Este livro é para todas as pessoas que já tiveram um amor que duraria para sempre, se o tempo não quisesse sacanear com a nossa cara.

...

— Senhor Silva, para a sala da diretoria, agora! – Sou acordado por uma voz estridente da professora de português e um tapão na minha mesa.

Qual é?! hoje é sexta-feira...

Esfrego os olhos sob o olhar atento da velha bem mal humorada que, por sinal, tem um parasita enorme no nariz que chama de verruga, além da nem um pouco discreta roupa vermelha de crochê, que mais parecia uma daquelas capas de butijão de gás.

Minha cabeça ainda não está no lugar e demoro um pouco pra raciocinar o que está acontecendo. Na verdade, meu cérebro ainda está remoendo o fato de que me casava com o Rihanna depois que ela terminou com o ASAP Rocky.

Toda a sala de aula fica em silêncio enquanto me levanto sonolento, pegando minha bolsa preta com estampa do Pantera Negra e secando a baba gosmenta que descia pelo canto da boca.

Meus amigos sibilam um "boa sorte" e ando em direção à saída com os olhos esbugalhados da velha em minha direção como dois algozes.

Essa mulher poderia ser confundida com uma bruxa, se não estivéssemos do século XXI!

Assim que toco a maçaneta da porta que parecia estar numa distância infinita da minha carteira, o sinal toca avisando que os alunos, cansados e com menos alguns neurônios na cabeça, graças às infinitas regras de como diferenciar um adjunto adnominal de um complemento nominal de um aposto e sei lá mais, que a aula acabou e que podem recarregar suas energias com os lanches gordurosos da cantina e em fofocas de quem beijou quem no final de semana.

Reviro os olhos e me dirijo a sala do diretor pela segunda vez... Nessa semana.

🛹🥋

— João Pedro Guimarães da Silva... Mais uma vez está aqui, garoto. – O diretor me olha pela lente do óculos que mais pareciam dois binóculos, fazendo com que os olhos castanhos duplicassem de tamanho de maneira tão estranha, que o faziam parecer com um enorme mosquito da dengue numa versão da Deep Web.

Ele gira na sua cadeira e se dirige até uma das caixas da sua escrivaninha para pegar uma daquelas fichas que definem o destino de muitos alunos aqui na Escola Vila Verde, situada no que se poderia comparar ao rabo de Goiás.

Essa cidade que chamam de Ares do Campo é o próprio tédio encarnado.

Há nada que se possa fazer por aqui...

A coisa mais intrigante da cidade e onde os adolescentes desocupados se reúnem é a pracinha que tem no máximo uma barraquinha de salgados da dona Maria da Graça e uma lojinha de açaí na esquina do seu Humberto.

— É. – Respondo-o recostando a cabeça na cadeira e observando cada movimento do famoso diretor Bernado, conhecido por muitos, e até mesmo pelos professores, como o Sr Mosca Ambulante.

Ele levanta as sobrancelhas negras em sinal de descrença, mas logo em seguida sua expressão deu lugar a decepção.

Olho no fundo de seus olhos e ficamos no que pareceu uma eternidade numa disputa silenciosa de quem desvia primeiro. E eu venço.

— Deveria se preocupar mais com seu futuro, João! Seus pais devem estar...

Você é o meu pai. – Lembro-o e ele olha para mim num sinal de "não me interrompa, eu sou a autoridade aqui" e eu me afundo ainda mais no sofá, desejando que alguma entidade me levasse para o mais longe possível.

A Garota do All Star Azul || ✔Where stories live. Discover now