CAPÍTULO 02: Espiões e primeiros encontros

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— Eu estou quase morrendo de fome aqui! – Jogo a cabeça para trás e coloco as mãos sobre o rosto, exausto.

Fazem algumas horas que as aulas da manhã acabaram e eu resolvi procurar a dita cuja que meu pai deu a ideia. Bufo e começo a procurar meu celular na bolsa da escola.

Pelo o que eu me lembre ou já ouvi falar, tanto faz, Francisca de Fátima sempre vem aqui na pista de skate passar um tempo com os amigos estranhos. Porém, quando eu preciso dela, ela não está aqui.

— Eu disse que esse plano era ridículo! Meu pai deve ter batido a cabeça ou sido abduzido por um óvine do Batman! Onde já se viu? Eu tendo que andar com a neta estranha da bru... – Paro de falar e meus dedos ficam parados em cima do app do Piano Tiles, quando ouço vozes próximas.

Olho de esguelha em direção às vozes e, como estou deitado no chão, largado como uma largatixa descamada de baixo do sol, a primeira coisa que vejo é um all star azul tão surrado que não sei como ainda não desbotou. Ergo as sobrancelhas e começo a observá-la.

A garota vestia um short jeans com alguns adesivos azuis colados, contrastando com a pele achocolatada; uma blusa azul-bebê por cima de outra listrada de mangas longas branca e azul; e uma bucket hat azul escuro o qual cobria os dreads castanhos que batiam no busto mediano.

Meu Deus.

Pra que uma pessoa usa tanto azul? Levanto uma sobrancelha, mas coloco o celular na frente do rosto numa tentativa de tentar disfarçar minha "análise", enquanto finjo estar mexendo no aparelho, como se a tela de fundo do Pantera Negra fosse a coisa mais interessante do mundo.

— Deveria tentar, Fa! Vai que tia Be deixa?! – Agora, a voz do garoto ressoa e ela parece ficar um pouco apreensiva. Acanhada até. Mas ri.

Pera aí, "tia Be" é a bruxa verruguenta? Levanto as vistas discretamente para o "casal".

— Tem razão. Não custa tentar. – Diz e dá de ombros não muito esperançosa por sei lá o que.

O loiro dá um empurrãozinho no ombro dela e amarra o cabelo sedoso — que provavelmente cuidava melhor que minha mãe e que usa produtos mais caros que meu celular — num rabo de cavalo baixo.

Ele definitivamente parece um surfista. Daqueles de filme que toda garota bobinha quer, mas que fica com a mocinha nova da cidade que nunca pegou numa prancha de surf na vida. É, esse é o Eduardo. Melhor amigo da Fátima e desejado por todas as garotas de Ares do Campo.

Então, num movimento descontraído, Eduardo passa um daqueles braços enormes por cima do ombro da garota que, ao lado dele, fica bem menor.

Nunca tinha reparado que Fátima era baixa... Olho para o celular e começo a mexer na calculadora para não ficar tão óbvio. Mas, obviamente, continuo ouvindo a conversa.

Ah, já tinha esquecido: o surfista é repetente e consequentemente mais velho. Ou seja, o cara é o dobro do meu tamanho e muito mais bonito também. Mas, cá entre nós, eu só tenho dezesseis anos e ele dezessete. É muito mais normal que ele não sofra com a mudança de voz, nem com a estatura mediana e a "desprovição" músculos.

Apesar que o karatê me deixou menos magrelo. Fiquei bonitinho até. Mas nem se compara com o Eduardo que faz academia desde os catorze anos. Reviro os olhos.

O cara tem sorriso Colgate, mano! Parece um pedaço de coco!

Franzo as sobrancelhas ao notar eles andando em direção à pista de skate e a voz se distanciando. Então, tentando aguçar minhas habilidades investigativas, me sento no chão.

A Garota do All Star Azul || ✔Where stories live. Discover now