CAPÍTULO 04: Garotas grudentas e pais fanfiqueiros

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— Boa tarde, o que a senhora vai querer? – Abro um sorriso forçado e a velinha que mais parecia ter saído da Família Dinossauro com uma bengala que com certeza mataria alguém continua andando e vendo as quinquilharias da loja.

Cansado, apoio minha mão no queixo e o boné verde e amarelo, que se assemelhava a um projétil mal feito da bandeira do Brasil, cai pro lado. Ainda falta uma hora pra eu sair daqui!

Mas agora, você, cara voz ambulante e imaginária da minha cabeça, deve estar se perguntando o porquê da minha humilde e nem um pouca interesseira pessoa estar numa loja pré-histórica num sábado de manhã...

Digamos que o valor que Fátima me cobrou na nossa primeira aula foi bem... Peculiar. E meus pais, como bons e tradicionais adultos, quase me estrangularam. Porém, como minha mamãe linda é uma ótima resolvedora de problemas, eles me colocaram para trabalhar na antiga loja de discos e coisas velhas do meu avô antes de falecer em troca do valor do skate.

Como minha mãe ficou com os poucos patrimônios dele, que consistem nesse lugar e na casa, é ela quem está responsável por gerenciar tudo. Então, a melhor hipótese foi me mandar pra cá e substituir uma das duas funcionárias que teve bebê recentemente.

Só que o que eu não imaginava é que vou ter que passar dois meses nesse lugar!

Segundo Alice da Silva, também conhecida como mamãe, eu preciso aprender a ter alguma responsabilidade na minha vida e papai, como seu fiel escudeiro, apoiou-a totalmente.

— Vou querer essa lamparina aqui, meu jovem. – A velinha de antes me chama e lá vai eu pegar o objeto, ver o preço e garantir que ela não me passe a perna.

Eu que não confio em senhorinhas de bengala!

— Aqui está. – Entrego o objeto embrulhado depois de pago e ela manda que o pestinha do neto de sete anos carregue. O garoto, que só agora percebi estar sentado na poltrona do vovô, levanta que nem um furacão e sai correndo na frente. A velinha o insulta de uns cinco nomes diferentes para que ele não corra com a lamparina, mas não adianta muito. Logo depois, estou sozinho nesse cubículo.

O lugar nem era tão feio, mas, cá entre nós, eu poderia estar dormindo nesse exato momento na minha confortável e espaçosa cama.

A "Quinqulharias do Silva" era o nome da loja. Por fora, sua faixada era de madeira e até bem arrumadinha com a placa mais antiga que minha mãe, mas em perfeito estado. Por dentro, haviam várias prateleiras cheias de objetos antigos e os discos ficavam próximo ao balcão. Tudo num ar armonioso entre madeira e paredes brancas.

— Oi, João Pedro. – Heloísa me cumprimenta enquanto passa por mim com uma caixa em mãos para levar até alguma prateleira aleatória. Ela me lança um sorriso sugestivo e minha única reação é cumprimentá-la de volta:

— Oi. – Sento-me na cadeira e começo a mexer no celular.

Desde sempre Heloísa tem alguma espécie de crush em mim e eu sempre finjo demência. Não que ela não seja legal e nem nada do tipo, é só que... Não rola.

Mas agora com a brilhante ideia da minha mãe, vou ter que aguentar Heloísa Coelho durante o tempo em que estiver aqui. Ou seja, "ferrô".

— Oh, Jô! – Minhas sobrancelhas se juntam no mesmo momento pelo apelido novo e isso parece satisfazê-la, já que sorri largo e apoia os braços no balcão.

Ao menos estamos a uma distância segura.

— Minha mãe está querendo fazer uma festa na piscina amanhã para comemorar meu aniversário e disse que eu podia convidar quem eu quisesse... Eu mandei o convite nos grupos da sala do primeiro A e B, mas eu vi que você não respondeu... – Insinua claramente e eu entendo na hora.

A Garota do All Star Azul || ✔Where stories live. Discover now