CAPÍTULO 07: Futuras profissões e cavaleiros do século XX

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— Isso aí, João Pedro! Está melhorando muito, garoto. – O senhor Amaro sinaliza e sento-me no chão, cansado, exausto e parecendo um pinto molhado de tanto suor.

— O senhor acha mesmo? – Pergunto realmente interessado. Se estiver tão bom quanto ele diz, até o final do ano já terei a faixa preta em mãos.

— Claro, garoto! – Sorri bagunçado meus cabelos e sai para auxiliar os outros estudantes.

Já era quase 18h e consequentemente minha aula de karatê estava quase no fim. Enxugo o suor da testa e me levanto indo em direção à parede de vidro da academia.

O movimento de carros estava bem intenso já que diversos adultos saiam de seus trabalhos para irem às suas casas tomar um banho gelado e ver suas famílias. Outros, simplesmente dormiam pelo cansaço. Sorrio tocando a vidraçaria e deixando a marca dos dedos suados ali. Faço um desenho de coração partido e apago logo em seguida.

Toma jeito, João Pedro... – Murmuro para mim mesmo e balanço a cabeça. Não posso me desconcentrar assim e tampouco por algo incerto.

Já se passaram quatro dias desde que a gafe do ônibus entre as garotas aconteceu e, enquanto Heloísa falou comigo no dia seguinte como se nada tivesse acontecido, Fátima vem me ignorando. As únicas vezes que abriu a boca para falar com minha pessoa foi durante as monitorias e, ainda sim, somente assuntos profissionais. Sem piadinhas ou conversas desaforadas.

Suspiro.

O que eu fiz de errado, meu Deus? Encosto a testa no vidro e fecho os olhos. Não é porque não tentarei nada com segundas intenções que gostaria de perder nossa amizade. Fátima se tornou uma das poucas pessoas que aprendi a confiar.

— Venham aqui, pirralhos! Vamos finalizar a aula com um alongamento. – O professor chama e todos vamos em sua direção. Já eu, me arrasto como uma largatixa com uma feição de bicho morto.

Minha cabeça fica meditando as mil e uma possibilidades do porquê a dita cuja está agindo assim. Sei que há uma razão mais óbvia, mas... Será?

Finalizada a aula, vou até o vestiário e troco o kimono por uma bermuda jeans e uma blusa do Batman. Guardo as coisas dentro da mochila e saio em direção aonde guardei minha bicicleta.

Porém, sou parado no meio do caminho quando o professor Amaro me chama e vem correndo em minha direção com os fios castanhos baguncados pelo vento parecendo uma réplica mal feita do Super-homem.

— João, meu filho, preciso conversar com você... – Respira fundo com a chave de seu carro em mãos e a outra segurando uma bolsa que provavelmente guardava seu kimono.

— Pode falar, tio. – Coloco a mochila nas costas e olho-o com atenção.

Confesso que me sinto como uma criança perto dele. Seu Amaro era bem mais musculoso que Eduardo e seu semblante era pacífico, mas que evidenciavam sabedoria.

— Garoto, já tem alguma profissão em mente? – Pergunta e travo no lugar.

Eu nunca penso nisso.

Por mais que devesse, uma profissão concreta ainda não me parecia algo próximo. Então, não. Não tenho uma profissão em mente.

Aceno negando e ele sorri largo. Não entendo nada e provavelmente minha expressão mostrou isso, porque ele ri e toca meu ombro num ato paternal de gente velha.

— O que acha de ser lutador profissional? – Meus olhos se arregalam.

— Mas... O senhor... Espere, tipo aqueles carinhas que lutam MMA? – Minha boca que está aberta agora. Muito provavelmente estou como a pintura "O grito" de Edvard Munch.

A Garota do All Star Azul || ✔Where stories live. Discover now