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Passámos todo o dia dentro de casa.
Agora que eu sabia que estava sendo procurada pelos caras das peles, a gente decidira ter um pouco mais de cuidado, até porque, para mim, o objetivo era não deixar o Negan cair nas mãos deles...
Eu estava sentada no sofá, com um livro que achara, nas mãos, lendo calmamente. Mas aí Negan entrou na sala e parou junto das minhas pernas.
Olhei ele, esperando, mas ele bateu na minha bota. Revirei os olhos, mas encolhi as pernas para que ele sentasse no sofá.
- Tem outro sofá ali, sabia? - Perguntei.
Negan agarrou os meus tornozelos, e puxou as minhas pernas para cima das suas.
Franzi o cenho e ele encostou a cabeça para trás, fechando os olhos.
- Mas eu quero esse daqui. É maior.
- É...
Ele abriu um olho e me sorriu torto.
- Tenho uma oferta de paz.
Fechei o livro, encarando ele. - Nada do que você possa ter, me interessa.
Ele sorriu e tirou algo do bolso, esticando o braço na minha direção. Na sua mão, perfeitamente seguro, estava o meu ipod.
Peguei ele na hora.
- Eu percebi como o Eugene fez para carregar ele, usando o sol. - Negan indicou ele com a mão. - Está pronto para você usar.
- Fala sério! - Sorri, pegando um phone e colocando no ouvido. Liguei o aparelho e ele funcionou. Olhei Negan. - Valeu!
Ele deu de ombros mas depois pegou algo da sua mochila, que estava no chão, do lado do sofá. Me entregou uma coisa negra e pequena, que cabia perfeitamente na palma da minha mão.
Franzi o cenho. - Que raio é isso?
Negan riu. - Você coloca essa parte na boca. - Ele se inclinou na minha direção e indicou uma das pontas do objeto cilíndrico. - E assopra. Ele vai fazer o som de um pássaro.
Franzi o cenho de novo, mas experimentei. O som de um pássaro cantando se ouviu por toda a sala.
- Meu avô tinha um. - Negan segurava outro, igual ao meu, na mão. - Achei ontem e lembrei que poderiamos usar caso algo acontecesse e um de nós se perdesse... - Ele parou de falar quando percebeu que eu o olhava fixamente. - Credo, o que foi? Tá olhando o quê, igual pedra?
- Desde quando você se preocupa?
Negan riu. - Já imaginou algo acontecer com você? Eu já tinha falado isso. Imagina o Daryl se eu chegasse em Alexandria sem você... Imagina o Rick! Não, é melhor manter você inteira.
- Eu sei me cuidar, obrigada.
- Eu não disse que não sabia.
Fiquei olhando ele de novo e depois olhei o estranho apito.

No dia seguinte, vasculhavamos uma loja um pouco maior do que as habituais, e com bastante coisas deixadas para trás.
Peguei uma caixa de cereal e ponderei levar. Seria legal. E de repente, sinto algo bater levemente no meu ombro, me fazendo olhar para o lado.
Negan tinha batido no meu ombro com uma tablete de chocolate.
Olhei ele e ele me sorriu, peguei o chocolate e ele deu as costas, se afastando de volta para o lugar onde estava antes.
Sorri e abri, comendo um pedaço. Eu amava chocolate, desde criança, e não queria nem saber se aquele estava vencido.
Enchemos as mochilas e depois saimos da loja, eu segurando a barra de chocolate e Negan segurando a Lucille no ombro.
Desci a rua do seu lado, observando cada esquina. Hoje iríamos para casa por um caminho mais longo, para evitar usarmos sempre o mesmo, caso os das peles estivessem por ali.
- Hoje a caça foi boa. - Disse Negan sorrindo feito raposa.
Revirei os olhos. Eu sabia que ele estava zuando ainda por causa daquele dia em que minha caça fugira.
- É, foi sim. Também, com alvos que não se movem, fica fácil para qualquer um.
- Hey! - Ele me olhou, indignado. - Sabe o quanto que custou pegar esse chocolate?
Eu ri. - Custou o quê? Esticar o braço?
Negan riu. - E isso já é um esforço danado.
Assenti. - Ahh tá.
- É verdade. Imagina que você esteja machucada, não consegue levantar o braço.
- Mas você não está.
Ele revirou os olhos. - Vamos fingir que sim.
Franzi o cenho. - Mas você não está. Vamos fingir para quê? Você pegou e ponto! Além disso, eu já levo metade do chocolate na barriga, vamos fingir para quê?
Negan ficou me olhando e depois negou com a cabeça. - Com você é impossível. Eu juro, você não é uma Dixon, mas se parece com uma! Aprendeu direitinho.
Ergui o queixo, orgulhosa. - Ótimo.
- Pffff. Minha nossa senhora.
Eu ri, pegando outro pedaço. - Quer?
Ele tirou o pedaço da minha mão. - Claro, né? Quem pegou fui eu!
- Idiota.
Ele assentiu. - Tá. - E colocou a mão livre no bolso dos jeans.
Faltava apenas uma rua para chegarmos em casa, quando surgiram alguns zumbis na nossa frente.
Parei de andar e Negan abaixou o taco.
- Andar esquisito, confere; som nojento, confere; - Ergui a arma, destravando. - Sem faca, confere. - Atirei no peito de um e guardei a arma. - Não morre de tiro no peito, confere. É, são zumbis, mesmo.
Negan negou com a cabeça. - É assim que vocês fazem na Romênia?
Sorri. - Eu não vivi um apocalipse na Romênia, lembra?
- Ah, é. - Ele riu.
Bati no braço dele e me afastei, correndo.
- Aposto que chego em casa antes de você ter tempo se pensar "oi".
- E os zumbis? - Gritou Negan.
- Deixa eles! - Gritei de volta.
Escutei Negan correndo atrás de mim e acelerei, ele nunca que iria chegar primeiro do que eu. Mas depois parei e olhei para trás.
Negan estava abaixado, parecendo estranho.
Voltei para trás e parei junto dele.
- Você está bem? - Perguntei.
Ele levantou muito rápido e começou a correr. - Te peguei.
- Volta aqui, isso não foi justo!
- Vai ganhar agora, Romênia?
De repente, do nada, caí no chão depois de sentir uma dor muito forte no meu tornozelo.
- Au! - Sentei no chão.
Segundos depois, Negan abaixava na minha frente. - Isso não é vingança, é?
Fiz careta de dor. - Não!
- Partiu?
- Acho que não, só coloquei errado, eu acho.
Negan mexia no meu tornozelo e depois me olhou. - Consegue andar?
- Posso tentar.
Ele me ajudou a levantar, mas assim que meu pé tocou no chão, doeu imenso.
Ele assentiu. - Tá. - Me mandou segurar, depois colocou a Lucille na mochila, com uma parte ficando de fora, e depois me olhou. - Vem.
Franzi o cenho. - O quê?
- Eu levo você. Não pode andar. Vamos.
Deixei que ele me carregasse, afinal, já faltavam apenas alguns metros para chegarmos.
Negan abriu a porta e me levou no sofá, onde me sentou com todo o cuidado e me ajudou a tirar a mochila.
Jogou a sua no chão e depois abaixou junto do meu tornozelo, puxando a perna da calça para cima.
- Vou dar uma olhada no banheiro, ver se tem algum remédio que possa ajudar.
Fiquei vendo ele se afastar e olhei meu tornozelo. Estava um pouco inchado, mas nada de roxo.
Negan regressou pouco tempo depois com uns remédios e uma garrafa de água e sentou do meu lado, de frente para mim.
- Toma.
Olhei ele. - Tem certeza? - Sorri.
Ele revirou os olhos. - Anda logo.
Tomei os remédios e depois sorri.
- Obrigada, Negan. De verdade.
Ele me sorriu, coisa que já vinha sendo habitual, e depois deu de ombros. - Tudo bem. Você até que é legal, Romênia.
Sorri, sem jeito.

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