(Meu pai também comparece a essas reuniões, mas seu coração não está nisso. Ele prefere conversar sobre gado mágico e catalogação de sementes. Os Jaureguis são fazendeiros. Minha mãe devia estar morrendo de amores para se casar com ele.)

Depois que minha mãe morreu, qualquer um que tivesse a coragem para se opor ao golpe militar do Mago foi rapidamente expulso da Irmandade. Ninguém das Famílias Antigas teve um assento na Irmandade na última década – apesar de a maioria das reformas do Mago ter a nós como alvo.

Livros banidos, frases banidas. Regras sobre quando e onde podemos nos reunir. Taxas para cobrir todas as iniciativas do Mago; a mais notável delas visando cobrir as despesas para que cada bastardo de fauno, cada primo centauro e cada miserável e patético bruxo no Reino pudessem frequentar Watford. O Mundo dos Bruxos nunca tivera impostos antes. Impostos eram para os Normais; em vez disso, tínhamos critérios.

Não se pode culpar as Antigas Famílias por contra-atacar o Mago de todas as maneiras possíveis.

Enfim, eu disse a Fiona que faria o que ela queria. Que subiria ao escritório do Mago e daria uma olhada, ainda que fosse inútil.

– Pegue alguma coisa. – disse ela, agarrando o volante.

Eu estava no banco de trás, então podia ver apenas uma parte de seu rosto no espelho retrovisor.

– Pegar o quê?

Ela deu de ombros.

– Não importa. Pegue alguma coisa.

– Não sou uma ladra. – falei.

– Não é roubar, aquele escritório é dela; é seu. Pegue alguma coisa pra mim.

– Tudo bem. – consenti.

No fim das contas, eu quase sempre faço o que Fiona quer. O modo como ela sente saudades da minha mãe a mantém viva para mim.

  *****

Esta noite, porém, estou exausta demais para fazer a vontade de Fiona.

E inquieta demais. Não consigo afastar a sensação de que estou sendo seguida, de que seja lá quem pagou aos lorpas para me pegar vai tentar de novo.

Quando acabo o que fui fazer nas Catacumbas, parece que estou arrastando meu próprio cadáver torre acima até nosso quarto.

Cabello está dormindo quando eu entro.

Normalmente, tomo banho pela manhã; ela, à noite.

Já temos a dança toda ensaiada, depois de tantos anos. Nos movemos pelo quarto sem nos tocar ou conversar ou olhar uma para a outra. (Ou, ao menos, sem olhar uma para a outra enquanto a outra está prestando atenção.)

Mas nessa noite há teias de aranha no meu cabelo, e eu estava com tanta sede, que entrou sangue debaixo das minhas unhas enquanto eu me alimentava.

Isso não me acontece desde os catorze anos, desde que comecei a pegar o jeito. Eu normalmente consigo drenar um pônei de polo sem manchar os lábios.

Eu me movimento pelo quarto em silêncio. Por mais que goste de perturbar Cabello, essa noite só preciso me limpar e dormir.

Jamais deveria ter tentado aguentar um dia inteiro de aula. Minha perna adormeceu e minha cabeça está me matando. Talvez seja bom que o técnico Mac não me aceite de volta ao time, já que mal consigo dar conta de oito horas numa mesa. (Ele pareceu triste quando apareci no treino. E desconfiado. Disse que eu estava em período de experiência.)

Ascensão e queda de Camila CabelloWhere stories live. Discover now