- Ah - digo. - Oi. Pensei que você estivesse estudando.

Não estou mais com raiva dela, agora que estamos de pé no ar frio e que tive tempo de esfriar a cabeça.

- Eu estava estudando - diz ela. - Aí senti vontade de dar uma volta.

- Eu também. - Estou mentindo de novo.

Eu juro que normalmente não minto e escondo segredos dos meus amigos desse jeito. É só que... Não posso contar a eles que estou aqui fora procurando por Lauren. Digo, não quero jamais conversar com Ariana sobre Lauren, por motivos óbvios, e Dinah simplesmente não quer ouvir.

Depois do nosso quinto ano, Dinah decidiu que eu não tinha permissão para conversar sobre Lauren, a não ser que ela apresente um perigo claro e imediato...

- Você não pode choramingar toda vez que ela te dá nos nervos, Camila. Isso significaria choramingos o tempo todo.

- E por que eu não posso? - perguntei. - Você reclama sobre sua colega de quarto.

- Não constantemente.

- Com frequência suficiente.

- Que tal isso: você pode falar comigo sobre Lauren quando ela apresentar um perigo real e imediato. Além disso: até, mas não acima, de dez por cento de nossa conversação total.

- Não vou fazer contas toda vez que conversar com você sobre Lauren.

- Então erre para menos e não reclame sobre ela constantemente.

Ela ainda não tinha paciência para isso, apesar de eu estar totalmente correta sobre Lauren naquele ano - ela estava aprontando, sim. Indo além de seu comportamento esquivo habitual, sendo uma vampira.

Naquela primavera, Lauren tentou roubar minha voz. Essa é a pior coisa que se pode fazer a um bruxo - talvez até pior do que assassinato; um bruxo não pode praticar magia sem palavras. (Não normalmente, pelo menos.)

Aconteceu no Gramado. Eu havia flagrado Lauren saindo furtivamente pela ponte levadiça no crepúsculo, e então a segui. Eu a acompanhei até os portões principais, onde ela parou e se virou para mim, toda casual, com as mãos nos bolsos - como se soubesse o tempo todo que eu estava atrás dela.

Estava prestes a começar algo com ela quando Philippa apareceu atrás de mim e chamou "Oi, Camila!" em sua vozinha aguda. Porém, assim que disse meu nome, ela não conseguiu mais parar. Guinchou monstruosamente, como se uma vida de palavras estivesse sendo arrancada dela.

Sei que foi Lauren quem tinha feito isso.

Sei que ela tinha feito algo.

Vi nos olhos dela quando Philippa ficou muda.

Philippa foi mandada para casa. O Mago me disse que ela recuperaria a voz, que aquilo não era permanente. Mas ela jamais retornou para Watford.

Eu me pergunto se Lauren ainda se sente culpada. Eu me pergunto se ela chegou a se sentir culpada.

E agora ela também se foi.

Quando eu noto Ariana de novo, ela está tremendo. Desabotoo meu casaco de lã cinza, deslizando os botões de chifre pelos laços de cordão.

- Aqui - digo, tirando o casaco.

- Não - diz ela. - Estou bem.

Ofereço o casaco para ela mesmo assim.

- Não, está tudo bem. Não... Camila. Fique com o seu casaco.

Meus braços descaem. Não parece correto vestir o casaco de novo, então eu o dobro sobre um dos braços. Não sei mais o que dizer.

Ascensão e queda de Camila CabelloWhere stories live. Discover now