IT'S MY BIRTHDAY

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É quinta feira, dois mil e vinte anos depois do nascimento de Cristo e aqui estou eu parado em meio a neve de inverno numa Londres caótica porque, além de ser meu aniversário, também é véspera de natal. No bolso direito do meu jeans há uma lista de presentes para comprar porque eu sou exatamente aquele tipo de pessoa que deixa as coisas para a última hora. Não há um motivo específico, quer dizer, seria fácil culpar meu trabalho interminável como professor de uma turma de pequenos demônios chamados crianças no jardim de infância, entretanto... bem, é vinte e quatro de dezembro e todos estão de recesso a quase uma semana agora o que me dá mais tempo livre do que o ideal para as compras natalinas que não fiz porque passei os últimos dias sofrendo sob os cobertores no meu quarto em Bexley após Eleanor decidir que não era sou o tipo de cara com quem ela deseja passar toda a vida e chutar minha bunda gorda por SMS enquanto eu reservava nossas passagens para um réveillon romântico na Tailândia para o qual vinha economizando a um tempo considerável. Uma vadia? Talvez. Provavelmente sim, para ser honesto. Mas eu a amava. A amo ainda já que fazem somente três dias desde que passei de um professor quase na casa dos trinta, feliz e satisfeito com os planos futuros para o cara de agora. Eu não gosto de ser o cara de agora porque esse Louis tem olheiras demais sob os olhos e a sensação de que deveria correr para a loja de brinquedos mais próximas e comprar presentes adequados para Ernest e Doris ao invés de entrar no que me parece um lugar barato à luz precária e cheiro de tabaco no ar. Não que eu odeie, apenas estou tentando parar. Por Eleanor. Ela simplesmente detestava o gosto do cigarro em meus lábios. Ou... talvez, odiasse me beijar de modo geral. Não que seja relevante. E não é. Nós não somos mais um casal então eu facilmente poderia acender um cigarro em sua homenagem, talvez com uma bebida para brindar também. Hoje de manhã entrei em seu Instagram apenas para vê-la tomando gemada com Max, o maldito. Bruce parecia confortável em se enrolar nos pés do beta estúpido com um sorriso grande demais em direção à minha namorada. Ex, digo. O pequeno traidor, Clifford jamais faria algo assim.

Em todo caso, sinto-me ultrajado. E rancoroso não apenas com Eleanor. Não. Eu estou fodidamente irritado com toda a porcaria do cosmos por ter me feito um maldito ômega. Sério. Qual a necessidade de me colocar um útero e a merda de uma aequalis? Pois eu digo com clareza, não havia absolutamente necessidade alguma. Zero. Nadinha de nada. Por isso estou aqui, parado de pé diante de um lugar péssimo ainda que o único a abrir na véspera de natal e, sim, preciso fazer isso hoje. Nessa noite. E então seguirei meu caminho em paz por toda a eternidade seguinte. Quer dizer, apenas de não ver os números malditos no meu pulso a cada segundo já me soa bom o bastante. A placa neon brilha apesar de ser onze da manhã, as palavras estão meio falhas ainda que persistam em piscar em uma cadência melancólica. Underground Tatto. Um nome típico e sem autenticidade alguma, diga-se de passagem. Mas o que posso fazer além de respirar fundo o ar frio de quase três graus negativos e entrar pela porta ruidosa por um maldito sino? Nada. Portanto é exatamente isso que faço e dois segundos depois vejo-me em uma sala estranhamente bem iluminada e limpa. Há uma recepção pequena e atrás do balcão uma garota parece ansiosa em anotar coisas num caderno de capa preta. Ela usa um piercing de argola no septo e um transversal na orelha esquerda, seu cabelo é tão curto quanto de um homem e loiro. Não. É branco. Ela parece não fazer questão de erguer o olhar enquanto caminho em sua direção apesar de claramente saber que há alguém mais na sala porque se o sino não foi o bastante para anunciar minha presença então não posso imaginar o que mais seria.

— Olá — digo ao colocar as mãos no bolso quando me aproximo o suficiente do balcão, meus dedos estão nervosos porque nunca antes fiz uma tatuagem. Tipo, eu fiz. Mas meio que não consenti com a aequalis uma vez que tinha apenas sete horas de vida então... é, estou ligeiramente nervoso. Meus olhos – como os de qualquer ser humano – caem automaticamente no pulso esquerdo da garota atrás do balcão. Ela usa um relógio e é um método bem inteligente para esconder a sequência numérica porque, sejamos francos, essa coisa toda de aequalis não faz sentido algum no mundo real. A cada dia incontáveis crianças no mundo todo são marcadas por meio de um culto bizarro e também a cada dia o número de pessoas adultas que acabam com seu par caí consideravelmente. É uma tragédia infundada que ninguém quer ter. Uns escondem com objetos e outros simplesmente a cobrem. Exatamente como eu espero fazer. Hoje. No meu aniversário de vinte e nove anos. — Eu... uh, vim fazer uma tatuagem?

AEQUALIS // larry stylinson Where stories live. Discover now