46. Em posição de ataque e defesa

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Emily

Já me meti em muitas situações sinistras, principalmente depois que conheci a Sue, mas como a que estou metida agora, acho que antes não cheguei nem perto.

Jane tinha um aperto de mão firme, como era de se esperar, e a minha estava gelada e molhada pelo nervosismo. Eu evitava encarar seus olhos acentuadamente azuis, porque era como se pudessem me perfurar com raio laser. Ela tinha um ar sério de segurança e autossuficiência que me fazia sentir como um patinho perdido na beira do lago.

Acho que a última vez que fiquei cara a cara com alguém que me fez sentir assim foi… quando a Sue me ameaçou de morte na frente da minha casa logo após o sequestro.

Sim, definitivamente eu estava construindo um histórico considerável com mulheres perigosas.

E de certa forma isso me excita, mas deixa quieto.

Eu soltei a sua mão rapidamente, mas o aperto pareceu ter durado uma eternidade. Olhei de lado para o Joseph e ele parecia tão tenso quanto eu. Pelo visto eu não era a única a tremer na base perto de mulheres assim.

— Então, você sabe tudo sobre a Máfia? — Jane falou com curiosidade e firmeza. — Você trabalhou pra eles e teve que sair igual ao Joseph?

A porta atrás de mim ainda estava aberta, mas sabia que sair correndo não era uma opção segura, então me restou dar um tímido passo para o lado, querendo desesperadamente aumentar a distância entre mim e aquela mulher.

— Não! Eu nunca cometi nenhum crime. — A não ser que você considere amar demais um crime.

— Ah, que pena! — ela pareceu veridicamente chateada com isso.

— Emily e Sue são amigas, por isso ela sabe de muita coisa — Joseph explicou meio mal explicado.

— Sue é minha namorada — eu o corrigi, já estava cansada das pessoas nos verem apenas como amigas. Sei que por muito tempo nós duas tivemos medo de deixar isso claro para todos, mas não faço mais questão de esconder meus reais sentimentos. E quem não gostar, bom, que lide com isso.

— Namorada? — Jane pareceu um pouco surpresa, mas acho que não por sermos duas mulheres. — Uau, então aquela máquina violenta tem sentimentos?

Por essa fala eu não estava esperando.

— Você conhece a Sue? — perguntei porque, até onde eu sabia, os Gilbert eram bastante criteriosos quando se tratava de se manter no anonimato.

— Conheci antes dela ser ativa na Máfia — começou dizendo enquanto guardava sua arma numa gaveta sob a mesa, mesmo assim ainda me sentia insegura. — Os Humphrey eram os principais fornecedores de armamento para a sua família e capangas. Eu acompanhava meu pai nas entregas, desde cedo me interessei pelo ramo, o sr. Humphrey era ótimo no seu trabalho, mas eu sabia que ele não duraria para sempre e um dia eu assumiria esse posto. E aqui estou eu, tomando conta dos negócios. — Ela sorriu e ergueu os braços como se estivesse mostrando um palácio e não um esconderijo apertado repleto de armas.

Eu achava incrível o modo como ela, Joseph, Sue e os demais "desse ramo" falavam dos seus crimes como se fosse um trabalho comum e honrado. Acho que ter crescido nesse meio naturaliza essas coisas, mas para mim ainda era estranho, só de estar ali eu já sentia estar fazendo algo de errado e queria me esconder.

— Eu vi potencial na Susan de primeira — continuou contando a Jane, já que eu não tinha nada o que comentar sobre tudo isso. — Todas as vezes que ia fazer entrega ela estava sozinha treinando no depósito de armas. Era quieta, não cumprimentava ninguém, mas só pelo seu olhar eu já sabia que não deveria arranjar problemas com ela, mesmo sendo só uma adolescente. — De certa forma, havia orgulho na sua voz, algo como "mulheres empoderadas e armadas são as melhores". E eu não discordava. — Sempre tive uma boa visão para talentos, eu sabia que a Sue seria muito perigosa e eficiente quando o pai  a colocasse para trabalhar.

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