10. "You really are my favorite person in the word"

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Emily

Silêncio. Ruído. Vozes. Silêncio. Batucada. Coração acelerado. Voz da professora. O ar. O farfalhar das folhas lá fora. Passos em baques surdos contra o chão. Páginas sendo viradas. Atrito do lápis no caderno. O som distante de uma nota  nas cordas de um violão.

E ao meu lado: ausência.

Tec. Tec. Tec. Tec. Eu bati o lápis na mesa. Batia os pés inquietos no chão. Flap. Flap. Flap. Virara as páginas em branco porque minha dispersão não me permitia anotar o conteúdo.

Mais batidas na mesa.

Três dias.

Três dias.

Se Sue estivesse aqui, certamente já teria me chutado por debaixo da mesa e me repreendido pelo ruído que eu fazia movimentando o lápis na mão. Ela odiava quando eu fazia isso. Mas agora ela não estava aqui. Nem ontem. Nem anteontem. Três dias seguidos de falta nas aulas. Eu estava tão preocupada, tão angustiada e ao mesmo tempo tão irritada comigo mesma que mal conseguia pensar.

O que havia acontecido com ela? Estava bem? Estava doente? Indisposta? Teve que viajar? Ou simplesmente faltou por preguiça? Mas por três dias?

Depois de tantos questionamentos e minha cabeça quase fritando em inconclusão, cheguei até a pensar que ela não estava vindo para evitar falar comigo. Eu lhe dei meus últimos poemas e queria tanto que Sue me dissesse o que achou, contudo ela havia sumido e minha curiosidade misturada com ansiedade e preocupação me consumiam dia após dia.

Eu faria uma ligação, ou mandaria uma mensagem, mas não tinha seu número. E ela não tinha outros amigos no curso para eu perguntar se tinham notícia.

Em alguns momentos me sinto egoísta. Eu estou sentindo falta da Susan porque quero que ela apareça com meus poemas ou por preocupação verídica? Lembro que na terça, antes de nos despedirmos e ela sair, havia dito que tinha compromisso com a Máfia. E se algo deu errado? E se ela se machucou? E se ela… morreu?

Não, não foi bem assim. Eu saberia, certo? Os jornais na TV notificariam, notícias ruins correm rápido. Ela não estava morta, seu desaparecimento deveria ter uma explicação plausível.

Após as aulas, segui com a minha rotina de todos os dias e fui almoçar com o George. Eu sabia que poderia voltar para casa, todos os dias a Hattie e os demais empregados preparavam refeições deliciosas, mas só de pensar que eu deveria comer perto dos meus pais já sentia náuseas, então preferia a comida da faculdade e a companhia do meu amigo. 

Quase sempre almoçamos com seus colegas de classe, mas hoje éramos apenas nós dois.

— Você está inquieta — ele constatou assim que nos sentamos à mesa no refeitório. — Aconteceu alguma coisa?

— Nada demais — eu disse tentando disfarçar com um sorriso. Minha ansiedade estava tão visível assim? — Só estou preocupada com uma amiga.

— Algum problema em específico? — Ele começou a comer, eu encarei meu prato sem muito apetite.

— Hoje é o terceiro dia seguido que ela falta, isso nunca aconteceu antes. E nem tenho como saber se ela está bem. Isso me deixa angustiada.

— Bom, nós estudantes faltamos muito quando estamos sobrecarregados com a aula, ou querendo largar o curso. Mas não acredito que seja isso, ainda nem terminaram o primeiro mês. Vai ver que ela está doente.

— É, deve ser isso mesmo, esses dias estão mais quentes que o normal, ela deve ter ficado resfriada ou coisa parecida — eu tentava me conformar mesmo meus instintos me dizendo que não era bem isso.

Crime & Recompensa - EmisueWhere stories live. Discover now