50. Dias de reclusão, dias de prontidão

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Nota¹: Olá, demorei, mas apareci. Estava um pouco tristinha esses dias e acabei não conseguindo escrever, mas depois de dar uma folga para minha cabecinha ansiosa, pude retornar às atividades com o humor melhor.
E chegamos no capítulo 50, fico olhando aqui e sinceramente às vezes nem acredito que escrevi tudo isso, que construí uma história tão longa desde o início e tem pessoas lendo. Obrigada a cada um que acompanha, vocês são uma das minha principais razões para não desistir.
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Emily

Quem inventou o conceito de tempo?

Pesquisei no google e a resposta que encontrei foi que os povos antes de Cristo começaram a marcar a tempo, usavam um sistema de contagem baseado no doze e no sessenta, e daí vieram os segundos, minutos e horas: o dia completo com as vinte e quatro horas.

Mas esses conceitos matemáticos não me interessam, não era isso que eu estava pesquisando. Queria saber quem foi que, em um determinado dia, se dispôs a contar o tempo. Parou e pensou: o sol aparece e depois some do céu, crescemos e vivemos, mas como medir isso?

Quem foi que se sentou no finalzinho da tarde com a cabeça ociosa e começou a notar os segundos? Será que essa pessoa passou vários dias contando de um a sessenta várias vezes para poder nomear esses períodos de minutos? Será que ela desconsiderou margens de erro ou teve que repetir essa contagem por muitos dias até se dar conta do padrão?

Quem foi que sentiu a necessidade de criar o relógio?

Eu não sei. É complexo. Ninguém sabe, na verdade. Podemos ter relatos, resultados de pesquisas, historiadores super inteligentes que estudaram as civilizações antigas e descobriram que foram eles quem inventaram as horas. Mas não sabem o nome daquele que incitou a curiosidade a respeito do tempo.

Foi apenas uma pessoa? Um grupo de jovens? E se foi uma criança?

Queria muito ter essa resposta para assim poder mentalizar essa figura e lhe mandar uns questionamentos através dos séculos. E também queria poder gritar com essa pessoa. Por que foi se importar em contar os segundos? Porque graças a isso temos o relógio, o calendário, e meus olhos fixados na parede do quarto encarando o objeto redondo com seus ponteiros finos que nunca param (a não ser que acabe a pilha, mas ainda assim o tempo não tem botão de pausa).

Estou há uma semana trancada nesse quarto, desgostosa e nem um pouco a fim de colocar um pé para fora de casa. Cento e setenta e três horas, cinquenta e oito minutos e doze segundos no mesmo recinto, contando as horas e todas as medidas de tempo como se o relógio fosse uma divindade que necessitava da minha adoração.

Talvez algo semelhante tenha acontecido com os mesopotâmicos e babilônios, estavam tão tristes, desesperançosos e fatigados com a própria vida que um belo dia decidiram conceituar a ação imutável do planeta terra de girar e nos entregar o presente com expectativa de futuro. Talvez a tristeza e o medo tenham sido o gatilho que fez o ser humano necessitar de uma certeza sobre o tempo. Porque em uma trajetória pessoal na maioria das vezes tão solitária, conflituosa e instável, precisamos da segurança daquilo que não tem como mudar.

E os dias existem independente de como nos sentimos. Se morrermos hoje, ele continuará existindo. Quem nascer, morrer, casar, cozinhar um bolo ou terminar de escrever um livro, marcará a data e a hora como especial, mas essa marcação não passa de individualismo. 

Hoje, doze de abril, certamente alguém está fazendo aniversário. É o dia do nascimento de um filho tão planejado por um casal, ou talvez os aparelhos e máquinas que estivessem ligados ao corpo de um senhor de oitenta e cinco anos estejam sendo desligados nesse exato momento, encerrando, por fim, sua vida. Talvez alguém esteja dando à luz trigêmeos na índia. Ou uma criança nas praias do Caribe tenha dado seu primeiro mergulho sozinha. Ou um inocente acusado de assassinato injustamente esteja recebendo sua sentença condenativa nessa mesma hora.

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