33. Para longe daqui

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Nota: hoje é aniversário de uma leitora daqui da fanfic, então sejam gentis e digam parabéns para a Mel!
Obrigada por ler cada capítulo aqui escrito e espero que tenha tido um ótimo dia e termine a noite muito bem :) Feliz aniversário!!
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Sue

Talvez eu seja uma imbecil.

Uma grande idiota.

Ou simplesmente a mais covarde de todas.

Não havia luz do sol passando pela janela de manhã, mas o céu estava claro, e somado com meu despertador costumeiro já programado no meu cérebro, eu acordei no horário de sempre. Não abri os olhos, estiquei o braço a fim de senti-la do meu lado, mas percebi a cama vazia.

Abri os olhos e vi o espaço onde Emily havia dormido ainda bagunçado e o lençol deixado de canto. Eu sorri ao constatar que tudo aquilo foi real, eu havia dormido ali com ela, com certeza a melhor noite da minha vida, tudo o que passamos e fizemos não foi um sonho ou alucinação, aconteceu de verdade e eu me sentia imensamente feliz por isso.

Mas esse meu sorriso e as lembranças boas duraram pouco, logo eu fui atingida por um sentimento amargo que sucedeu o incômodo da culpa e diversos pensamentos de como eu era uma pessoa horrível.

Eu te amo.

Escutei muito bem ela dizer, apesar de estar quase dormindo nessa hora, mas quando meus ouvidos captaram aquela frase foi como se tudo em mim despertasse. Mas ao invés de eu abrir os olhos para responder que também a amava, tudo o que eu fiz foi fingir estar adormecida e me manter calada.

Por que você tem que ser assim, Susan Gilbert?

Eu nunca soube muito bem o que era amor, acho que porque nunca recebi. Eu sabia que amava a Mary, ela era minha irmã, mas o carinho que eu sentia por ela era muito diferente do que eu sentia pela Emily. 

E meus pais sempre foram tão distantes que frases como “eu te amo” ou qualquer outra demonstração de afeto sempre foram inexistentes. Eles me criaram, nunca me deixaram faltar nada se tratando de alimentação, um teto e outras necessidades, mas nunca sentamos para conversar sobre amor. Eles nunca me abraçaram e deram um beijo na minha cabeça seguido de qualquer palavra carinhosa.

Eu nunca aprendi com exemplos o que era ser cuidada e amada, e mesmo tendo entendido depois de mais velha que eu gostava tanto da Mary que isso significava amor, ainda era difícil para mim colocar as palavras para fora e torná-las reais para outra pessoa.

É claro que eu amo minha namorada, eu sei disso, porque mesmo nunca tendo sentido algo assim por ninguém antes, todas as vezes em que escuto falar de amor ou leio sobre o assunto, não chega nem a um por cento daquilo que eu sinto que habita no meu coração. Porque é muito mais do que uma definição, é um sentimento muito forte que às vezes parece me puxar com força apenas na direção dela, e ele me guia e me faz existir conforme suas vibrações.

Se isso não é amor, o que seria então?

Entretanto, eu não consegui respondê-la. Eu covardemente mantive os olhos fechados e torci para que ela se convencesse de que eu havia pegado no sono e não a tivesse magoado com a minha falta de palavras.

Eu fui uma grande imbecil, depois de tudo o que aconteceu na noite passada, de tê-la escutado dizer que nenhuma poesia seria capaz de resumir seus sentimentos, eu não me manifestei, eu ainda tinha esse maldito bloqueio sentimental que me impedia de ser completamente clara com ela sobre o que eu sentia. Parabéns, Susan, você está fazendo exatamente tudo errado.

Me sentei na cama, ainda sonolenta, e passei os olhos pelo quarto. Não estava tão diferente da primeira vez que estive aqui, apenas os móveis agora continham os pertences da Emily e a colcha de cama parecia novinha, num tom de rosa claro. Apesar de eu estar um pouco chateada comigo mesma, eu me sentia incrivelmente bem. Foi muito bom poder acordar em um lugar e não me sentir automaticamente pesada, como se meu coração estivesse sendo espremido e minha cabeça coroada com um fardo de cinquenta quilos.

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