[27]. i want u

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Quando cheguei em casa as crianças ainda estavam acordadas. Precisei me esforçar para não parecer triste ao dizer que quis voltar cedo por estar com dor de cabeça e tive que negar os pedidos insistentes por uma partida de Uno.
Tom logo entendeu que eu precisava ficar sozinho e argumentou em minha defesa mas Eliot era teimoso. Deixei os dois discutindo na sala e avisei a minha mãe que não iria jantar.
Estava sem fome e minha cabeça não parava de dar voltas e voltas.
Precisava esvaziar um pouco meu armazenamento de lágrimas.

Chorei assim que coloquei a cabeça no travesseiro.

Por algum motivo eu senti que era diferente.
Eu não estava chorando por mim.
Chorei por Felix.
Era absurdamente doloroso pensar que ele continuava priorizando os sentimentos de alguém que acabou com os dele.
Ela estava em crise, ele disse, mas e se fosse ele? Se ele sentisse crises de ansiedade pelos traumas que ela o causou? Ela mudaria por ele? Ela, que escolheu não contar a verdade sobre a traição porque colocou a própria felicidade acima de tudo.
Ela nunca priorizaria Felix. Heather era a pessoa mais egoísta que eu conheci em toda a minha vida.

Ao lembrar que ainda precisava colocar meu celular no carregador, me levantei e aproveitei o momento para tomar um banho quente e vestir meu pijama.
Quando o aparelho finalmente foi ligado ao ganhar alguns porcentuais de bateria, as inúmeras mensagens de Felix apareceram.
Em algumas ele explicava que estava tentando acalmar Heather, em outras ele perguntava se eu estava bem.
A última era um pedido de desculpas.
Larguei o celular e passei as mãos pelo rosto.

Por um momento quis ignorá-lo por algumas horas. Talvez assim ele sentisse um pouco do que senti enquanto estava na casa dele mas ao olhar em direção ao livro que o sr. James me deu, deixado na cômoda ao lado da cama, acabei suspirando.
Peguei o celular de novo e respondi rapidamente um “tudo bem, como ela está?”

A mensagem não chegou e antes que meu cérebro começasse a formular teorias que envolviam Felix sendo torturado por uma Heather sem remorso, a voz dele me chamou, fora do quarto.
Pensei que estava ouvindo vozes e não respondi, mas bateram à porta logo em seguida.

ㅡ Acho que ele já está dormindo, Eliot. Mas obrigado por me trazer até aqui.

ㅡ Eu posso acordar ele pra você.

ㅡ Não precisa. Eu vejo ele na escola amanhã.

Abri a porta e os dois me olharam em sincronia.

ㅡ Pode descer agora, Lio. Preciso conversar com o Felix.

ㅡ Fiquem a vontade. ㅡ O garotinho acenou e surpreendentemente me obedeceu. Acho que o sermão de minha mãe sobre visitas minhas funcionou.

Dei espaço para que Felix entrasse e quando fez isso, fechei a porta.

ㅡ Senta. ㅡ Apontei em direção a cama, ele continuou olhando pra mim.

ㅡ Me desculpa, Changbin.

ㅡ Tudo bem. Eu não estou bravo com você.

A expressão de cansaço no rosto dele era razão suficiente pra me fazer entender que ele não tinha culpa de nada.
Felix não tinha culpa de ser bom com as pessoas.
Como o pai dele me avisou, eu deveria ter paciência.
Como o velho no mar.

ㅡ Vem. ㅡ Peguei a mão dele, assim como ele estava se acostumando a fazer comigo e o direcionei até minha cama. Sem contestar, o garoto deitou e fechou os olhos enquanto eu deitava ao lado, colocando as cobertas quentinhas sobre nós.

ㅡ Você me esperou por bastante tempo... Me desculpa. ㅡ A voz estava um pouco mais grave que o normal, provavelmente pela proximidade entre nós. Estar deitado sobre seu antebraço era novidade pra mim. A respiração dele batia em minha testa,fazendo minha franja se movimentar levemente. Meu coração se agitava.

i wish i were heather.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora