i wish i were heather.

[10]. i'm not alone anymore

No domingo fui arrastado pra fora da cama por Eliot e Thomas.
A ideia de um picnic àquela hora da manhã me atormentou, mesmo que geralmente fosse o programa em família mais divertido, eu me sentia quebrado.
Ainda mastigava os acontecimentos da noite anterior, a culpa, o medo, o nervosismo e todos os outros sentimentos ruins que senti antes, voltaram para me lembrar que quase fui descoberto por Lee e Heather ainda estava brava comigo.
Para ser sincero, não entendi o motivo de seu ódio.
Rejeitou todas as minhas ligações quando tentei conversar, então aceitei que ela precisava de um tempo sem mim ou que eu estaria sozinho a partir daquele momento.

Meu tornozelo estava dolorido, o médico que encontramos noite passada colocou tudo no lugar certo e prometeu que o inchaço diminuiria com o tempo.
Precisava andar de muletas durante esse processo de cura, nunca me senti tão humilhado.

ㅡ Ainda não acredito que você deslocou um osso do pé enquanto dançava. ㅡ Thomas ria enquanto eu me apoiava nas ditas muletas de madeira para me levantar da cama. Não retruquei sua provocação e apenas continuei minha rotina da manhã.

ㅡ Nós avisamos que você não tinha masculinidade suficiente para algo tão radical. ㅡ Eliot apontou, abrindo a porta do banheiro para me ajudar a ser mais rápido.

Eles estavam animados para o evento.
A família inteira sempre comparecia, era tradição.
Durante os meses de intercâmbio eu participei de três desses encontros, em um deles uma tia entrou em coma alcoólico e em outro rolou uma discussão por culpa das tatuagens que uma prima resolveu fazer. O último fora o mais tranquilo, Heather havia ido comigo e por isso tentei chamá-la novamente, mas não fui atendido.
Já planejava chamar Christopher, foi até um alívio pensar que não precisaria ver os dois no mesmo lugar. Certamente os ânimos do picnic não iam ser tão calmos.

Tomei um banho rápido, quase metendo-me em outro acidente por ter que ficar de um pé só,colocando o pé machucado longe da água pra não molhar a bota imobilizadora.
Eliot e Thomas me esperavam no quarto.
Quando tínhamos aula eu mal os via por culpa dos horários, em feriados e final de semana acabava passando o dia com os dois,e Daisy, me perseguindo.

Ao sair do banho já vestido e pronto, não os encontrei.
Certamente Chris havia chegado e Eliot enchia seu saco na sala de estar.
Peguei um casaco e desci, o dia estava frio pra caramba.
Chris me esperava sentado no sofá maior, usava roupas de frio em tons neutros e um boné.
Quando me viu, levantou e me ajudou a descer os últimos degraus da escada.

O café da manhã foi rápido, mamãe não queria atrasos uma vez que tínhamos que pegar um lugar bom no parque.
Finais de semana eram sempre lotados, o clima estava fechado e frio mas ainda era domingo e as famílias gostavam de aproveitá-lo ao ar livre.
Chris e eu fomos no banco de trás do carro dela, as crianças foram no carro de um dos nossos tios e assim deixamos o bairro.
Uma garoa fina caía do céu tornando o ar úmido o suficiente para deixar meu cabelo totalmente embaraçado.
Optei por usar um boné preto que achei ali mesmo. Chris me cutucou.

ㅡ Estou animado. Imagine quantos gatinhos vamos conhecer lá. ㅡ Sussurrou.

ㅡ Eu não estou a fim de conhecer ninguém. ㅡ Sussurrei em resposta. Por mais que o barulho do rádio tomasse o ambiente, ainda falávamos baixinho.

ㅡ Você é fiel ao Felix, não é?

Tive um sobressalto e segurei o rosto de Chris com as duas mãos, ele ria.

ㅡ Não repita isso nunca mais. ㅡ Estremeci, eu era tão óbvio assim? Devia definitivamente ficar longe dele.

ㅡ Só estou brincando, não seja chato. ㅡ Disse, afastando minhas mãos de si.