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Quando chego à minha cidade e desço do ônibus, chego a me assustar com os ventos fortes

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Quando chego à minha cidade e desço do ônibus, chego a me assustar com os ventos fortes. O céu está mais escuro do que o habitual para as oito da manhã. Vem chuva por aí. Engraçado como o tempo resolveu se adequar ao meu humor. É exatamente assim que eu me sinto, como se nuvens negras tivessem pairado sobre mim, impedindo que a luz entre.

Se alguém tivesse me dito que eu iria para a cidade dos meus primos e me tornaria babá de três crianças, eu teria dado gargalhadas e afirmado em mais de um idioma que isso seria impossível. Talvez não tão impossível, confesso. O impossível disso tudo seria me apaixonar perdidamente pelo meu patrão.

Talvez minha única experiência profissional não tenha me ensinado a delimitar o emocional do profissional, já que não havia mesmo muita emoção em atender clientes chatas e exigentes todos os dias. No máximo eu tinha alguns desentendimentos com as outras vendedoras da loja, e isso era o mais próximo de um descontrole emocional que eu já passei em um emprego. Nunca, nenhum dos meus afazeres no trabalho ganhou mais espaço na minha vida do que deveria.

Minha cabeça estava tão a mil ontem, que nem lembrei de trazer algo para comer durante a viagem, então entro na primeira lanchonete que vejo e paro sobre a bancada. Corro os olhos por todos os salgados, é quando vejo os sanduíches naturais. É ridículo que até isso me dê vontade de me debulhar em lágrimas, coisa que estou com planos de fazer quando deitar na minha cama.

Ser babá das crianças, e nutrir um amor secreto pelo pai delas já tinha se tornado algo tão natural quanto respirar. Tanto que agora sinto como se estivesse sem fôlego no fundo do oceano. Eu ganhei aquelas crianças, cuidei como se fossem minhas. E olha que nem jeito com criança eu tinha. Recebi delas o amor mais puro que pode existir. E isso sem mencionar o que vivi com Maurício nos últimos dias. Eu fui do céu ao inferno em uma queda brusca que não me matou, mas me destruiu. Estou despedaçada e tentando levar cada pedaço meu de volta para casa.

Eu realmente me deixei levar pela correnteza de Maurício. Ele não sabia, mas já estava desaguando em mim desde que nos vimos pela primeira vez. O pouco tempo que passamos juntos nos fez despejar um no outro com tanta entrega, que não estou conseguindo sair disso inteira. Estou trazendo muito dele comigo, e esperando ter conseguido deixar algo de mim nele também.

Afasto Maurício dos meus pensamentos quando noto que a atendente da lanchonete está esperando eu decidir o que vou querer. Peço um sanduíche de frango com queijo provolone, o mesmo tipo que comprei para ele ontem, na dúvida se ele gostaria ou não. Me sento próxima à janela e começo a comer voltando no tempo. Depois do susto que me deu, Maurício devorou o sanduíche sem nem mastigar direito. Me pego rindo sozinha, o que pode fazer as pessoas ao meu redor me acharem louca, então desfaço o sorriso e mordo o sanduíche, mastigando na mesma velocidade em que meu cérebro me leva para longe. Enquanto Maurício devorava o sanduíche de ontem, estava eletrificado, cheio de ideias e suposições sobre o que fazer para trazer Bernardo de volta, mas acabou nas garras de Vallentina.

Entre erros e acertosWhere stories live. Discover now