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O tempo que tenho não me ajuda a bolar uma resposta convincente, então acabo optando pela verdade

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O tempo que tenho não me ajuda a bolar uma resposta convincente, então acabo optando pela verdade.

— Eu tava conversando com a minha irmã. Ela queria notícias de Bernardo e de Jônatas.

Sem tirar os olhos dos meus, ela estende a mão e fica esperando que eu dê meu celular à ela. Esse é o tipo de coisa que nunca passamos antes. Melhor dizendo, que eu nunca passei. Não que eu já tenha feito esse tipo de cobrança à ela, mas a questão é que eu estou detestando ter que dar esse tipo de satisfação, mesmo que a situação atual esteja implorando por algo assim. Entrego meu celular à ela e fico esperando que ela constate que falei a verdade e me devolva. Ela analisa as chamadas recentes e me encara vez ou outra, mas continua rolando a tela para chamadas mais antigas.

— Não tem mais razão pra isso.

Meu coração salta dentro do peito ao ver Vallentina abrir minha agenda e buscar o número de Diandra. Minha boca chega a abrir para protestar, mas então lembro que dizer qualquer coisa agora estaria colocando tudo a perder. Meus dentes estão cerrados, e imagino que dê para perceber que minha mandíbula está tensionada, mas não consigo controlar todas as minhas reações, pois não só o número de Diandra, mas minha lista de chamadas recentes e até mesmo minhas mensagens estão sendo deletadas. Independentemente dessa volta ser uma fraude, Vallentina não tinha o direito de fazer isso. E agora? E se eu precisar falar com ela?

Nove, nove, quatro, dois, quatro...  Ou seria nove, nove, dois, quatro, dois? Mas que droga! Eu não decorei o número dela.

— Toma. — ela me devolve o celular sem nem se desculpar por ter desconfiado de mim quando eu estava falando a verdade. — Vem, vamos deitar.

A náusea atinge meu estômago quando percebo que Vallentina está usando um hobby de seda preta, e que obviamente ela só o vestiu quando saiu do banheiro e viu que eu não estava no quarto. Com certeza há algo por baixo desse hobby que a fez pensar que me impressionaria, mas não vai rolar. Meu corpo está pegando fogo, mas de raiva. Meus lábios estão dormentes, mas por ter tentado disfarçar que meus dentes estavam cerrados.

— Eu não quero deitar agora.

Minha frase soa idiota, como se eu fosse uma criança que está lutando para não ir dormir cedo.

— Tudo bem então — ela diz fechando a porta. Em seguida, tranca-a. — Podemos passar um tempinho aqui antes de ir dormir, como nos velhos tempos.

Engulo em seco ao ver a tremenda enrascada em que acabei de me meter. Vallentina está desamarrando lentamente o hobby enquanto diz alguma coisa sobre estar com saudades do que fazíamos aqui. Ela deve estar pensando que me lembrar dessas coisas do passado pode me despertar algum desejo por ela quando tudo o que eu quero é amarrar esse maldito hobby de novo.

— Não, você não entendeu. Eu não quero transar com você. — os olhos dela perdem o brilho no mesmo instante em que termino de falar. — Não agora — tento consertar a merda que fiz.

Entre erros e acertosWhere stories live. Discover now