- Clima tenso no restaurante

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POV. LEVI

Pela segunda vez, eu e a Lou estamos no mesmo elevador. Juntos. Foi surpresa para mim assim como foi para ela. As minhas mãos estão suando, não sei como respirar, porque o ar parece inalcançável.

Eu diria a ela que está bonita, se não estivéssemos a dois anos sem trocar palavra alguma. Eu já fui mais direto, acho que agora eu tenho medo de ser assim. Não sei como ela pode reagir. Não sei se ela vai sorrir ou fingir que não me escutou.

Ela está usando uma calça jeans larga, um suéter de lã vermelho, coturnos pretos e o cabelo solto.

Sim... linda.

— Está indo para a faculdade? — Pergunto para quebrar aquele clima pesado.

Demora um pouco para ela responder. Meus nervos estavam quase dando piruetas.

— Sim. E você?

— Também.

Ajeito a alça da minha bolsa branca, encaro o meu All Star surrado e depois a encaro de soslaio.

— Você conseguiu no fim das contas. Fico... feliz por você.

— Ah, pois é.... obrigada — Dá um pequeno sorriso.

Uma dor aguda em meu peito faz com que olhar para ela se torne insuportável.

— Lembro-me que você teve que me aturar para conseguir passar de ano, e para conseguir a carta. Desculpa.

— Eu não tive que te aturar.... — Declara olhando para a porta do elevador, como se gritasse para chegar logo no primeiro andar.

Uma tristeza atravessa seus olhos de imediato.

Levanto a mão para tocar seu ombro, mas a porta se abre e ela sai rápido.

No fim, torci para o destino ter colocado ela na mesma faculdade que a minha, ou no mesmo campo. Mas não foi desta vez.

POV. LOUISE

A minha aula acabou um pouco antes do horário do almoço, a minha primeira aula na faculdade...

Isso é tão estranho, mas não tanto quanto eu prestando atenção no professor e fazendo anotações, uma coisa que eu não fazia no ensino médio ou na minha vida escolar inteira.

— Lou! — Emily me chama no fim do corredor usando uma mini-saia rosa, uma blusa curta da mesma cor, uma bota de veludo branco e o cabelo loiro escorrido até a cintura. Ela se veste realmente como uma patricinha de filme americano.

— Oi...

— Garota, você não vai acreditar — Começa empolgada. — Aquele seu amigo bonito está no mesmo curso que eu.

A Emily está cursando gastronomia. O que eu achei legal, mesmo sabendo que ela só come miojo e café, às vezes faz um bife também, mas apenas às vezes mesmo.

— Meu amigo bonito? Não conheço ninguém...

— E eu? — Sinto um braço ao redor do meu pescoço. A única pessoa capaz de abraçar alguém e enforcá-la ao mesmo tempo.

— Murphy.

— Como você está, princesa?

No ano retrasado ele estava insuportável, ficou me seguindo e tagarelando que eu não podia isso e não podia aquilo, parecia um coach, mas escutá-lo me ajudou a perceber que não adiantava nada me afogar em meu próprio desespero. Eu estava apenas perdendo mais pessoas com isso.

— Bem. — Abro um sorrisinho por cima do ombro.

O Murphy foi quem me apresentou essa cidade, então quando a Emily disse que compraria um apartamento aqui, eu vi a minha oportunidade. Todos os universitários vêm para cá, de todas as regiões.

— Estão indo almoçar?

— Sim, quer vir? — Emily pergunta sorrindo.

O Murphy já me disse que não gosta dela da mesma maneira, mas por garantia eu vou deixar ela sem saber disso por um tempo, porque acho que o meu amigo pode estar equivocado.

— Vou levá-las no meu lugar favorito para comer. — Ele nos guia para a saída, ainda sem tirar o braço do meu pescoço.

A nossa universidade está localizada em um bairro com todas as outras universidades, então tudo é para os estudantes, e a rua na frente do nosso prédio possui uma fileira inteira de restaurantes, por isso fica mais fácil sair da aula e ir direto almoçar, ao invés de voltar para casa.

— Vocês dois na mesma aula, em? — Levanto as sobrancelhas, me ajeitando na cadeira.

— Honestamente eu achei estranho isso. — Murphy comenta um pouco pensativo.

— Por que? Vocês só escolheram o mesmo curso.

Emily parece suspeita, dá uma risadinha olhando para o cardápio. Se eu não a conhecesse bem, diria que está ficando louca.

— Acredite em destino, meu querido. — Fala para ele.

— Eu não acredito em destino.

O Murphy adora deixar o clima desagradável e tenso. Acho que ele gosta sim da Emily, apenas tem medo de admitir. Ele sempre é grosso com ela e a corta sem piedade, não que isso seja sinal de sentimentos, mas é porque às vezes eu pego ele a encarando de um jeito perdido e hipnotizado.

POV. LEVI

Entro no restaurante com o Noah e um novo amigo dele, Jonas, fiz amizade na mesma hora que o vi porque ele está usando uma camisa do Scooby-doo. Meus olhos caem em uma garota de costas, reconheço o suéter vermelho de lã e o Murphy na cadeira da frente.

A Louise está sorrindo, um sorriso bonito e brilhante. Eu gostaria de saber sobre o que estão conversando, se ela ainda é fácil de impressionar, o que ela gosta de comer agora, se a cor favorita dela ainda é azul...

— Ei, prefere ir em outro lugar? — Noah me pergunta quando encontra a mesma cena que eu.

— Não.... — Falo em quase um sussurro.

— O Murphy combina muito mais com você do que aquele Levi, acho que depois que conheci os dois pessoalmente, vi que o melhor da banda é o nosso amigo aqui. — Emily fala para a amiga, acho que é esse o seu nome, lembro dela na cafeteria.

— Fico lisonjeado. — Murphy abre um sorriso apático.

— A Lou combina muito mais com o clichê do garoto marrento do que o golden retriever

— O Murphy é só o meu amigo. — Lou esclarece para ela.

Noah puxa o meu braço para fora do estabelecimento e me leva para longe, até o estacionamento. Sua expressão é de alguém preocupado, está me encarando como se procurasse por alguma coisa fora do lugar. Acho que é o meu coração que está agora na minha boca.

— Vamos em um restaurante melhor, esse é só quatro estrelas.

— Verdade, uma vez a comida veio fria. — Jonas concorda, trocando olhares com o Noah.

— O que é ser um Golden retriever? — Pergunto.

Meu amigo demora um tempo para raciocinar, olha para o outro em busca de ajuda para minha resposta.

— Deve ser um elogio. — Jonas responde.

— Sim. Deve ser isso. — Noah apoia a resposta.

— Vocês têm certeza?

— Sim.

— Claro.

Antes de você dizer adeusOnde histórias criam vida. Descubra agora