- Bolo de morango

1.8K 231 24
                                    

POV. LOUISE

Apenas depois que me arrumei para a escola e tomei o café foi quando o meu pai chegou. A camisa de botões está aberta, o cabelo bagunçado e a cara de quem não dormiu. Já o vi chegando assim diversas vezes ao longo da minha vida, e acho que vou continuar a ver.

O faço parar no meio do caminho para o quarto com a minha pergunta:

— Onde estava?

Ele para.

— Não interessa a você saber onde eu estava.

— Ela chorou a noite toda — Não o olho. Não terei coragem de continuar falando se fizer isso. — O senhor podia pelo menos ter avisado que não iria chegar ontem.

Não gosto de enfrentar o meu pai porque nunca acaba bem. Como da última vez que ele sumiu com todas as minhas roupas do guarda-roupa e as encontrei na lixeira de casa no fim da tarde. Ou então quando ele me deixou do lado de fora até que o meu irmão chegou do trabalho e a porta se abriu. Para ele entrar.

— Não fala o que não sabe — Resmunga. Sua mania de respirar pela boca continua. — Você é nova demais para entender.

— Sou mais nova, mas sei mais sobre um relacionamento do que o senhor — Falo por impulso e seus olhos cravam em mim como dois faróis enormes.

— Não fale bobagens. Nada é conto de fadas.

Respeito o senhor não tem. Isso é um dos requisitos, caso não saiba.

Fecho os olhos com força, junto com os pulsos.

Já foi. Não se arrependa das palavras agora.

Eu evito olhá-lo ainda, porque não sou corajosa a esse ponto. Mas, está demorando demais para uma resposta. Eu não sei como ele pode reagir, suas maneiras podem ser diversas dependendo do humor.

— Melhor você calar a boca, mocinha.

Não acho que ele esteja tão bravo ao ponto de querer me dar uma surra. E por algum motivo estou perdendo a cabeça hoje. Então continuo:

— Não tem um pingo de respeito no seu relacionamento — Ele começa a vir na minha direção e eu começo a duvidar das minhas conclusões anteriores sobre o seu humor. — Não teve respeito em nenhum momento da sua vida com todas as mulheres que existem nela. Ou com seus próprios filhos e netos. Principalmente com a Helena que nem é a minha mãe de verdade.

— Eu mandei calar a boca. — Ele segura o meu braço — E eu coloquei você nas mãos da minha esposa, porque a sua mãe não quis você! — Joga as palavras na minha cara. — Nem a sua avó materna, suas tias, a vizinha....

Eu não consigo me mexer. Não consigo sair daqui para correr e estou vendo ele embaçado agora por causa da água acumulada nos meus olhos. E ele aperta mais forte o meu braço.

Eu pedi por essa reação, não foi?

Eu o questionei quando sabia que nunca daria certo.

— Sabe o que mais, garotinha irritante? — Eu nunca vi os seus olhos tão esbugalhados assim, e o meu coração surra meu peito com força para poder sair correndo sozinho já que eu não consigo fazer isso agora.

— Já chega, Fernando. — Helena aparece atrás dele com o seu rosto inchado. Provavelmente de tanto chorar. A mulher que eu sempre chamei de mãe, porque foi quem me criou. Mas foi por dó. Porque ninguém me quis.

Pego a minha bolsa na cadeira e saio pela porta nesse tempo que ela aparece para conversar com ele. Caminho na rua tão rápido que atravesso e chego do outro lado em segundos e continuo andando, agora devagar.

Antes de você dizer adeusWhere stories live. Discover now