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Está frio.

Osamu às vezes esquecia como o clima poderia ser inconsistente. Ontem foi um dia de sol; um sol brilhante e vivo com o tom de amarelo mais bonito que um ser humano poderia presenciar. A brisa era fresca e bem-vinda, em conjunto com o céu azul e limpo que pintava o céu.

Hoje é um dia cinzento. Não é possível ver o sol por conta das grandes nuvens cinzentas que cobrem o céu igualmente escurecido; os ventos estão mais agressivos e gélidos. Talvez chova mais tarde.

O dia está morto.

Tão morto quanto o homem que estampa a foto no altar a alguns metros de onde Osamu está parado. Uma foto antiga, ainda época do ensino médio; não há sorriso. Uma característica comum de Suna. Com seus sorrisos raros, mas nunca genuínos. Talvez a foto esteja desbotada e um pouco rasgada; envelhecida pelo tempo.

A foto também parece morta, tudo ao redor de Osamu parece igualmente morto. A sala está bem iluminada pelas luzes no teto e nas paredes, mas por algum motivo, Osamu sente que o ambiente está perdido em escuridão.

Suna Rintarou está morto.

Seu Ososhiki possui poucas pessoas. Além de seus familiares principais, e três desconhecidos, o local é preenchido principalmente pelos antigos companheiros do clube de vôlei da escola Inarizaki. Não todos, somente aqueles que fizeram parte do time do segundo e terceiro ano. Osamu não sabe o que aconteceu com o resto das pessoas que costumavam chamar Suna de companheiro.

Todos parecem abalados, quem não estaria? É a primeira pergunta que se passa na cabeça de Osamu. Não é todo dia que você acorda com diversas chamadas que um antigo companheiro de equipe, e amigo, se suicidou três noites atrás.

Ainda é um choque. Osamu ainda não digeriu bem a informação; ainda há um amargo estranho em sua língua. Seus olhos pesam, mas ele não sente vontade de chorar; é somente um grande vazio estranho em seu peito.

Até mesmo Kita Shinsuke parece perder a compostura perfeita e orgulhosa que sempre caminhou com ele desde que era apenas um adolescente. Seu olhar é tão cansado quanto os de outras pessoas no recinto. Ele também devia considerar Suna uma pessoa querida, de algum modo.

O olhar de Atsumu é o único que se difere das outras pessoas. Os olhares dos outros são abatidos, tristes, cansados, perdidos, inconformados. Atsumu tem um olhar sombrio ao encarar a foto de Suna em cima do altar. Osamu não sabe o que ele está pensando.

Osamu imagina que tipo de expressão ele próprio está fazendo.

O ambiente não é tão silencioso quanto Osamu esperava. Há suaves gemidos e soluços vindos na parte mais próxima do altar. É o único som na sala.

A mãe de Suna, Rika, parece inconsolável. Ela chora sozinha, ajoelhada, com ambas as mãos escondendo seu rosto cansado. É uma visão lamentável, mas ninguém se aproxima para mudar a situação.

É mais lamentável ver que ela é a única pessoa que se preocupa em chorar por alguém que não está mais aqui. É a única que se preocupa em estar em luto. Seria este o fardo de uma mãe?

Osamu não sabe onde está o padrasto de Suna, ele não se lembra de tê-lo visto em nenhum momento desde que o Ososhiki havia começado. Osamu considera isso como sorte, há algo na presença do homem que fazia seus instintos se aguçarem.

Rika está sozinha. Nem mesmo a presença da meia-irmã de Suna, Momoko, quebra essa visão lamentável. Na verdade, é a garota que faz a visão parecer desse jeito; ela não parece se importar com o estado da mãe, ou até mesmo do irmão.

Wherever You Will GoKde žijí příběhy. Začni objevovat