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Gana Navolska

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Gana Navolska

Na tarde do mesmo dia, depois de ter feito mais uma entrega para Dona e, consequentemente, mais um programa, encaro a face do professor de história através da tela do notebook, que conta sobre o acidente nuclear de Chernobil que ocorreu no ano de 1986, absorta nos movimentos de seus lábios sem conseguir prestar atenção em suas palavras.

Suspiro, apoiando o queixo na mão, forçando meu cérebro a filtrar a matéria. Gosto de história, acho incrível descobrir o que meus antepassados passaram para eu estar aqui hoje, mesmo sendo recheada de tragédia e guerra, porém, raramente consigo concentrar-me por muito tempo na aula, quando percebo, estou vagando nos pensamentos.

Sobressalto de susto ao escutar um latido de cachorro, olho para porta atrás de mim de súbito, encucada com o barulho. Franzo a testa, confusa e perguntando-me se foi fruto da minha imaginação.

Segundos se passam, a quietude só é preenchida pela voz do professor, quando tento voltar a prestar atenção, outro latido ressoa pelas paredes, me levanto apressada e abro a porta. O corredor está vazio, mas escuto ruídos vindo do apartamento de frente.

Nunca tivemos cachorros nesse prédio — não que me lembre — portanto, é provável que seja do novo vizinho ou... vizinha. Mordo de leve minha unha ao mesmo tempo em que ideias se formam em meu cérebro.

Entro de volta, tranco a porta e sigo para cozinha, junto os ingredientes que trouxe da casa da Laura semana passada e tento reproduzir o brigadeiro que Lívia esforçou-se para me ensinar. Não posso dar boas-vindas ao novo morador sem nada em mãos, seria uma falta de educação.

Enquanto escuto o professor falar sem parar, faço o doce, enrolo-o com a mão empapada de margarina e mergulho no granulado — o nome que Lívia disse-me que era.

No instante em que termino, coloco-os em um potinho cor-de-rosa de plástico, deixo em cima da bancada da cozinha e vou para meu quarto me arrumar. Tenho que causar uma boa impressão, não quero ser chamada de mulher do demônio pelo novo morador. Escolho um vestido rodado — não muito curto — com girassóis estampados que comprei escondido e nunca usei.

Quando estou prestes a bater à porta da frente, sinto dentro de mim uma vontade súbita de desistir. Seria mais uma pessoa perto de mim que correria perigo caso for legal, só que, ao mesmo tempo, algo grita para eu descobrir ao menos sua identidade.

Inspiro fundo e aliso o vestido, feliz por ter a maior parte do meu corpo coberto. Analiso o potinho com os brigadeiros, perguntando-me se ele gostará do presente. Encaro o chão manchado e com coragem, bato à porta, mordendo o lábio inferior com nervosismo.

Bem que poderia ser uma pessoa gentil, que não me julgue e que seja amigável, o mundo precisa de mais pessoas assim... eu preciso, porque já vivo onde demônios dominam os dias e as noites.

INTENSA CONEXÃO - PARTE UMDonde viven las historias. Descúbrelo ahora