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Mirom Rotam

Na sala de reuniões, aguardo por mais informações sobre esse caso, esperando que dessa vez me convençam

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Na sala de reuniões, aguardo por mais informações sobre esse caso, esperando que dessa vez me convençam. Alyna se levanta, olha para Alexey que assente em incentivo, seus olhos deslizam até os meus, ela inspira fundo e começa a contar o resto que neguei ouvir.

— Nessa história tem um lado, os sonhos das mulheres de terem uma vida melhor no estrangeiro — Alyna engole em seco —, do outro, a exploração e a escravatura sexual dessas mulheres. É um truque de ilusionismo.

— Cada ano — Hamlet prossegue com o olhar fixo na parede —, mais mulheres querem ir para o estrangeiro, atraídas por essa oportunidade dourada. Quatro anos atrás, fomos contatados por uma mulher que lera no jornal um anúncio de um emprego de camareira para ucranianas — conta, fechando os olhos por alguns segundos. — Ela mandou uma carta e recebeu um questionário, que preencheu e enviou de volta. Logo em seguida foi contatada por uma mulher daqui, de Kharkiv, que se disse representante de uma agência de empregos. Propôs-lhe ir a Kiev, com um grupo de umas quinze ucranianas para uma entrevista. Era óbvio que tudo aquilo era falso, ainda mais que a mulher deveria partir com o grupo e a agente, sem quaisquer contatos no destino ou reservas de hotel, a aconselhamos a não ir. — Hamlet abaixa a cabeça e suspira. — Mas ela ignorou-nos e partiu.

Eles ficam em silêncio. Observo-os com atenção, tentando sentir alguma empatia e afastar o pensamento de que essa moça de que falam cavou sua própria cova por merecimento, mas permaneço calado, respeitando a dor que sentem.

— Ainda não tivemos notícias — finaliza Alyna. — Os jornais estão cheios de anúncios de empregos, propostas de casamentos de homens estrangeiros que pretendem se casar com eslavas. Há agências matrimoniais, de empregos e de modelos especializadas em relações Leste-Oeste, com publicidade em jornais, revistas e sites na internet, onde todos tem acesso, inclusive os jovens que tanto sonham em ter uma vida melhor. — Alyna olha para Hamlet que se remexe na cadeira.

— Muitas mulheres pretendem apenas trabalhar — ele diz, contorcendo as mãos. — Empregos como empregada doméstica, garçonete, babá, recepcionista e acompanhante, são oferecidos na internet e em anúncios de jornais com salários impensáveis para uma ucraniana com salário médio.

Deslizo meu olhar para Alexey que presta atenção em cada detalhe, fazendo-me perguntar se tudo tem um interesse pessoal, uma ligação entre eles e esses acontecimentos.

— Há um terceiro grupo de mulheres que julgam não ter ilusões. — Olho para Alyna, que sorri com incredulidade. — O propósito é mesmo ir trabalhar como prostituta, vender o corpo durante meia dúzia de anos num bordel ou por conta própria, acumular dinheiro suficiente para comprar uma casa e um carro e começar uma vida nova. — Ela me encara, raiva serpenteando seu rosto. — Tudo isso, Mirom, é o conto de fadas, o lado cor-de-rosa.

— E o lado obscuro? — pergunto, ficando cada vez mais entediado.

Alyna morde o lábio pintado de vermelho, balança a cabeça e se senta, como se fosse incapaz de permanecer em pé. Hamlet segura sua mão, fazendo-a fitá-lo com olhos cheios de lágrimas, ele assente, um comando para que ela conte esse lado.

INTENSA CONEXÃO - PARTE UMWhere stories live. Discover now