Sangue do seu sangue

395 57 40
                                    

Nínive abriu um sorriso sincero olhando para as lágrimas misericordiosas do coração bondoso de Amilan, ela olhou para a barriga da irmã e se aproximou com a mão perto do bebê para tocá-lo mas antes que ela pudesse finalizar o ato, um jato de luz atingiu o ombro da garota com tanta força arremessando-a para fora da torre. O tempo correu em câmera lenta, ela viu a sua irmã perdida cair da torre, enquanto o corpo da garota caía em lentidão, ela viu em sua expressão tranquilidade, era exatamente essa a sua vontade, morrer, ao contrário de Amilan que demonstrava pavor ao ver o único membro vivo de sua família ser arremessado de uma altura imensurável.

Independente de suas ações controversas, ela era sangue do seu sangue, afinal a vida das duas tinha sido traumatizante pelas consequência das ações de seus pais, todo ódio e raiva que ela havia guardado de Amilan havia sido cultivado desde de criança, pela falta de humanidade e crueldade de seus pais em destratar a menina apenas por não nascer da forma como eles queriam que ela nascesse, as duas eram vítimas de uma narrativa nojenta que promovia a discriminação e a desigualdade da descendência direta e indireta das Valquírias. Assim como Loki também havia sido vítima das escolhas sujas de seu pai, se Amilan podia perdoá-lo pelas suas ações individualistas e egoístas, porque não a sua irmã?

Qualquer criança criada em um contexto de desacolhimento, exclusão, abandono e rejeição, criaria sentimentos e pensamentos perversos que corromperiam a sua alma, de qualquer forma, o fato de Nínive ter enxergado quer nem Amilan havia tido uma vida perfeita pela qual ela idealizava, significava que ainda tinha uma parte em algum lugar do seu coração que não havia sido corrompida, e que ela podeira ter uma segunda chance de viver uma vida com Amilan em que ela nunca teve a oportunidade, pensou Amilan, porém todo aquele pensamento se esvaziou em sua mente quando ela viu sua própria irmã morrer na sua frente, a diferença de idade entre as duas provavelmente demonstrava que ela morreu com a mesma idade que a sua mãe.

- NÃOOOOOOOOOOO! - gritou Amilan caindo de joelhos no chão e esticando a sua mão como se aquela tentativa pudesse reverter o que já havia acontecido.

Ela sentiu o desespero fluir em seu corpo, como se jogar pela torre para resgatar a sua irmã pudesse salvá-la, Amilan sentiu uma mão arrastá-la para longe da beirada, ela fechou os olhos e seu coração se apertou tão forte que ela colocou as mão no peito sentindo uma dor forte, aquela dor era muito mais que emocional, ela havia se tornado física.

- Tá tudo bem! Tá tudo bem! - ecoou a voz de Jade que Amilan reconheceu imediatamente. - Ela machucou você?

Amilan estava de olhos fechados e deitada no colo de Jade, aquela imagem de Nínive caindo da torre se fixou em sua mente de forma traumática e marcante, ela não conseguia falar ou chorar ou demonstrar tristeza, suas mãos estavam em volta se sua cabeça e aquilo parecia demais para ela engolir, ela ouviu bem afundo diversos passos em volta dela, eram os soldados, Amilan sentiu um apito no ouvido e tontura, seu rosto estava vermelho e seus olhos estavam saltados, ela olhou para o canto vendo o arco e a mochila e viu os guardas revistarem, eles tiraram diversas coisas entre elas um pequeno caderno que parecia ser um diário.

Ela se afastou rapidamente de Jade e engatinhou desesperada até o caderno e o pegou se agarrando a única coisa que pertencia a sua irmã, os guardas e soldados olharam para Amilan que estava agarrada ao objeto e passos atrás dela surgiram.

- Tudo bem, deixe-a! - ordenou Odin. - Amilan como você está?  Está machucada? Ferida? - perguntou o rei afastando todos os soldados e se agachando exclusivamente para a garota. 

- Não... ela nem tocou em mim. - respondeu Amilan.

- Que bom! - soltou Odin, ele puxou a garota para um abraço e beijou a sua cabeça aliviado, seu rosto que estava pálido voltou ao normal.

E quando o rei se desfez do abraço ele se assustou ao ver os cabelos de Amilan que pareciam ter adquirido vida, a raiz da garota que havia sido tomado por meses atrás de um preto escuro sem vida e sem brilho, agora havia sido trocado por aquele castanho claro cor de mel que caracterizava Amilan, ela olhou para os seus próprios cabelos que haviam mudado de cor instantaneamente e voltou seus olhos para Loki a sua frente.

- Levem ela imediatamente para Carmen e apenas ela, não quero que nenhum servo ou enfermeira, cozinheira, jardineiro além de Carmen chegue perto de Amilan! - ordenou Odin rapidamente.

Os guardas se aproximaram de Amilan e ajudaram ela a se levantar, ela parecia avoada ainda agarrada no diário de Nínive, a garota foi levada, eles desceram as escadas da torre e transportaram a garota com cuidado até a sala de Carmen. E quando eles chegaram, Amilan foi colocada na maca, Carmen se aproximou prontamente dela e a encarou por alguns minutos o cabelo original da garota que havia voltado ao normal de repente. A maquina desceu do teto para analisar Amilan que ainda estava presa no caderno, ela olhava de um lado para o outro, não falava ou reagia, logo em seguida pela porta Jade apareceu, ela fechou a porta e se posicionou ao lado da enfermeira.

- Porque ela está assim? - perguntou Jade olhando para amiga que mantinha seus olhos arregalados para um ponto na parede.

- Ela está processando o trauma, então provavelmente alguma parte do cérebro dela se desligou. - respondeu Carmen apertando alguns botões na máquina que saia um lazer escaneando.

- O quê?! - exclamou Jade assustada.

- Tirando o fato de que ela acabou de assistir a própria irmã cair de uma torre, uma parte do cérebro dela deve ter desligado as suas emoções, isso é um mecanismo de defesa que o cérebro cria para evitar as devastações de um momento extremamente traumático, isso impede que ela tenha um colapso mental, por isso ela parece estar ouvindo o que estamos falando mas não compreendendo. - explicou a enfermeira.

Jade ficou sem reação, ela puxou uma cadeira e se sentou ao lado da amiga, colocou a sua mão por cima e ficou ali tentando mostrar o seu apoio.

Vulnerabilidade - Parte 2Where stories live. Discover now