- E?

- Escolhemos você para liderar as investigações - anuncia.

Passo os dedos na sobrancelha com um sorriso gélido.

- O que lhe faz pensar que aceitarei pegar esse caso? - Deslizo meus olhos para os dois diretores, que me analisam com cuidado e em silêncio.

- O tráfico de mulheres para prostituição - Hamlet começa depois de alguns segundos -, é um dos negócios mais rentáveis do mundo, após o de drogas e de armas. Só que os índices de crescimento, está cada dia maior - explica. - Precisamos de agentes habilitados para enfrentar e destruir esse mal. - Inclino de leve a cabeça para o lado, estudando o homem que espalha alguns papéis pela mesa.

- Tráfico de mulheres? - indago, ele assente em confirmação, estendendo um documento em minha direção, não o pego. Hamlet pigarreia sem graça e entrega para Alexey, que apanha o papel.

- Todos os anos, milhares de mulheres são vendidas e obrigadas a se prostituírem, em condições de extrema desumanidade e violência - ele balança a cabeça, enojado -, e quando não tem mais serventia, são assassinadas.

Seus olhos se prendem com intensidade nos meus, cheios de esperança de que eu aceite esse caso. O problema é que não me importo com essas mulheres, se são traficadas ou mortas, elas não acrescentam nada na minha vida.

- E querem me dar o caso? - Me inclino, a mulher joga os cabelos por cima do ombro e lança um olhar para Alexey, que lhe dá um aceno de leve.

- Até há cinco anos, estas mulheres provinham quase que exclusivamente da Ásia e da América do Sul - ela arrasta alguns documentos em minha direção, tentando mais uma vez, despertar meu interesse -, mas hoje são, em número cada vez maior, vindas de vários outros países e estados. - Apanho os documentos, neles estão mapas, gráficos, números e nomes. - A Ucrânia, Mirom, é uma das principais origens deste tráfico.

- E finalmente conseguiram a atenção do presidente? - pergunto com indiferença, sem desprender meus olhos dos papéis.

- Sim, depois de anos de luta, conseguimos - responde, com a voz mais firme. - Os jornais responsáveis nunca falam sobre o que se passa. Ninguém tem consciência de nada. - Esclarece, com ênfase. - Eles temem não serem levados a sério.

- E as autoridades responsáveis? - pergunto, erguendo meu olhar. Alyna umedece os lábios.

- É uma guerra que muitos saem sem vida - responde, com a voz falha. - As garotas assinam contratos ou acreditam em promessas, muitas vezes porque os interlocutores são pessoas conhecidas, eles rodeiam minuciosamente e conquistam sua confiança. - Ela esfrega as mãos, deslizando seu olhar para o telão de fotos. - Mirom, tudo se passa como se a realidade fosse cor-de-rosa, mas tem um lado obscuro, que engana, finge e mata. Duas faces, que por serem da mesma moeda, são impedidas de ver-se uma à outra.

Sigo seu olhar, analisando cada rosto das mulheres desaparecidas, muitas mortas ao longo dos anos. Elas se perderam na promessa de uma vida melhor, tiraram sua liberdade, trancafiando-as em gaiolas sem fechadura.

- Por um sonho - Hamlet prossegue -, elas são exploradas e escravizadas sexualmente, para onde quer que sejam enviadas. - Olho para ele. - Não temos recursos suficientes para derrubar essa quadrilha, as autoridades não se importam, mas, depois de anos de lutas, perdas e fracassos, conseguimos. - Ele consegue combinar um sorriso com o olhar angustiado de Alyna.

- Mirom - Alexey me chama -, não é uma operação fácil, muitos que tentaram, perderam a vida, por isso, tu tens a escolha. Assim que aceitar, esses animais te verão como uma pedra no meio do caminho, e farão de tudo para te destruir. É algo obscuro, sujo... muito mais do que podemos imaginar - diz.

INTENSA CONEXÃO - PARTE UMWhere stories live. Discover now