– Eu não sei – disse Dinah quando eu lhe perguntei como ela sente a magia. – Acho que sinto como se fosse um poço dentro de mim. Tão profundo, que eu não consigo ver nem sequer imaginar o fundo. Só que, em vez de enviar baldes lá para baixo, simplesmente penso em trazê-la para perto. E então ela está lá para mim, tanto quanto eu precisar, desde que eu me mantenha concentrada.

Dinah sempre se mantém concentrada. Além disso, ela é poderosa.

Ariana não é. Não tanto, de qualquer modo. E Ariana não gosta de falar sobre sua magia.

No entanto, uma vez, no Natal, mantive Ariana acordada até ela estar cansada e tonta, e ela me contou que lançar um feitiço era como flexionar um músculo e mantê-lo flexionado.

– Como croisé devant – disse ela. – Sabe?

Eu balancei a cabeça.

Ela estava deitada num tapete de pele de lobo na frente do fogo, toda encolhida, feito um gatinho lindo.

– É balé – disse ela. – É como se eu simplesmente mantivesse uma posição pelo máximo de tempo que conseguisse.

Lauren me disse que, para ela, é como acender um fósforo. Ou puxar um gatilho.

Ela não pretendia me contar isso. Foi quando estávamos lutando contra a quimera na floresta durante nosso quinto ano. Ela havia nos encurralado, e Lauren não era poderosa o bastante para combatê-la sozinha. (O próprio Mago não é poderoso o bastante para lutar sozinho contra uma quimera.)

– Vai, Cabello! – Lauren gritou para mim. – Vai! Libera, caralho! Agora!

– Eu não consigo – tentei dizer a ela. – Não é assim que funciona!

– É, sim, porra!

– Eu não posso simplesmente ligar e desligar – falei.

– Tente.

– Não consigo, droga. – Agitei minha espada de um lado para o outro. Já era muito boa com uma espada, mesmo aos quinze anos, mas a quimera não era corpórea. (É bem a minha sorte, basicamente sempre. Assim que você começa a carregar uma espada, todos os seus inimigos viram névoa e teia de aranha.)

– Feche seus olhos e risque um fósforo – Lauren me disse. Nós duas estávamos tentando nos esconder atrás de uma rocha. Lauren estava lançando feitiços sem parar, um depois do outro; ela praticamente os cantava.

– O quê?

– É o que a minha mãe dizia – respondeu ela. – Risque um fósforo dentro do seu coração, depois sopre a estopa.

É sempre fogo com Lauren. Eu não acredito que ela ainda não me incinerou. Ou me queimou numa estaca.

Ela costumava me ameaçar com um funeral viking quando estávamos no terceiro ano.

– Você sabe o que é isso, Cabello? Uma pira flamejante à deriva no mar. Podíamos fazer o seu em Liverpool, assim todos os seus amigos chavosos poderiam comparecer.

– Cai fora – eu dizia, tentando ignorá-la.

Eu sequer tinha algum amigo Normal, chavoso ou não.

Todos no mundo Normal mantêm distância de mim se puderem. Dinah diz que eles sentem o meu poder e instintivamente se acovardam. Como cachorros que não fazem contato visual com seus mestres. (Não que eu seja mestre de alguém – não foi isso o que eu quis dizer.)

Enfim, com os bruxos funciona do modo oposto. Eles adoram o cheiro de magia; tenho que me esforçar para fazê-los me odiar.

A menos que se trate da Lauren. Ela é imune. Talvez tenha desenvolvido uma tolerância à minha magia, tendo dividido um quarto comigo todos os semestres por sete anos.

Ascensão e queda de Camila CabelloWhere stories live. Discover now