LIVRO UM.
Em meio a uma guerra civil inabalável, a camponesa Margareth Allboire é vítima de um misterioso ataque em sua vila, situada no leste de Irbena, e precisa lidar com o novo lar que passa a habitar contra sua vontade.
Certa de que o castelo d...
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Enquanto deixamos o tempo passar, voltemos para onde deixamos a dupla fúnebre de irmãos.
— Senhor Prior! — gritou um dos guerreiros que esperavam à frente dos portões da casa de Pitra e Tom.
O irmão mais velho aguardava de braços cruzados. Observava os dois cavalos se aproximarem da casa, do lado de dentro do portão. Pitra se escondia atrás de seus ombros.
— Bom dia — respondeu Tom, com desconfiança disfarçada em sua voz.
O guerreiro da frente parou a caminhada e desceu de seu cavalo branco. Deu alguns passos para chegar até os dois, com o rosto enrugado sob a luz forte do sol.
— Algum problema? — Tom se dirigiu a ele, mas olhava para os lados, para que obtivesse certeza de que não havia ninguém pelos campos altos que pudesse ouvi-los.
— Bom, — O cavaleiro cruzou os braços fortes, soltando um suspiro pela boca cicatrizada de batalhas anteriores. — já sabe.
A dupla de irmãos o encarou em silêncio. Havia uma tensão ali, que se constituía principalmente pelo fato de que o homem podia ultrapassar aquele portão e matar os dois a qualquer momento. Isso, se ele houvesse contado à realeza aquilo que havia prometido manter em segredo, algumas semanas antes.
— Um terço do seu lucro diário ficará para a Coroa — completou o cavaleiro. Sua voz era pesarosa, como se estivesse passando a notícia de que algum outro membro da família dos irmãos havia morrido. A sorte era que eles não possuíam mais ninguém – além deles mesmos – para perder.
Tom travou o maxilar.
— Um terço!? Isso é uma tragédia! — a irmã chorou em seu ombro.
— Tem de haver algum outro jeito, senhor — o irmão suplicou. — Isso é inaceitável.
— Inaceitável! — repetiu a irmã. — Quem eles pensam que somos? Bem quando nosso irmão... — Ela desistiu de terminar a fala, cobrindo o rosto cheio de lágrimas. — Não podem fazer isso!
Tom balançou a cabeça. Parecia exausto de tudo ao seu redor.
— O que farão com nosso dinheiro? — indagou ao guerreiro que os observava em silêncio.
— É complexo explicar... — O homem torceu o nariz. Mas ele sabia que não era complexo. Estava apenas com medo de dar a notícia. Respirou fundo, antes de dizer pesarosamente: — Redivisões.
Os irmãos franziram o cenho, ambos confusos.
— Como? — a voz de Tom saiu desafinada, como quem falou algo antes mesmo de seu próprio cérebro assimilar.
— Redivisão, senhor — o outro guerreiro, que saía de seu cavalo, repetiu. — Algum plano estúpido sobre dar a quantia a quem "precisa". Vocês dois não são os únicos que estão sendo taxados. Muitas famílias da capital já foram constatadas.
