14. uma pausa para as idas e vindas de um domingo

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Os ventos do jardim principal pesavam naquela manhã de domingo, trazendo a senhorita Bolgart uma profunda irritação por seus fios de cabelo indomáveis

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Os ventos do jardim principal pesavam naquela manhã de domingo, trazendo a senhorita Bolgart uma profunda irritação por seus fios de cabelo indomáveis.

A donzela acompanhava Anna Bolgart, sua mãe, para fora da capela, após a rotineira sessão de confissões, orações e rezas ao padre da igreja dos Reis. Apesar do sol pelo jardim, o clima entre elas era nublado. Os passos de ambas emudeciam-se pela grama recém-cortada e os sorrisos serenos e sutis em seus rostos não passavam de típica apresentação de teatro para aqueles que passavam ao redor.


As caminhadas entre as duas eram sempre silenciosas. Ocupadas por simples comentários elogiando o dia ou, quando estavam sozinhas, assuntos da Coroa.

Mas, naquele dia, as coisas ocorreram de forma diferente.

Havia semanas desde que Sienna Bolgart possuía algo novo dentro de si. Uma chama que começava a brilhar e a queimar e que trazia-lhe de volta aquela inexplicável e perdida sensação de rebeldia. Que a fazia enxergar tudo de uma forma distinta. Ela negava ao admitir o porquê, mas sempre que lembrava-se dos cabelos ondulados e da pele bronzeada de Margareth, essa chama acendia.

E isso foi o que mudou aquele domingo. Foi o que obrigou-lhe a falar durante a caminhada.

— Não precisa trazer-me à igreja consigo — comentou, com a voz mais baixa do que os ventos a passarem por elas. — Sabe disso.

Mas os sussurros, por menores que houvessem sido, ainda foram o suficiente para serem ouvidos pela mãe.

— O que está dizendo? — a mulher indagou imediatamente, a voz dura feito uma rocha.

— Apenas que não preciso estar aqui, todas as semanas. — A ruiva respirou fundo. — Tenho aprendido minha lição de forma adequada.

Atordoada, Anna franziu o cenho pelo inesperado comentário.

— Sienna, importo-me muito com o futuro deste país — as palavras eram ditas com consciência e discrição, enquanto a rainha olhava aos lados para garantir que ninguém as ouvia. — Não apenas com o meu reinado, mas com o teu e o de teus herdeiros. Tenho de manter a certeza plena de que está no caminho correto para cuidar da Coroa e de Kaena.

Por alguns segundos, a filha desfez o sorriso forçado de seu rosto e fitou o chão, conforme passeavam.

Aquele discurso era o necessário para saber que, não fosse ela sua única herdeira, senhora Bolgart já teria feito o possível para afastar-se por completo da vida da ruiva. A rainha apenas carregava um profundo e indecifrável medo de que a filha viesse por falhar. Sienna sabia disso.

— Por que não casou-se novamente, depois que papai desapareceu? — indagou ela, de repente.

— O que disse?

— Ainda era jovem, teria tido um filho — continuou a senhorita, sem importar-se em repetir a fala anterior. — Um príncipe, talvez. Um príncipe reinaria Kaena muito melhor do que, um dia, serei capaz de reinar.

Sienna umedeceu os lábios assim que terminou, arrependendo-se do que disse no mesmo segundo. Mas Anna, por algum motivo, levou a fala em consideração. Talvez, até demais.

A rainha parou de andar e franziu o cenho, atordoada pela opinião da filha.

— Certo. É o que penso, por vezes — foi o que falou, ao retomar a caminhada. A resposta doeu em Sienna. — Mas, infelizmente, não há mais como sentir arrependimento pelo que passou-se. O que está feito, está feito. Meu dever, agora, é salvá-la de si mesma.

A princesa bufou em resposta. Estavam caminhando em direção a um perigoso tópico, e ambas pareciam saber disso.

— Não há nada de errado comigo para que seja salvo, mãe. Minhas habilidades como princesa em nada referem-se aos meus problemas pessoais — desabafou, direta e sem filtros. A rainha travou um olhar profundo à garota e a mesma, de imediato, rebaixou-se. — Majestade.

— Está vendo? — criticou a rainha. — Sempre há algo de errado com você, Sienna. Quanto mais tenta, mais afasta-se de alcançar a excelência que precisa para fazer parte de sua linhagem. Sabe muito bem disso.

— Talvez eu não seja feita para reinar, então — implodiu a princesa, com o gosto amargo da própria mágoa prostrado na garganta.

— Não seja tola. — A mãe respirou fundo, irritada. — Vai fugir, novamente?

— Do que está falando? — disse a filha, igualmente em descontrole de seus nervos. A rainha fitou-a com um olhar claro de desaprovação e, logo, Sienna voltou a bufar. — Não posso acreditar que ainda pensa nisso. Já fazem dois anos! Como deseja que esqueçamos deste assunto se tudo o que faz é lembrar-me constantemente de que ele existe?

— Já pensou que, talvez, atinja-se tanto com este assunto por continuar a ser a mesma tola de dois anos atrás? — A mulher meneou a cabeça à filha, sem demonstrar uma mínima falha em sua dura feição. — Não se faça de boba para sua rainha. Sei que faria aquilo novamente, se pudesse.

— De fato — concordou Sienna, com voz magoada. — Mas acredito que isto não seja mais uma preocupação para a senhora, já que paga metade deste castelo para manter-me presa aqui, não é?

O silêncio instalou-se por ali. Tudo o que Sienna desejava era uma resposta à altura. Não é, mãe? Não é? Ela implorava por isso. Responda, majestade, não é verdade? Queria uma resposta e queria que esta a destruísse. Queria ter a certeza de que podia magoar-se sem sentir-se culpada por ter mágoa de sua própria mãe. Uma única resposta era tudo o que queria naquele momento.

Mas nada teve. A rainha não respondeu. Em vez disso, lançou à jovem um olhar carrancudo e continuou seu caminho sozinha. Pois sabia que isso a destruiria muito mais do que qualquer resposta.

A princesa engoliu em seco, respirou fundo e fechou os olhos para conter as lágrimas. Mas não parou de caminhar. Havia pessoas em volta, descansando pelo jardim, e a última coisa que queria, naquele momento, era dar a elas qualquer indício de que algo de errado acontecera entre as duas. O castelo em si já carregava rumores o suficiente sobre a família real e suas intrigas.

De coração despedaçado, ela apenas sorriu e seguiu em frente.

De coração despedaçado, ela apenas sorriu e seguiu em frente

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Oi pessoasss! Lancei a  braba e postei esse capítulo extra na semana aqui para vocês. Ele já estava revisado, então pensei "por que não?".

Gostaria de agradecer por estarmos chegando aos 2k de leituras e por todos os(as/es) que estão acompanhando a história. Gosto muito de escrever e pretendo tornar isso meu trabalho um dia, mesmo. Então, se você tem chances ou vontade, eu adoraria se pudesse me apoiar divulgando essa história pra amigos/família/etc que estiverem afim de ler um romancezinho LGBT de época com uma pitada de mistério! Obrigada por tudo <3

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