Capítulo 52 - Oliver

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Acordei com uma dor de cabeça forte. Na noite passada havia ido a uma boate com alguns amigos e havia extrapolado um pouco na bebida. Relutante, sai da cama e caminhei até a cozinha, onde peguei uma aspirina, um copo de água e a tomei:

― Já de pé senhor, Oliver? –Dona Ana surgiu na cozinha.

― Sim, estou com um pouco de dor de cabeça.

― Vou preparar um café bem forte para o senhor, tenho certeza que vai ajudar.

― E meus filhos?

― Já foram para a escola, senhor.

Quando terminei o meu café, já se passavam das sete horas. Coloquei um terno e depois fui diretamente para a empresa.

Ultimamente, nada conseguia me relaxar. Havia intensificado os meus treinos de esgrima, mas em vão, o trabalho também não vinha me ajudando muito. E agora, com aquela dor de cabeça que não passava, sabia que o álcool também não era uma boa saída.

Eu me sentia vazio. Sozinho. Era como se eu tivesse voltado para o fundo do posso. As duas mulheres que eu mais havia amado no mundo haviam me trocado por outros homens, e algo me dizia que o culpado por tudo isso não era elas, mas eu.

Com Denise, confesso que deixei me levar pelo trabalho em algumas fases do nosso casamento que precisavam de um pouco mais de cuidado e atenção, mas com Sofia, eu havia feito tudo certo. Com ela eu voltei a ser eu mesmo, eu voltei a acreditar que o amor realmente poderia existir, mas foi com ela também que eu percebi que tudo isso não passava de uma ilusão.

De certa forma, bem no fundo eu sempre soube que a Denise fosse capaz de me trair um dia. Ela era uma mulher ambiciosa, interesseira... mas a Sofia não. Saber que ela havia me traído foi um impacto tão grande, que eu ainda não havia conseguido absorver.

Sentado diante da minha mesa, abri uma gaveta e retirei de lá um porta-retratos com uma foto de Sofia. Na foto ela sorria timidamente, enquanto vestia uma camiseta minha e tentava se esconder dentro de seu próprio abraço. Deslizei meu polegar pelo porta-retratos, relembrando aquele momento. Lembro que foi na primeira vez que a Sofia passou a noite comigo na minha casa, depois da festa da Estella. No dia seguinte, era domingo e como nós estávamos sozinhos, passamos o dia todo trocando carícias e nos amando. Quando ela estava distraída, peguei meu celular e tirei uma foto dela, que ficou toda tímida quando percebeu o que eu estava fazendo. Achei aquela foto tão natural, ela retratava tão bem o jeito tímido de Sofia, seu rosto angelical, sua aparência de menina... que eu não pensei duas vezes antes de revela-la e coloca-la em uma moldura.

A havia levado para o meu escritório e, sempre que sentia saudades da Sofia, eu ficava a observando durante um bom tempo. Mas, depois de tudo que havia acontecido, eu a havia esquecido na gaveta e agora era a primeira vez que eu voltava a olha-la:

― Senhor Oliver? –Minha secretária, Luíza, entrou no meu escritório, me arrancando de meus devaneios.

― Sim? –Coloquei o porta-retratos de volta na gaveta.

― Ligaram da escola dos seus filhos, eles disseram que sua ex-mulher apareceu para buscá-los, mas parece que a Elena se recusou a ir e está sozinha lá.

― Não acredito que a Denise fez uma coisa dessas! –Esbravejei, dando um soco na mesa- Ligue de volta para o colégio e diga que eu estou indo buscar minha filha. –Disse, saindo apressadamente da sala.

― Sim, senhor Oliver.

Enquanto dirigia em direção ao colégio, sentia uma raiva crescente dentro de mim. Denise estava testando a minha paciência, porque sabia que eu estava fazendo de tudo para evitar que ela se aproximasse dos nossos filhos e se ela continuasse assim, logo não restaria mais paciência alguma. Assim que pegasse Elena no colégio, iria atrás de Estevan e o faria voltar para casa comigo.

Estacionei o carro em frente ao colégio e desci apressadamente o segurança estava no portão e depois de jogar na cara dele a irresponsabilidade que havia cometido ao deixar que outra pessoa, que se não uma autorizada por mim, levasse o meu filho, ele liberou a minha entrada.

O colégio possuía dois andares e eu fui diretamente a secretária para saber onde Elena estava:

― Bom dia, eu estou procurando a minha filha, Elena Beaumont, vocês me ligaram mais cedo, pedindo para que eu viesse buscá-la.

― Sim senhor Beaumont, Elena estava bastante nervosa, então nós também telefonamos para a babá dela. O senhor as encontrará no parquinho, é só seguir por ali e virar à direita. –A mulher mostrou o caminho.

― Obrigado. –Babá?

Com toda a adrenalina e raiva que percorria o meu corpo, nem tive tempo de processar as palavras da secretária. Foi quando as vi. Elena estava brincando no balanço e ria, enquanto era empurrada por Sofia:

― Mais alto Sofia! –Ela gritava.

― Ei, vamos com calma supergirl! –Ela respondeu sorrindo.

Aquele sorriso. Os cabelos castanhos de Sofia estavam soltos, balançando conforme o vento, a tornando ainda mais bela:

― Papai! –Elena saltou do balanço, correndo na minha direção ao me ver, me abraçando com força. Levantei meu olhar para Sofia e quando nossos olhares se encontraram, percebi que seus olhos haviam se transformado em um misto de surpresa e nervoso. Não soube bem como interpretar aquilo.

― Querida, será que você pode me esperar na secretaria? Eu tenho que conversar com a Sofia.

― Vocês vão voltar a namorar, papai? –A pergunta de Elena me pegou desprevenido. A encarei, sentindo um nó se formar na minha garganta.

― Apenas vá, querida. Depois falamos sobre isso. –Disse sério.

― Tchau, Sofia! –Ela acenou para Sofia, correndo em direção a secretária momentos depois.

Coloquei as mãos nos bolsos da minha calça e me aproximei de Sofia:

― Oi. –A encarei. Nós dois nos olhávamos como se fossemos completos estranhos.

― Oi, Oliver. –Seus olhos cor de mel me fitaram tristonhos, cansados talvez. Acho que ela havia previsto que aquela conversa seria difícil e muito, muito dolorosa. 

A Babá dos meus FilhosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora