Capítulo 7

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A carruagem que nos levava para Senka era preta, assim como todas as roupas de todos os soldados e do príncipe. Nossa partida aconteceu poucos dias após o convite de Kardama, nos últimos minutos escuros antes do nascer do sol naquela manhã. Ainda cruzávamos o reino de Aruna quando o céu mostrou os primeiros vestígios dos raios solares.

O rei e a rainha dos argians acenaram no balcão do castelo até que não pudéssemos mais ser vistos e um grupo de cidadãos acompanhou a carruagem até que estivéssemos fora dos limites do reino.

Era a primeira vez que nos viam desde o ataque dos morroians e era a primeira vez que nos viam juntos como um casal. Todos já conheciam meu rosto, mas estavam curiosos para descobrir quem era o príncipe sombrio, que agora também era adorado como um herói.

Kardama não estava interessado em toda aquela adoração, mas apesar de seu olhar indiferente causar certo receio naqueles que conseguiram ver, ele parecia ser o suficiente para suprir quaisquer que fossem as expectativas daquelas pessoas. 

Aqueles cavalos completamente pretos pertenciam ao exército de Senka, e isso significava que corriam muito mais rápido do que os selvagens, assim como os de Aruna. Outras duas carruagens, que levavam os soldados que acompanharam o príncipe na estadia e os guardas argians que estariam ao meu lado, nos acompanhavam na mesma velocidade.

Nossa viagem foi silenciosa e durou apenas dez horas. Havia um túnel escondido que nos poupava o tempo de subir a montanha. Ele era longo e escuro, mas o príncipe itzan não temia a escuridão. Seu corpo era preparado para lutas em ambientes escuros. Apesar da pele tão pálida quanto a minha, ele era a escuridão. 

Eu não conhecia Senka, sequer ouvi muito a respeito do reino dos itzans, por isso fiquei surpresa quando a saída daquele túnel revelou um território cinzento, com moradores que vestiam apenas roupas com cores escuras e casas construídas com pedras.

As cores do pôr do sol não pareciam alcançar aquela área e embora algumas pessoas olhassem curiosas para a carruagem, principalmente as crianças, nenhuma parecia ter coragem para se aproximar. 

— Não parece tão colorido e brilhante quanto Aruna, não é, princesa? — Kardama perguntou com certa satisfação quando observou minha expressão e eu revirei meus olhos antes de optar por permanecer em silêncio.

Não. O território de Senka era exatamente como sua família real: sombrio. 

O castelo ficava na montanha, tinha torres altas e um grande jardim nivelado na frente, que era sustentado por grandes pilastras na rocha abaixo, com arbustos baixos que estavam cobertos pela neve. Havia uma estátua assustadora no meio, cercada por muitas raízes que pareciam tentar sufocá-la. Dali era possível ver todo o reino de Senka, onde as poucas luzes que brilhavam eram fracas, e o mar, mas aquela não foi a visão que mais me impressionou.

Após o distante cumprimento do rei e da rainha, uma empregada vestida em preto me guiou até o quarto onde eu ficaria hospedada, em uma das torres. Nunca saí de Aruna antes, exceto pelo tempo que passava em acampamentos por causa da guerra contra os itzans, por isso a nova experiência me deixava inquieta. Eu não confiava naquela família real ou naquele povo, era como estar em risco a todo momento.

Se eu estava assustada pela aparência sombria de Senka, todo o meu receio desapareceu quando pude ver o brilho de Aruna pela janela do quarto. Por alguns minutos não senti que estava tão solitária.

O castelo dos itzans era silencioso. Nenhum dos empregados falava nada, até mesmo seus passos no piso de mármore preto não faziam sons. Se não estivesse tão limpo, seria fácil pensar que aquele local não era habitado.

O Príncipe Sombrio [COMPLETO]Where stories live. Discover now