Kardama e o rei conversaram por horas naquela tarde. Eu não sabia muito sobre o acordo entre os dois, na verdade não sabia nada. Hadria continuou ao meu lado enquanto aguardávamos pelo retorno do príncipe, por isso Leiala, a empregada antes silenciosa, não pôde fazer nenhuma das perguntas que queria.
A princesa itzan estava quieta e me encarava com desconfiança, como se estivesse julgando cada respiração minha. Franzi o cenho enquanto a encarava parada ao lado da porta do quarto de Kardama, para impedir que qualquer pessoa tentasse entrar. Eu não entendia exatamente quais eram suas intenções ali e seu silêncio não explicava muito.
— Estão fazendo uma reunião nos meus aposentos? — Kardama perguntou impaciente quando entrou e notou a presença de Hadria e da empregada antes silenciosa.
As duas balançaram a cabeça para negar e saíram dali após uma reverência ao príncipe, então a porta de madeira escura fechou novamente e estávamos sozinhos.
— Quando o rei percebeu que aos quatorze anos eu era mais forte do que qualquer mago das sombras que ele já tinha visto e que poderia tomar seu trono se quisesse, propôs um acordo. Ele me pediu para não tomar o trono de Senka e em troca eu teria tudo o que quisesse e ninguém saberia que sou o filho de uma concubina. Parece um bom acordo ter apenas a melhor parte de governar, sem precisar das responsabilidades da administração — o príncipe quebrou o silêncio com uma explicação após poucos minutos. — Agora eu quero que você seja respeitada e se ele não cumprir sua parte do acordo, não tenho motivo para continuar cumprindo a minha.
Dei alguns passos para me aproximar e beijei sua bochecha. Ele franziu o cenho confuso pelo gesto.
— Mesmo que esteja defendendo apenas sua própria coroa, muito obrigada por fazer tanto para que me respeitem aqui — agradeci.
O príncipe me encarou silenciosamente por alguns segundos, mas logo balançou a cabeça para afastar qualquer pensamento que estivesse em sua mente e torceu o canto dos lábios em um sorriso malicioso.
— Mas eu não te contei nada disso sem um motivo, princesa.
Revirei meus olhos. É claro que aquela não era apenas uma conversa amigável.
— Eu sei o que você quer... — comecei a falar, mas fiz uma pausa e senti certo nervosismo. — Mas precisa saber que não sou a pessoa com quem esteve ontem.
A poção do amor não mudou quem eu era ou as minhas vontades, mas me deu coragem até demais para fazer coisas que eu não conseguiria repetir.
— Eu sei disso — Kardama concordou.
Caminhei em direção à porta fechada e girei a chave para trancá-la, então voltei a encará-lo sentindo meu rosto queimar enquanto começava a desabotoar os delicados botões frontais do meu vestido.
Seria mentira falar que era apenas pelo acordo.
•••
O castelo de Senka permaneceu no mesmo silêncio perturbador de sempre nos dias que seguiram. A rainha Nisha e as princesas Taoma e Athal começaram a evitar minha presença, mas ao menos não tinham mais qualquer oportunidade para me desrespeitar.
Os treinos com Kardama pareciam finalmente efetivos e agora sabíamos um pouco mais sobre o novo processo de fusão. Ficávamos menos cansados a cada nova tentativa e descobrimos que enquanto fundidos tínhamos acesso a todas as habilidades do outro.
O príncipe sombrio passou três dias inteiros sem me dar qualquer informação sobre si, mas na terceira noite cedeu e contou mais sobre a família real para conseguir o que queria. Eu não sentia orgulho de mim, mas estava satisfeita com aquele acordo.
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O Príncipe Sombrio [COMPLETO]
General Fiction[O Príncipe Sombrio é o 1° livro da trilogia Reino de Luz e Sombras]. A rivalidade entre os magos de luz e os magos das sombras gerou uma grande guerra, que não parecia ter fim ou ganhador até o surgimento de um dragão com uma ameaça que poderia des...