E se fosse verdade?

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Minha respiração fica pesada por um momento. Reconheço a ansiedade e ela me deixa retraído.

— Você diz isso baseado em?

— Eu tô apaixonado. Sabe? Eu penso na Amélia por um tempo considerável, eu me preocupo com as coisas que ela gosta, as que não gosta, eu me preocupo com o bem estar dela. Eu reparo em coisas pequenas que... — ele ri, se interrompendo. — Eu não sou idiota, Damien, eu vejo você rondar o Caio desde a primeira semana, vejo você fazer pior do que eu tenho feito. Você só não tem coragem pra assumir, porque se assumir vai precisar abrir mão dessa zona de conforto onde você se enfiou, mas aqui está o truque, meu caro. Se você não acordar logo, vai perder ele pra alguém que não tenha medo.

Riu, um riso destemperado de medo, uma sensação gelada se instando em meu estômago. A verdade é que eu nunca precisei pensar nisso. Caio era parte essencial e permanente de minha vida, ele sempre esteve lá, todos os dias desde o primeiro dia, era apenas natural para mim que continuasse.  Isso parece completamente idiota, mas eu nunca o vi com alguém, nunca considerei...

— Eu não te via sábio assim — Pedro dá de ombros. — São palavras fortes, mas eu não posso me jogar em alguma coisa sem estar certo disso, não com o Caio.

— Não vou repetir a última dica, mas... se quer tanto ter certeza. Lucas me disse que ele tá pintando o apartamento novo hoje de tarde, ofereça ajuda, ele precisa, passe um tempo com ele estando aberto a essa possibilidade, sei o quanto você sente falta do nanico e...

A porta se abre e um grupo de alunos adentra em sala, logo atrás Lucas e Caio chegam. Lucas ri para Caio que franze o cenho, claramente confuso.

Ele estava vestindo uma camisa de manga preta e calça jeans, os cachinhos arrumados cuidadosamente.

— Você olha pra ele como um idiota — Pedro sussurra e eu acerto um tapa em seu braço.

— Bom dia, já começamos a aula assim? — Lucas se senta enquanto Caio larga sua mochila e vai falar com um grupo de garotas a nossa frente.

***

— Você está me seguindo? — a voz de Caio é séria e firme, como de costume. A expressão levemente desconfiada.

— Seguir é uma palavra forte, estou indo ajudar — dou de ombros esperando que ele se resolva. Que encontre um lugar na própria cabeça para esse momento, como ele bem faz.

A cabeça de Caio era extremamente pessimista e com sérias tendências a analisar demais. Ele precisava bem do próprio tempo para pesar casa uma das coisas e então decidir como agir, das pequenas as grandes coisas, nada passava em branco.

— Damien, eu consigo sozinho.

— Sim, no dobro do tempo. Vamo lá, Caio, não seja ranzinza. É só uma pintura, deixa eu te ajudar, você termina mais cedo e tudo fica mais prático.

Ele parece avaliar seriamente a hipótese de fechar a porta na minha cara, mas seus olhos refletem o exato momento em que muda de ideia.

— Certo! Entra.

Meu coração acelera um pouco quando passo pela porta e me deparo com o local. O pequeno apartamento de Caio estava com o chão coberto de jornais e sem mobília.

— A sala está com essa tinta amarelada e descascada, eu pensei em mudar para branco. Comprei um papel de parece também para a outra parede, umas formas pretas, acho que pode me ajudar a colocar, eu não sei bem como fazer.

Caio coça a parte de trás de cabeça enquanto fala.

— Eu também não, mas vamos descobrir.

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