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𝗥𝗔𝗙𝗘

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𝗥𝗔𝗙𝗘.

Eu havia me esquecido como mulheres são irritantes quando querem.

Faz dez minutos que a porra do meu celular não para de vibrar dentro do meu bolso. Motivo? Malorie, uma caloura, não parava de me ligar e me mandar mensagens. Contexto? Ficou sabendo que transei com sua colega de quarto, pelo que li pelo ecrã do celular. Malorie e eu transamos algumas vezes, mas eu sempre fiz questão de deixar claro que relacionamentos nunca estarão nos meus planos. Nem sequer passa pela minha cabeça. Mas eu já devia imaginar que sair com meninas do primeiro ano não era uma boa ideia. Os caras me avisaram isso incessantes vezes. Fazer o quê eu quero é bom pra caralho, mas constantemente, sinto raiva da minha teimosia. Péssimo traço de personalidade.

Estou sentado no sofá da minha sala, assistindo JJ e John B. jogarem disputarem uma partida acirrada de algum jogo no videogame. Enquanto isso, Pope se disponibilizou pra fazer o jantar. Por outro lado, ignoro como meu telefone toca no bolso da minha calça de moletom e penso no treino de amanhã. Em breve, participaremos de um jogo contra o time de uma outra universidade. Os caras estão com sede de sangue. Ao contrário do que eles acham, nenhum de nós estamos nos cagando de medo. Tenho autoconfiança, acima de tudo. Vamos acabar com os filhos da puta no gelo. Ninguém leva nosso título pra casa, de forma alguma.

Meu pensamento se volta pro dia anterior. Se JJ continuasse achando que era a porra do Super Homem e indo pros treinos sem comer e enchendo o cu de energético, as coisas ficariam feias pro nosso lado nas próximas competições. Precisava lembrar de ter uma conversa séria com ele sobre isso mais tarde. Não é nem só sobre o time, e sim sua saúde. Maybank é meu melhor amigo desde que me entendo por gente e, infelizmente, ele sempre teve o maldito problema de não comer direito. Isso o levou diversas vezes pro hospital. Mas que autoridade eu tenho sobre ele? Apenas mais um motivo pra cairmos na porrada, como já aconteceu uma vez.

É automático pensar na garota dos cabelos claros quando me recordo de ontem. Minha blusa praticamente sambando em seu corpo e seu rosto tão irritadiço por eu não ter lhe falado mais do que ela queria saber. Se não me engano, havia dormido com John B. e era uma "ex" de JJ. Ele ainda nem sabe disso, porque eu tinha a plena certeza que estaria enchendo a porra dos meus ouvidos durante todo o dia. Ele é um cara de ego alto. Se soubesse que seus amigos estavam saindo com a menina que quase teve algo sério, provavelmente estaria se coçando até semana que vem. A famosa dor de cotovelo dos homens. Já tive muitas vezes, não nego.

⏤ Cara ⏤ volto pra realidade, percebendo que os caras haviam pausado o jogo e os olhos de JJ pairavam em mim. ⏤ desliga essa porra de celular, tá me atrapalhando.

Então, percebo que Malorie ainda liga. Provavelmente já era a centésima chamada perdida, então, suspiro profundamente. Me levanto do sofá com o celular em mãos e ergo meu dedo médio para os meus melhores amigos quando glorificam com as mãos pro ar a minha saída da sala, também, o fim de suas distrações. Ando até o meu quarto e adentro a varanda do mesmo, pressionando meu telefone contra meu ouvido após aceitar a chamada. Já preparava meus tímpanos pra possíveis gritos femininos.

Tá de sacanagem comigo, Rafe? Por que não me atendeu, cacete? Já te liguei mais de dez vezes!

⏤ Eu nem notei, gata. ⏤ forço um sorrisinho.

Não tenho o mínimo saco pras suas piadinhas. Você dormiu com a Ângela?

⏤ Cara, eu não tenho que te dar satisfação. ⏤ coço meus olhos, exausto da conversa que mal tinha começado.

É óbvio que tem, porra! Estamos saindo há semanas.

⏤ Nos encontramos umas três vezes, Malorie. Literalmente em três festas da faculdade.

Isso não minimiza o que tivemos. Você é um puta insensível de merda.

Eu me encosto na parede e fecho os olhos, me sentindo estressado. O treino tinha gastado todas as minhas energias, já escutei muitos gritos do treinador durante toda a semana. Ouvir uma garota gritando sobre como você é um babaca por ter dormido com uma conhecida definitivamente não era o meu plano favorito pra um domingo à noite.

Não tenho saco pra interrompe-la. Deixo-a descontar toda sua raiva e frustração em cima de mim através daquele telefonema. Escuto os xingamentos, as ofensas e as perguntas que ela não me dá chance de responder. Enquanto isso, observo a cidade pela minha janela. Meu apartamento com os caras era fora do campus. De forma alguma eu teria paciência pra passar toda a minha semana enfurnado dentro daquela faculdade. Precisava de ar puro muita das vezes. Gente demais reunida num lugar só me sufocava.

Quer saber, Rafe? Me esquece, tá legal? Finge que não tivemos nada, é melhor assim.

⏤ Mas nunca tivemos. ⏤ eu preciso segurar minha risada.

Um "vai se foder" é ecoado na ligação antes de Malorie desligar. Novamente, respiro fundo e passo a mão pelos meus cabelos, ainda fitando as luzes da cidade noturna. Me sentia exausto de sempre sair o babaca da história por não suportar a ideia de ter um relacionamento. Eu sempre, absolutamente sempre deixo claro todas as minhas intenções, mas algumas pessoas parecem não lidar bem com isso.

Eu nunca entendi direito o porquê pessoas iniciam relações. Nunca senti nada parecido. Quer dizer, tive uma namorada do ensino fundamental até o ensino médio. Minha primeira e única namorada. Cecília era a garota dos sonhos de qualquer moleque da minha idade, na época. Capitã das líderes de torcida, aluna de ouro, bonita. Eu me sentia a porra do rei do mundo quando desfilava com ela do meu lado nos corredores. Não demorou muito para que eu percebesse que isso não se tratava só de sentimento, e sim uma disputa de ego. Cecília esbanjava seu relacionamento perfeito com o capitão do time de futebol para as suas amigas e eu causava inveja em todas as pessoas daquele colégio por estar ao lado dela. Me lembro de quando decidi terminar as coisas. Cecília me implorou pra não deixa-la, disse que não poderia pensar na hipótese de viver sem que eu tivesse ao seu lado. Minutos depois, ela cuspiu na minha cara. Me olhou com nojo, falou que eu era o cara mais covarde que ela havia conhecido em toda a sua vida. Acabou que ela espalhou que eu fazia coisas horríveis e nojentas com ela durante nossa relação e que ela que havia me largado. Meu sangue ferve de raiva toda vez que me lembro disso. Eram mentiras sujas, que nem todo mundo acreditou pois meus amigos confiavam em minha índole.

A verdade é que o amor é uma mentira do governo pra lucrar no dia de Valentine's. Também no Natal, no Réveillon e em outras datas comemorativas. Me sinto satisfeito com minha própria presença. Meu peito nunca doeu por não ter alguém para me "completar".

Apesar da ideia de me render à alguém e me entregar a um único sentimento pareça ser tentadora pra todo mundo (até mesmo pra mim), eu sei que o amor nunca vai ser o suficiente. Por trás, tem muita construção e dor de cabeça. Na real, não tenho paciência, não mais.

Bro? ⏤ a voz conhecida de Pope bate na porta de vidro que separa meu quarto da varanda. ⏤ o jantar tá pronto.

Acho que entre o amor, o hóquei e comida, eu ficaria com as duas últimas opções.

𝐓𝐎𝐗𝐈𝐂, 𝗰𝗮𝗺𝗲𝗿𝗼𝗻. ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora