HQiller ☂ [Muke Clemmings]

Chapter One

Eu e Calum suspiramos ao mesmo tempo. "Já ouvi isso antes."

"Estou falando sério, dessa vez eu estou fora." Ele tentou pegar um dos nachos, mas também foi estapeado por Calum, o que me deu a oportunidade de puxar a bandeja em minha direção. Calum finalmente desviou o olhar da tela de seu iPhone, e enquanto me encarava em fúria, Ashton aproveitou a oportunidade para pegar a vasilha. "Deixe de ser egoísta. E então, qual o debate de hoje?"

"Que tipo de pessoa é o serial killer à solta em Sydney" Eu disse, sorrindo entretido "Finalmente um pouco de emoção nessa cidade."

"Cara, você é estranho." Calum finalmente tocou em seu almoço, aproveitando para puxar a bandeja de volta para si "Não conhece o ditado? Quem procura acha. Cuidado para não ser a próxima vítima."

"Nops. Não aconteceria. Ele só matou estudantes até agora, e já deixei essa fase faz tempo."

"É, agora se juntou aos jovens adultos dependentes da mamãe." Ashton riu, bagunçando os cabelos escuros de Calum "E aos que trocam de emprego todo mês."

"E aos que nunca trocam porque são muito acomodados." Alfinetei, erguendo uma sobrancelha. "Será que podemos parar de descrever um ao outro?"

"Estraga prazeres." A expressão de Ashton murchou.

"Vocês acabaram com meus malditos nachos."

Abri a boca para provocar Calum mais um pouco, mas uma notícia de última hora passou a ser exibida em todas as telas da praça de alimentação lotada, chamando a atenção das mesas para a reportagem urgente.

O corpo de uma universitária foi encontrado nessa madrugada em um restaurante próximo ao Queen Victoria Building. Os investigadores suspeitam de que seja mais uma obra do serial killer que vem cometendo diversos homicídios há algumas semanas na cidade de Sydney. Como as vítimas anteriores, Adelaide Pearce teria sido morta quando uma arma ainda não identificada pela polícia atingiu sua artéria femural. O diferencial neste caso, foi o fato do corpo ter sido encontrado num freezer antigo na calçada, pouco antes das quatro da manhã.

A repórter continuou dando informações a respeito dos antigos casos, e as atenções finalmente se dispersaram das televisões. Um silêncio desconfortável caiu sobre a praça, como se todos estivessem se perguntando se o serial killer não estaria ali, sentado entre nós. Poderia ser qualquer um. Nem mesmo Calum prestava atenção no celular naquele momento, o que era um milagre. Ultimamente ele estava muito entretido com um tal amigo virtual.

"Ele acerta sempre nessa artéria." Ashton murmurou, pensando alto. "Monstruosamente genial. Isso deve significar algo, não? Digo, para as investigações."

"Estudante de medicina?" Calum sugeriu, coçando o queixo cuja barba nunca crescia o bastante, para sua frustração pessoal "Obviamente ele saca muito de anatomia."

"Existem cursos de anatomia por ai, ninguém precisa cursar medicina numa faculdade para aprender isso."

Continuei calado, processando as informações. A polícia provavelmente estava considerando ambas as hipóteses, e fazendo uma investigação mais a fundo. Mas a coisa parecia mais complexa do que isso.

"Um beijo por seus pensamentos." Calum disse, fazendo bico. Empurrei o pote de queijo cheddar na direção de sua camiseta, fazendo-o saltar da cadeira, e Ashton dar sua gargalhada ridícula em alto e bom som, atraindo a atenção das mesas em volta "Seu imbecil, eu comprei essa droga semana passada!"

"Não me diga que gastou um terço do seu salário baixo nessa blusa horrível, Calum" Ashton continuou rindo histericamente, e não resisti a acompanhá-lo "Aproveita enquanto dá tempo de trocar."

"Vão se foder, seus idiotas!" Ele pegou a sua bandeja e caminhou até o restaurante mexicano para devolvê-la. Lançou um olhar de irritação em nossa direção antes de ir embora, e continuamos rindo por mais alguns minutos depois disso.

Assim que Ashton limpou as lágrimas do canto de seus olhos castanhos, sua expressão ficou mais séria em minha direção. "E então, Sherlock Holmes, o que se passa nessa sua cabeça tingida?"

Passei a mão pelo meu cabelo bagunçado, piorando sua situação que já estava precária desde o momento em que acordei. "Calum comentou que era uma teoria idiota, mas eu realmente acho que essa parte do freezer é essencial nas pistas."

"O que está sugerindo?"

"É a primeira vez que ele deixa o corpo num lugar tão exposto quanto o Queen Victoria, sabe. Ele não está mais agindo em galpões discretos, nem nada do tipo. Acho que ele quer que notem seu trabalho de verdade."

"Ele está na capa de todos os jornais, Michael." Ashton riu sem humor. "O que mais um serial killer poderia querer? Ser pego?"

"Não. Mas ser conhecido como o "serial killer de Sydney" é clichê. Qual é, acho até que já teve um caso assim no passado. Todos os mestres do homicídio tiveram um maldito nome de ação."

"Ainda não entendi onde sua teoria se encaixa." Ele coçou a nuca. Suspirei cansado, me escorando no encosto da cadeira.

"Para ser sincero, ainda estou juntando as peças. Me pergunte na próxima semana, e talvez eu tenha uma boa teoria."

"Por falar nisso, preciso que me diga algumas coisas. Mas sem comentários idiotas, e sem perguntas desnecessárias."

"Nos conhecemos há quantos anos, cara?" Rolei os olhos, dando um bom gole no meu copo de café, que felizmente ainda estava quente. "Pergunta de uma vez."

Ashton olhou em volta, se certificando de que estávamos a sós, e entendi de imediato do que se tratava. "Quem é esse tal Hemmo?"

Resisti ao ímpeto de rir sarcasticamente. "O novo amigo virtual de Calum."

"Disso eu já sei. Preciso de detalhes. É amigo, ou algo a mais?" Seu tom se tornou mais exasperado. Dessa vez, deixei um sorriso debochado se formar no canto da minha boca. Ashton era tão previsível.

"É um maldito aplicativo de relacionamentos, Ashton. É claro que a intenção é de ser algo a mais. Calum está bem interessado nesse Hemmo, me falou que as conversas fluem bem, e que o garoto é bem bonito."

"Interesseiro como sempre" O loiro resmungou, cerrando os punhos em cima da mesa. "Eles vão sair?"

"Hoje à noite. Até onde sei, marcaram o ponto de encontro aqui mesmo, no shopping." Confirmei, dando de ombros. "Mas você poderia impedir tudo isso, se quisesse. Só precisaria mandar uma mensagem."

Ashton fechou a cara. "Nós não daríamos certo."

"Então deixe o Hemmo e ele serem felizes" Sugeri, e recebi um fuzilamento visual. "Ou não."

"Só estou preocupado. Como vamos saber se esse babaca virtual não é um pedófilo?"

"Em primeiro lugar, Calum é maior de idade. Em segundo lugar, poderia ser pior do que um pedófilo."

"Não acha que deveríamos impedi-lo?"

"Honestamente?" Bebi mais um gole do café, lançando o copo na lixeira ao final, e acertando o arremesso. "Não. Hemmo deve ser um bundão qualquer, e não estou no clima para bancar a babá só porque você está com um maldito ciúme. Se acha que Calum vai ser assassinado ou algo do tipo, mova você o seu rabo pra fazer alguma coisa. Eu tenho que trabalhar."

"Se ele for assassinado, vai se sentir culpado por toda a eternidade, Michael Clifford."

"Vou correr o risco."