XLĪ

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A alegria e o sofrimento são inseparáveis como compassos diferentes da mesma música.

Hermann Hesse

— Eu preciso saber como ela está! Por favor... — pedi para a senhora que estava sentada escrevendo, ela respirou fundo para manter a paciência, e arrumou os óculos no nariz me olhando com tédio — Libera a minha visita, não vão me deixar entrar sem que você libere...

— Ela acabou de acordar, não sei se vai querer ver você, espere mais alguns dias, quando ela estiver bem você pergunta como ela está, sim? — sorriu com deboche voltando a escrever no papel.

— Ah, claro, muito útil. Obrigada! — revirei os olhos — Pergunte para ela então, tenho certeza que ela vai querer me ver.

— E porque ela iria querer me ver? — abri a boca sem saber oque falar, eu não podia revelar o motivo pelo qual ela iria querer me ver.

— Bom... Porque nós duas enfrentamos aquilo juntas... Vimos a morte de frente — ela cerrou os olhos na minha direção, com um olhar desconfiado.

— Amanhã, quando for até a enfermagem ver ela, irei perguntar se ela quer te ver, se sim você entra se não você volta para seu quarto e não me incomoda mais — concordei feito uma boa moça inocente com um sorriso largo no rosto — Agora volte para o refeitório antes que eu chame alguém para te arrastar até lá! — novamente concordei na direção da irmã Ofélia e sai de lá, saltitando feito uma criança que havia acabado de ganhar doce.

Eu estava morta de preocupação e saudades de Camila, não era para menos, desde de que me levaram para a enfermaria eu não a vejo. As coisas ocorreram como Camila disse que ocorreriam, irmã Mary foi presa, claro que nada ai da era definitivo, as investigações ainda estavam acontecendo, mas ao que tudo indica, as coisas dariam certo, ela realmente saiu gritando que eu e Camila éramos as assassinas e que tínhamos um caso, mas ninguém acreditou, tinham sido encontrado sangue e carne da vítima identificada como Damien Colmez nas unhas delas. E a história de Camila era perfeita, não tinha nenhum espaço para questionamentos e tudo se encaixava, ela disse que irmã Mary havia se oferecido para fazer o suco com sanduíche que Camila sempre levava para o enfermeiro Mendes, e não é necessário dizer o que havia sido encontrado no suco, o remédio para dormir que Camila havia colocado para o enfermeiro não acordar durante a noite. Eu confirmei a versão dela, irmã Mary havia ido me buscar de madrugada na minha sala, estava atordoada e me pedia para seguir ela que alguém tinha sido ferido, eu estranhei mas mesmo assim, preocupada com ela, a segui, quando cheguei até a parte subterrânea da madhouse fui atacada por ela. E quando acordei encontrei Camila brigando com ela, eu a ajudei a imobilizar irmã Mary e depois as coisas seguiram como na versão verdadeira. Eu estava feliz por estar viva e por Camila também estar, mas mesmo assim era uma puta sacanagem eu não poder ver ela, perdi a conta de quanto tive que insistir para irmã Ofélia me dar essa resposta positiva. Eu só esperava que Camila realmente estivesse bem, a única coisa que me manteve acordada mesmo com a dor do corte na minha cabeça e com toda a situação que eu havia passado, foi ela, tinha que estar acordada para saber como ela estava, mas assim que me colocaram um curativo e viram que eu não corria perigo de vida, me mandaram de volta para meu quarto, enquanto eu só queria segurar a mão de Camila, ela recebeu vários pontos no corte, por sorte a faca não atingiu nenhum órgão dela, mas foi por pouco. Ao chegar no meu quarto eu pude respirar aliviada, finalmente as coisas estavam um pouco mais tranquilas, os pacientes da madhouse poderiam viver sem medo de morrerem aqui... Embora eu não saiba se isso é algo bom ou ruim, viver em Howard.

...

Eu andava em círculos na frente da enfermaria, já havia acabado com todas as minhas unhas, mais um pouco eu conseguia fazer um buraco no chão de tanto andar. Não dormi a noite inteira, me rebati na cama mas não consegui dormir nem por um segundo, estava ansiosa para ver Camila, foram quase quatro dias sem ver ela.

— Ei — me virei encontrando irmã Ofélia, ela estava com sua típica expressão de ranzinza — Pode entrar — fez um sinal com a cabeça, pude soltar o ar aliviada, por um momento tive medo que Camila não quisesse me ver. Sem esperar mais nem um segundo eu passei pela porta podendo ver Camila no fundo da enfermeira, ela estava sem sua roupa de freira, os cabelos estavam soltos e ela vestia uma camisola larga branca, ainda podia ver os indícios da briga que ela teve com irmã Mary, seu rosto ainda não estava completamente curado — Não a perturbe muito, e também não demore. Vou esperar lá fora — irmã Ofélia disse sem nenhuma vontade e sem falar mais nada se virou saindo da enfermaria. Não estava sozinha com Camila ali, havia mais dois pacientes em duas das camas que ficavam enfileiradas ali, separadas só por um pano fino e também havia enfermeiros andando lá. Camila estava me olhando fixamente, eu sorri na sua direção e caminhei rápido até lá, logo cheguei lá, e me sentei na ponta da cama.

Oi.

Oi — respondeu, eu sabia que não poderíamos ter muito contato físico, mas só por olhar ela, ver ela respirando e bem ali, já estava feliz — Você está bem?

— Sim, e você?

— Estou viva. Achei que viria me ver antes.

— Eu queria, mas só agora Irmã Ofélia liberou minha entrada — deu de ombros com um sorriso de lado — Estou tão aliviada por te ver bem.

— Digo o mesmo para você, quando perguntei sobre você só recebi um "ela está viva" — imitou a voz da irmã Ofélia, me fazendo rir e rindo, mas logo gemeu de dor, provavelmente pelo movimento da barriga.

— Cuidado Camz, você não pode fazer esforços!

— Eu sei... Temos quanto tempo?

— Não sei ao certo, mas pouco.

— Logo vou poder sair daqui, provavelmente amanhã ou depois de amanhã — sorriu — Mas queria conversar com você antes, não podia mandar irem chamar você, irmã Ofélia iria desconfiar de algo do jeito que é... Na verdade acho que já está desconfiada... — riu baixinho.

— Imaginei que iria querer — disse com um sorriso sem mostrar os dentes.

— Você quase me matou sua filha da mãe! Achei que realmente ia estar junto a Mary! Por Deus, Lauren, você a beijou! — fechei os olhos com uma careta me lembrando disso, foi o pior beijo da minha vida, aquela língua áspera e dura dela revirando minha boca foi a pior sensação.

— Não me lembre disso.

— Fiquei com tanta raiva... — meu sorriso se alargou ao ouvir isso.

— É?

Ah... — tossiu sem jeito, com uma careta de dor — Não é sobre isso que quero falar... Imagino que saiba do que se trata... — concordei com a cabeça olhando para minhas mãos envergonhada — Só quero uma resposta, Lauren, não quero acreditar na qual recebi olhando nos seus olhos, é verdade o que ela disse lá?

— ... É - Camila fechou os olhos com força, respirando fundo. Ficou um bom tempo em silêncio, até que abriu os olhos para me olhar — Me desculpe... Mas as coisas mudaram... Eu...

— Eu entendo, entendo seu lado — soltou o ar com força — Como ela soube?

— Acho que ouviu eu falar com o anónimo...

— Falar com quem?

— O... Não sei qual é o nome dele... Era o homem que sempre estava na sala de reflexão... Um paciente...

— Você falava com o Damien Colmez? — franzi o cenho ao ouvir sua fala.

— Ele... Esse não é o nome...?

— Sim, o homem que estava morto quando chegamos lá era Damien Colmez, o assassino do canivete...

— O que?

— Ele matava suas vítimas após tirar toda a pele deles com um canivete, dai veio o nome — fechei os olhos com força ao ouvir isso — Embora nunca tenha assumido seu crime ao contrário dos outros Serial Killers que pareciam ter orgulho disso. Sempre defendeu sua inocência — revirou os olhos — Matou tantos e morreu nas mãos de um monstro como ele.

— Eu não acredito...

— Ele era perigoso Lauren... Estava aqui desde antes do tempo em que Riley era diretor... Não devia conversar com esse tipo de gente...

— Eu não sabia...

—  Eu sei que não. Damien Colmez era alguém cruel, nunca devia ter pisado no mundo.

MadhouseWhere stories live. Discover now